Por Caio César | 26/01/2015 | 4 min.
Índice
Introdução
Desde 2010 tenho acompanhado pelo Twitter o transporte coletivo na Região Metropolitana de São Paulo, cheguei até mesmo a colaborar assiduamente mandando informações com hashtags e ainda hoje mando esporadicamente.
Mas…. ultimamente tenho pensado…
Será que o Twitter chegou no seu limite diante do papel desempenhado pelos coletivos?
Ando preocupado. É grande quantidade de perfis concorrentes, numa competição talvez sem sentido, em que a solidariedade e a colaboração parecem ter ficado de lado. No mínimo curioso, pois quando falamos de mobilidade urbana, de transporte público, com números superlativos de passageiros sendo transportados (e em alguns casos humilhados e maltratados) diariamente pela metrópole, solidariedade deveria ser a palavra-chave, mas não é.
Nas reuniões do Metrô, nas quais vários dos tuiteiros participam, o acompanhamento das questões é desanimador. Tudo é muito fragmentado e sem pouca organização efetiva. Os questionamentos não são planilhados pela estatal, não há acompanhamento, a prestação de contas tem clima de informalidade. É uma iniciativa louvável, mas limitada. Participo desde 2012 e tenho insistido junto ao Metrô numa mudança de formato. Muita gente para pouco tempo, sem metodologia de acompanhamento e avaliação.
Nós surgimos
O COMMU nasceu inspirado em associações de usuários que existem aos montes no exterior, nasceu também inspirado em movimentos que lutam por cidades que se preocupam com as pessoas e com a mobilidade. Identificamos um gap, uma lacuna.
O surgimento do movimento se deu em meados de junho de 2014, após várias discussões nos meses anteriores. Saiba mais sobre nossas motivações clicando aqui.
Sumarizando o problema com o Twitter
Vou tentar resumir o que tenho observado no monitoramento do Twitter até o momento:
- Muita informação repetida
- Muita informação é exatamente a mesma que pode ser obtida com os aplicativos oficiais ou com perfis oficiais, ou ainda, com perfis que replicam os status dos aplicativos sem intervenção humana
- As campanhas pela melhoria comportamental são em geral idênticas às oficiais ou repetem as mesmas mensagens que são dadas nos trens e nas estações
- Muitas das reclamações se repetem dia após dia, sem acompanhamento e sem qualquer perspectiva de mudança
- Algumas reclamações esbarram nas limitações do sistema, mas não há preocupação em conscientizar e convidar os descontentes para reflexão ou debate. É o caso da superlotação, da pouca abrangência da rede, do horário de funcionamento, das obras de melhoria e manutenção na CPTM, só para citar os principais exemplos
- Clipping (retransmissão de notícias) excessivo da cobertura rasa e indiferente da imprensa com blogs
Válvula de escape
Então fica o questionamento: é só isso que o Twitter pode fazer por nós que usamos transporte coletivo?
Há mais de dois anos o cenário praticamente não muda, até intrigas (algumas bastante infantis) já ocorreram na disputa por seguidores. O resultado foram pouquíssimas conquistas, pouquíssimas mesmo.
Tenho teorizado que o Twitter parece estar sendo usado como uma espécie de válvula de escape para alguns momentos de crise. É importante se manifestar na ocorrência de falhas, mas basta reclamar no Twitter, sendo que no dia seguinte não existe qualquer garantia de mudança?
A situação do Twitter hoje lembra um velho ditado popular:
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
A persistência tem suas virtudes: o relacionamento evoluiu um pouco, a imprensa até deu alguma atenção, mas foi suficiente para construir um processo de mudança, foi suficiente para dialogar permanentemente com as autoridades públicas que ditam os rumos da mobilidade e nossa qualidade de vida? Eu acho que não. Até que ponto a persistência justifica a estagnação?
Próximo passo
Temos tentado dar sinais de que é preciso ir além. E para ir além, é preciso esforço, mobilização, inteligência, planejamento. Talvez seja preciso admitir alguma parcela de culpa também.
Com união e organização, seria humanamente possível acompanhar os problemas usando o Twitter como “termômetro”, seria mais fácil de estabelecer reuniões menos vagas com o Metrô, além disso, reuniões mais sólidas com a CPTM poderiam ser tentadas. Oportuno dizer que ainda ficam faltando ações de diálogo permanente com a EMTU, a SPTrans e ainda órgãos de transporte em mais dezenas de municípios.
Concluindo
O convite à reflexão mais uma vez é colocado. Se o Twitter ajudou a conquistar algo no passado, hoje parece ter atingido um estado no qual blinda as empresas de transporte coletivo, ao servir como uma válvula de escape que reduz a criticidade dos problemas e limita a formação de uma consciência coletiva que busque, continuamente e organizadamente, dignidade no transporte coletivo e nas cidades.
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