Por Caio César | 14/02/2015 | 6 min.
Índice
Introdução
Se você nos acompanha no Twitter, já deve ter visto que pedimos sugestões de pauta, pois bem, recebemos uma e vamos tentar abordá-la.
@Commu_Oficial @Commu_Oficial Organizacao integrada dos dados GTFS de toda RMSP e abertos ao publico, 'a la @sptrans_ Cc @portalmobilize
— Rafael H. M. Pereira 🚡 Urban Demographics (@UrbanDemog) February 2, 2015
Vamos abordar brevemente o GTFS e mostrar como faz falta uma organização integrada.
Conceituando
É melhor conceituar as coisas para tornar as informações mais acessíveis a todos. Primeiramente: o que é GTFS?
Conforme o próprio Google explica, GTFS ou General Transit Feed Specification Reference, pode ser descrito da seguinte maneira:
A Especificação Geral de Feeds de Transporte Público (GTFS) define um formato comum para horários de transportes públicos e informações geográficas associadas. Os feeds GTFS permitem que as agências de transporte público publiquem suas informações e que os desenvolvedores criem aplicativos que consumam esses dados com interoperabilidade.
Ou seja, é uma proposta de formato para facilitar a troca de informações sobre sistemas de transporte. O GTFS é uma iniciativa que se relaciona, por exemplo, com o Google Transit. Se você já fez um trajeto no Google Maps, envolvendo um ou mais sistemas de transporte coletivo, então você testemunhou a iniciativa funcionando.
Tentando dar nomes aos bois
No caso da Região Metropolitana de São Paulo, funciona basicamente assim:
- Para a Prefeitura de São Paulo, a SPTrans envia dados da SPTrans;
- Por algum motivo, a mesma SPTrans envia dados das linhas do Metrô e da CPTM, que são de responsabilidade do Governo do Estado;
- EMTU envia dados das linhas da EMTU, que opera linhas intermunicipais nas regiões metropolitanas;
- Para as outras prefeituras, não costuma haver envio de dados.
As informações da SPTrans têm ainda algumas lacunas, como podemos ver na imagem acima, em que uma estação integrada e intermodal (Brás) aparece como uma estação totalmente segregada. Também é no mínimo estranho que a SPTrans continue enviando informações do Metrô e da CPTM.
Acredito que não vale a pena entrar em detalhes sobre como o formato GTFS funciona, uma vez que o Google tem uma documentação bem razoável, enquanto isso, para os dados que a SPTrans envia, ela mesma desenvolveu uma API (Application Programming Interface) bem simples, tendo uma área voltada a desenvolvedores, na qual qualquer pessoa pode se cadastrar para entrar, ela é meio capenga ainda, mas dúvidas adicionais podem ser esclarecidas via correio eletrônico.
Perto da maioria das prefeituras, a SPTrans está na vanguarda.
Lacunas, lacunas por todos os lados
Como pontuado acima, uma grande dificuldade na Região Metropolitana de São Paulo é a falta de centralização, uma vez que nem todos os municípios enviam informações das linhas.
Pode passar batido em um primeiro momento, uma vez que a presença da EMTU provoca o surgimento de inúmeros pontos de ônibus ao longo do território, mas um olhar atento começa a evidenciar que na maioria das vezes, apenas linhas intermunicipais são exibidas. E quando falo em “maioria das vezes”, quero dizer, infelizmente, que praticamente nenhuma prefeitura está fazendo a lição de casa.
Mogi das Cruzes, na realidade, é um caso muito raro. A cidade não só tem as linhas integradas no Google Maps, como também possui um portal organizado. Numa única página, o usuário consegue horários, itinerários, traçados e paradas. Claramente integrado ao Google Maps, a prefeitura da cidade também disponibiliza uma ferramenta para buscar trajetos.
Em Santo André, recentemente o CittaMobi passou a ser disponibilizado, facilitando o uso em aparelhos com iOS e Android, outras cidades que usam o CittaMobi na Grande São Paulo são Diadema e São Caetano do Sul. Fora do CittaMobi, em Santo André, as informações são muito mais arcaicas, a prefeitura fornece um belo painel estático das linhas para consulta no site e a SATrans fornece itinerários em seu site também.
Barueri, assim como Jandira e Itapevi, tem como empresa operadora do sistema a Benfica BBTT, novamente, consultando o site da empresa, é possível escolher a cidade, a linha e ver os horários e o itinerário, sem qualquer facilidade adicional e, diferentemente de Santo André, não há um diagrama esquemático do sistema. Apesar da prefeitura de Barueri disponibilizar um aplicativo multifuncional que contém um ícone de ônibus, legendado “Plan. Transp. Mob. Urbana”, as funções existentes não dizem respeito aos coletivos:
É preciso colocar ordem na casa
A salada de aplicativos, sites e métodos para planejar uma simples viagem de transporte público, reforça como os desafios da metropolização ainda são subestimados. Em pleno ano de 2015, já deveríamos ter, em cada Região Metropolitana, uma iniciativa centralizada para reunir e fornecer os dados. As vantagens seriam:
- Universalização do Google Maps como ferramenta de planejamento de viagens em toda a Região Metropolitana;
- Ao universalizar o Google Maps, o desenvolvimento de aplicativos é facilitado;
- Facilidade de transparentemente reunir e fornecer dados sobre a mobilidade urbana em dezenas e dezenas de cidades;
- Potencial de maior sinergia entre Governo do Estado e prefeituras.
Quando dizemos que não há integração com o Google Maps na maioria dos municípios, evidenciando que não se utiliza GTFS, significa que:
- Itinerários das linhas são exibidos como texto, sem padrão definido, em uma ou mais páginas ligadas às administrações municipais;
- Tudo precisa ser consultado de forma lenta e cuidadosa;
- Planejar uma viagem pode ser trabalhoso, já que cada possibilidade existente precisa ser avaliada pelo usuário, tudo manualmente.
É importantíssimo que o tema seja abertamente explorado, na última Copa, por exemplo, diversas matérias foram publicadas alardeando que as cidades-sede passariam a contar com a facilidade, como podemos ver em matérias do G1, Exame e Estadão. E para variar… fim da Copa, fim da discussão.
Existem funcionalidades que ainda não são exploradas, mesmo na capital, geralmente ligadas aos recursos de Live Update. Explorá-las significa fornecer horários de partida e informar sobre restrições operacionais, de maneira uniforme, sem precisar reinventar a roda, como fazem, por exemplo, CPTM e Metrô de São Paulo ao reportar a existência de lentidão ou falhas.
Concluindo
Espero ter ido de encontro à sugestão e abordado o tema da forma mais conveniente possível, principalmente para quem é usuário e não se depara todos os dias com uma sopa de letrinhas do Google, mas enfrenta problemas devido a prefeituras que ainda não descobriram como fazer o fogo e insistem nas maneiras mais arcaicas de informar seus cidadãos.
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