Rio Grande da Serra, a estação e o descaso

Por Caio César | 21/02/2015 | 4 min.

Legenda: Placa da Estação Rio Grande da Serra
Na última sexta-feira decidimos fazer uma visitinha na Estação Rio Grande da Serra da Linha 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) da CPTM, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos

Fomos motivados pelo aniversário da estação, comemorado pela empresa no Facebook

Conforme podemos ver na rede social, a CPTM fez uma publicação comemorando o aniversário de algumas estações. O post foi feito no Facebook em 16/02/2014 e, entre as estações, está Rio Grande da Serra.

Diferentemente da vizinha Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra amarga um estado que beira o de abandono. A passarela está sendo apoiada por uma estrutura metálica adicional, além disso, não é só a estrutura metálica que parece ter risco de desabar, uma espécie de sala operacional, na única plataforma usada, está claramente cedendo.

Legenda: Passarela e parte da estação

É no mínimo vergonhoso ou estranho comemorar com o patrimônio apodrecendo. Vale mencionar que, por volta de 2007, a CPTM já aventava projetos de reconstrução da estação, sem esclarecer o que faria com o edifício histórico. Mesmo que se pretenda construir uma nova estação, dotada de cobertura em toda a plataforma, itens de acessibilidade e outras características presentes nas estações inauguradas nos últimos 10 anos, a estação existente hoje não merece se deteriorar, até porque, caso venha a ser repassada para o município, não há garantias de que este poderá assumir o custeio de uma reforma profunda.

A movimentação da estação nos últimos meses de 2014 foi a seguinte:

  • Setembro: 9.786;
  • Outubro: 9.778;
  • Novembro: 9.808;
  • Dezembro: 9.855.

Temos então uma média de 9.807 pessoas, obviamente, não é um número preciso, mas visa apenas dar uma ideia da movimentação da estação, aliás, para comparação, na mesma Linha 10, na Estação Mauá o número é de pouco mais de 40 mil, já em Santo André mais de 50 mil.

Legenda: Passageiros se preparando para embarcar no trem que acabara de chegar. Felizmente ou infelizmente (talvez para a CPTM), as quase 10 mil pessoas que usam a estação Rio Grande da Serra diariamente, pagam os mesmos R$ 3,50

De acordo com o processo número 8619110011, a CPTM homologou no final de 2012 o Consórcio Setec Hidrobrasileira / EBEI, pelo valor total de R$ 4.113.601,12. Atualmente no primeiro aditamento contratual, o objetivo do contrato é a elaboração dos projetos básico e executivos das estações Mauá e Rio Grande da Serra. Apenas com os projetos prontos é possível licitar e contratar uma empresa para executar as obras civis. Maiores informações podem ser obtidas aqui.

Soma-se então a falta de transparência com o desleixo que pode ser evidenciado ao utilizar a estação.

Outra coisa que pode ser mencionada é que existe uma passagem de nível na região. Para um sistema cujo papel de metrô é cada vez mais inevitável, com intervalos reduzidos e estações em maior quantidade, a passagem de nível é um atributo problemático. O drama só aumenta quando se verifica que o trecho é operado em acordo com a MRS Logística.

Conforme Marcos Kiyoto em sua tese Transporte sobre trilhos na Região Metropolitana de São Paulo: estudo sobre a concepção e inserção das redes de transporte de alta capacidade, publicada em 2013:

Cada vez mais as políticas do GESP buscam uma convergência das redes de alta capacidade, através das políticas de modernização, que visam aproximar a rede da CPTM à do metrô, principalmente do ponto de vista tecnológico, sem alterar sua inserção urbana. Como parte dessa política, em 2009 as linhas de trem metropolitano foram renomeadas se aproximando do padrão utilizado pelas linhas de metrô. Deixaram de usar letras e cores e passaram a usar um número (seguindo a numeração das linhas de metrô) e uma cor (baseada em algum minério).

Legenda: A plataforma que deixou de ser usada apresenta marcas de vandalismo

Distante dos grandes e ricos centros da metrópole, a CPTM se omite de seu papel no desenvolvimento regional, negligenciando o caráter estruturante que a ferrovia tem por excelência. Funcionando como uma colcha de retalhos, o contraste pode ser sentido em vários pontos da malha. Para Kiyoto, a rede da CPTM é caracterizada por extrema heterogeneidade:

De uma maneira geral, podemos caracterizar a rede de trens metropolitanos por uma extrema heterogeneidade. Seja no tocante ao material rodante, nas estações, seja aos serviços, a qualidade oscila entre níveis muito bons e extremamente precários com grande facilidade. São realizadas alterações somente em trechos curtos, algumas de grande vulto como as reformas na Estação da Luz, ao mesmo tempo em que se mantêm situações extremamente precárias como as estações Jundiapeba ou Capuava, edifícios antigos e mal conservados com travessias de nível para veículos e pedestres.

Mais do que zelar pela preservação do patrimônio, a CPTM precisa ser transparente nos projetos que elabora para o horizonte futuro das linhas que opera. Para cumprir seu papel com excelência, é preciso que a empresa não fragilize seu papel.




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