Caio César

Considerações sobre o incerto monotrilho do ABC

Dor e sofrimento É impressionante como a região do Grande ABC (oficialmente denominada Sub-região Sudeste da Região Metropolitana de São Paulo) parece gostar de ônibus e de carros. Não bastasse a subutilização do potencial da Linha 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), o projeto de uma linha de monotrilho relativamente curta e direta, passando por São Caetano, Santo André e São Bernardo, parece estar definitivamente ameaçado.

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Nova Política Estadual de Mobilidade Metropolitana é praticamente inócua

Introdução Saiu no Diário Oficial do Estado de São Paulo e também no site oficial do governo estadual: está promulgada a Lei Nº 16.956, de 21 de março de 2019, que institui em poucas linhas uma política de mobilidade inócua, que a partir daquele mesmo dia passou a afetar a vida de milhões de pessoas. Aparentemente feita sob encomenda, considerando o teor da lei e também as declarações do secretário de transportes metropolitanos, Alexandre Baldy, a Política Estadual de Mobilidade Metropolitana (a partir de agora abreviada como PEMM) falha em estabelecer um marco regulatório robusto, com vistas à promoção da intersetorialidade, da racionalidade, do fortalecimento da Emplasa (Empresa Metropolitana de Planejamento Sociedade Anônima, responsável pelo planejamento de toda a Macrometrópole Paulista), evidenciando que se trata apenas de um conjunto de dispositivos que visam favorecer parcerias público-privadas (as famigeradas PPPs).

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Nos EUA, privatização dificulta acesso à estação de trem

Contextualização Imagine que você precisou utilizar uma estação da CPTM na quinta-feira, dia 21/03/2019, mas que não conseguiu, porque a CPTM não é mais a dona do espaço, mas sim a Café Donuts. Estranho, não? Fica pior: o funcionário responsável pela abertura portas acabou se atrasando, seu trem passou e você se atrasou, impotente diante da situação. Parece piada e, mesmo num país cada vez mais virado do avesso como o Brasil, parece também um episódio altamente improvável, mas não só não é uma piada, como aconteceu de verdade e pode nos ensinar uma importante lição.

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Não faz sentido desistir do Expresso Leste

Introdução O Expresso Leste é um serviço da Linha 11-Coral (Luz-Guaianazes-Estudantes) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) que oferece a única ligação expressa sobre trilhos de toda a Região Metropolitana de São Paulo. Inaugurado em 27/05/2000, o Expresso Leste foi um divisor de águas na mobilidade da Zona Leste da capital, oferecendo um serviço regular e com trens refrigerados que permitiam ao passageiro pular duas estações entre Brás e Tatuapé e todas as estações entre Tatuapé e Corinthians·Itaquera.

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Concessão da Linha 7-Rubi: sobram dúvidas e incertezas

Introdução O conselho responsável pela gestão das PPPs (parceria público-privadas) aprovou três concessões envolvendo a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), entre elas, está a concessão do TIC (trem intercidades), ainda sem chamamento publicado, embora o governo pretenda fazê-lo ainda este ano. No caso específico da Linha 7-Rubi (Luz-Francisco Morato-Jundiaí), o atual governador João Doria (PSDB), garantiu uma ligação até Americana, porém, a promessa é ambiciosa e, desculpem-nos pela franqueza, pouco realista:

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SuperVia, recém-comprada pela Mitsui, reforça que não existem concessões milagrosas

A compra da SuperVia pela japonesa Mitsui não demonstra ainda quais serão os caminhos para sanar a dívida de mais de R$ 1,5 bi, que tem entre os credores bancos como Bradesco e Itaú, para não falar do imbróglio envolvendo a Light, que já chegou a pedir a falência da empresa. É difícil sustentar qualquer expectativa otimista, como parece ter feito O Globo ontem, 8 de março, em reportagem intitulada Japoneses da Mitsui fecham acordo de compra da SuperVia por R$ 800 milhões:

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Dinamização da CPTM no Alto Tietê

Introdução Uma vantagem de viver e pensar o transporte para além do extremo leste da capital paulista, é enxergar possibilidades que muitas vezes não aparecem nos grandes jornais. Numa visita recente a Itaquaquecetuba, voltei pensando em algumas possibilidades com relação à Linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), sem dúvida uma das mais judiadas e que passou por transformações significativas nos últimos anos, principalmente na primeira década de 2000.

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Vale-transporte em São Paulo sob ataque

As recentes alterações na política tarifária da capital paulista soam como verdadeiros ataques a uma classe trabalhadora cada vez mais precarizada. Bruno Covas e sua trupe anunciaram um decreto que contempla uma mudança no regime de integração do vale-transporte: 3 horas para embarcar em até dois ônibus, enquanto os outros bilhetes continuam permitindo o uso de até quatro ônibus durante 2 horas. Opto aqui por me abster de comentar as perfumarias para obtenção de receita tarifária que também foram incluídas no decreto, como a possibilidade de inclusão de publicidade nos cartões.

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O campo progressista só pode estar de brincadeira

Antes de começar, saliento que os debates sobre temas como passe livre e faixas exclusivas que, sem sombra de dúvida, possuem grande importância, seguem restritos, pior ainda, seguem sazonais, ocorrendo geralmente depois do incêndio, numa eterna e pouco frutífera corrida contra o tempo. O campo progressista (e a esquerda, principalmente), precisa colocar as mãos na cabeça e adotar uma postura mais pragmática, coesa e robusta em prol de uma agenda para a mobilidade na cidade.

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Trens-bala podem facilitar o acesso à moradia?

Prólogo Recentemente o CityLab abordou algumas questões interessantes envolvendo o trem de alta velocidade que está sendo implantado na Califórnia, costa oeste dos Estados Unidos e, particularmente, uma delas se destacou a meu ver: a possibilidade de reduzir os custos habitacionais ao colocar um trem-bala em funcionamento. Antes de tratar do casamento entre trens rápidos e moradia mais acessível, faz-se necessário contextualizar brevemente a atual situação dos trens regionais, comumemente chamados de trens intercidades pela STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos) e pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitano).

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Discutindo privatizações: o fracasso do Reino Unido e o sucesso do Japão

Recentemente o Financial Times decidiu abordar a polêmica questão dos serviços ferroviários privatizados do Reino Unido. Polêmica, pois a opinião pública (e também de certos veículos da imprensa, vide vídeo a seguir) tem crescentemente favorecido a renacionalização. Aparentemente a perspectiva ideológica de promover a competição, o que supostamente elevaria a qualidade e reduziria os preços, acabou provocando justamente o efeito inverso. Legenda: Reportagem do Channel 4 News intitulada “Por que os trens da Grã-Bretanha são tão ruins — a nacionalização poderia resolvê-los?

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Opção pelo financiamento coletivo reforça compromissos importantes

Recentemente expliquei que a maior parte do trabalho do COMMU é feito por uma única pessoa e, assim sendo, nada mais justo do que tentar recompensá-la, porém, algumas coisas não foram ditas e gostaria de esclarecer outros aspectos sobre a campanha de financiamento que está no ar. Uma coisa importante é que desde o princípio nós apostamos na plataforma Medium, que chegou a ter curadoria em português do Brasil e inclusive a destacar artigos nossos na época.

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Sobre assentos preferenciais, individualismo e falta de empatia

Transformar todos os assentos dos ônibus da SPTrans em preferenciais, eis o projeto de lei do vereador Ricardo Teixeira (PROS) que foi apresentado perante o Legislativo paulistano. O que chamou a atenção, no entanto, não foi a proposta. Os comentários negativos não foram poucos, alguns em tom de chacota ou depreciando a velhice alheia. Mesmo se nos restringirmos ao tipo de manifestação que foi feita na nossa fanpage, teve de tudo: compartilhamento com sarcasmo, usando a frase “pau no c* de quem trabalha”; gente dizendo que é melhor ter ônibus separado para os idosos, “eles que esperem o deles”; além do ceticismo impessoal: “se todos os assentos forem preferenciais, então mais nenhum é”, “todos vão fingir que estão dormindo”, “era pra ser assim sempre, mas não dá certo, vai sair briga”.

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CPTM testa viagens diretas entre Luz e Estudantes: conferimos e aprovamos!

Ontem, 25, fizemos uma visita na Linha 11-Coral para conferir de perto a operação direta entre as estações Luz e Estudantes, sem necessidade de transferência na Estação Guaianazes. Apesar de alardeado pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) nas redes sociais e também nas estações, o teste parece ter surpreendido passageiros, a julgar pelos comentários e olhares de alívio que pudemos perceber durante a viagem. #Informação Nos dias 25 e 26/01, das 4h às 21h, os trens circularão no trecho entre Luz e Estudantes, sem necessidade de transferência na Estação Guaianases 🚅 pic.

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Estadão defende reajuste e opta por escamotear discussão envolvendo fontes de financiamento

Prólogo Em um editorial pouco surpreendente, o jornal O Estado de S. Paulo defendeu a postura do prefeito Bruno Covas, argumentando que o aumento da tarifa é uma decisão que “corresponde aos interesses dos paulistanos” e que houve “sensatez e realismo”. Para nossa infelicidade, o editorial não passa de uma sucessão de erros que reproduzem uma opinião rasa e pouco comprometida com o bem-estar dos passageiros e passageiras do transporte público.

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Está no ar a campanha de financiamento coletivo do COMMU

A partir do último sábado, 05/01/2019, passou a ser possível apoiar as iniciativas do COMMU via crowd funding (financiamento coletivo). Estou ansioso para tentar chegar mais longe e continuar na ativa. Com o agravamento da crise econômica e as experiências adquiridas desde 2014, ficou evidente que o COMMU depende principalmente de uma única pessoa (ou seja, eu, Caio César) para quase tudo. E o quase tudo, quando colocado na pontinha do lápis consome tempo, saúde e dinheiro.

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Não há uma resposta simples para a mobilidade na Zona Leste de São Paulo

No último domingo, 06/01/2019, um leitor fez uma intrigante pergunta numa publicação do COMMU no Facebook: Será que algum dia o problema de mobilidade da ZL será resolvido? Outras áreas da cidade precisam de transporte rápido sobre trilhos e não dão a mesma atenção! Como mencionado em uma reportagem do Portal G1, a Zona Leste da capital “reúne quase 4 milhões de habitantes, mais do que países como o Uruguai, com 3,5 milhões”.

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Reajustes tarifários recém-anunciados não estimulam discussões sobre fontes de financiamento

Introdução Sem delongas, gostaria de recuperar argumentos que foram publicados no passado e podem nos ajudar em mais um momento de contagem moedas e aperto no orçamento. Sei que a população já está reclamando dos reajustes, contudo, o papel do COMMU é formar consciência crítica. Sem consciência crítica o nível do debate não sobe e as reclamações perdem força muito rapidamente. O primeiro artigo que quero recuperar foi publicado pela sucursal brasileira do think tank WRI, intitulado “Além das tarifas: fontes alternativas para financiar um transporte coletivo de qualidade”, o artigo sumariza pontos de um evento que contou com a presença de dezenas de pessoas do setor de mobilidade urbana.

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Privatização da CPTM e do Metrô não é mais uma questão de “se”, mas sim de “quando”

O sinal já foi dado Com a posse de João Doria (PSDB), o governo paulista fruto das últimas eleições começa a mostrar a que veio: a assinatura de um projeto de lei para extinguir, fundir ou incorporar a Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), a Companhia de Processamento de Dados do Estado (Prodesp), Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS), Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), Imprensa Oficial do Estado São Paulo (Imesp) e a Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo (Codasp), demonstra que não existe nenhum bom motivo para que ignorarmos os riscos impostos pelos ideais desestatizantes que ficaram claros durante o período eleitoral.

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Comércio ambulante merece “tolerância zero”?

A ideia de uma política do tipo “tolerância zero” aparece comumente quando a questão do comércio ambulante é abordada. Obviamente, existem nuances e nem todos que são contrários acreditam, necessariamente, que o combate ao comércio ambulante deve ser pautado a partir de uma perspectiva punitivista. Recentemente veio ao meu conhecimento a agressão de um agente de segurança (BAZANI; MARQUES, 2018) da Companhia do Metropolitano de São Paulo (oficialmente abreviada como METRÔ, abreviada aqui por mim como CMSP).

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