Uso da água e CPTM: mais polêmica nos trilhos da Grande São Paulo

Por Caio César | 06/03/2015 | 4 min.

Legenda: Torre reservatório de água na Estação Tamanduateí da Linha 10-Turquesa da CPTM
Com um cenário preocupante, a utilização da água passou a ser uma preocupação dos habitantes da Região Metropolitana de São Paulo. Na CPTM, a empresa responsável por operar o Trem Metropolitano, os banheiros foram fechados e a alegação geralmente é de falta d’água

Índice


Introdução

A CPTM opera uma malha com cerca de 260 km de extensão, cuja metade dos trilhos estão dentro da capital. Com 92 estações e cerca de 3 milhões de usuários se movimentando em média a cada dia útil pelos trens, é natural imaginar que algumas viagens são longas e que os banheiros são cruciais para garantir o mínimo de conforto (e até mesmo dignidade) para a parcela da população que depende do trem para se deslocar.

Recentemente tivemos alguns questionamentos ligados à Estação Poá, situada no Alto Tietê, sub-região Leste, Linha 11-Coral:

Outra reclamação foi feita numa matéria do Blog Mural da Folha de S.Paulo em fevereiro, da qual extraímos o seguinte fragmento:

Questionada sobre o problema, a CPTM não respondeu quais estações e linhas são afetadas e nem os horários de interdição, e se limitou a afirmar que “eventuais restrições em equipamentos são informadas aos usuários”. Também destacou a adoção de “medidas para incentivar o uso racional da água”, como a instalação de dispositivos nas torneiras das pias que permitem a redução do consumo.

Os comentários na página reforçam uma certa indignação dos opinantes e aqui é oportuno dizer: nossa parcela de culpa é inegável, tanto na luta por um melhor transporte coletivo, como também pela busca por cidades resilientes e sustentáveis, que façam boa utilização dos recursos naturais e tenham infraestrutura e planejamento para enfrentar crises.


Indo além do Twitter e da imprensa

Apuramos que as estações são dotadas de sistemas de captação de água. Algumas são construídas adequadamente para captar água da chuva e armazenar em torres, por exemplo, as estações USP Leste (Linha 12-Safira), Tamanduateí (Linha 10-Turquesa) e Estudantes (Linha 11-Coral).

É preciso mencionar que nem todas possuem sistema de tratamento, o que se deve ao ano de construção e inauguração, é também válido afirmar que não são as todas as estações possuem e/ou são adequadas para economizar água. Algumas estações também não possuem banheiros.

Fomos informados de que a pouca água que ainda existe e que chega às estações, é destinada ao uso pessoal de banheiros e refeitórios de empregados, bem como em ações de conservação das instalações em geral. Pela própria dificuldade provocada pela crise, algumas cidades enfrentam situações mais graves na distribuição de água, o que impacta vários bairros, incluindo o bairro que abriga a estação, por exemplo, o bairro Cidade Ariston de Carapicuíba foi notícia em veículos como o Estadão, localizado ao sul das estações Antônio João e Santa Terezinha da Linha 8-Diamante da CPTM, a falta de água já chegou a durar sete dias.

Legenda: Reservatório de água na Estação José Bonifácio; reservatório de água na Estação USP Leste (à direita) e detalhe da cobertura da plataforma com sistema de captação de águas pluviais, também na Estação USP Leste

Existem estações, como USP Leste (vide fotos acima) que incorporam boas práticas de sustentabilidade. Em dezembro de 2010, o Estadão publicava notícia intitulada “USP Leste deve ser primeira estação sustentável do mundo”.


Vilã bem conhecida: a falta de comunicação

Legenda: Aviso sobre interdição dos sanitários na Estação Carapicuíba da Linha 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) da CPTM

Um grande problema é que a CPTM insiste no fornecimento de respostas rasas, que são fornecidas apenas à minoria que busca esclarecimentos. A grande maioria dos usuários vai se indignar ao ler o cartaz, sem necessariamente utilizar o Twitter ou mesmo o Serviço de Atendimento ao Usuário.

Nos trens, não existe ainda uma programação de mensagens audiovisuais (nos trens que possuem equipamento de vídeo) que busque esclarecer sobre o problema. Campanhas na televisão então, nem se fala… a CPTM recebe bilhões de reais para realizar obras importantíssimas e não leva às massas, de forma que uma questão menor, definitivamente vai continuar na obscuridade. Mesmo campanhas em cartazes e na Internet são escassas e nenhuma nota de esclarecimento foi publicada no site até o momento.


Conclusão

Enquanto a comunicação da CPTM atuar com uma política da “mínima exposição”, a empresa será sempre tratada como omissa e incompetente, pois o usuário não será capaz de entender quais ações estão sendo feitas para solucionar o problema e muito menos terá subsídios ao longo do tempo, para que possa, por conta própria, refletir a respeito e tirar suas conclusões com uma quantidade razoável de informações.


Colaborações: Alesson Nascimento e Fernanda Melo Daniel



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