Por Caio César | 13/04/2015 | 11 min.
Índice
Prólogo
Até que a expansão da Linha 2-Verde (atualmente Vila Madalena-Vila Prudente) alcance a cidade de Guarulhos, a Linha 13 também será a única conexão sobre trilhos entre a capital e a segunda cidade mais populosa da Grande São Paulo. Trata-se, porém, de uma ligação que já nasce com evidentes limitações: a nova linha se conectará com o aeroporto justamente no terminal menos utilizado: o Terminal 4, escolha esta que reflete uma decisão do próprio aeroporto (a concessionária já prometeu uma espécie de monotrilho); para piorar a situação, não existe um horizonte de curto prazo para expansão da linha, que ficará confinada por alguns anos na Estação Engenheiro Goulart da CPTM, que está em reconstrução como parte do pacote de obras da Linha 13.
Engenheiro Goulart: a primeira barreira
Ao confinar a futura linha na Estação Engenheiro Goulart, sua atratividade será drasticamente reduzida. Exceto pelo Parque Ecológico do Tietê, cujo acesso só será facilitado com a nova estação, não existe nenhum outro atrativo, a estação fica numa área periférica da Zona Leste e os subcentros regionais mais próximos são Tatuapé (no sentido centro) e São Miguel Paulista (no sentido bairro), sendo que o acesso a eles, bem como a qualquer outra estação da rede de trilhos, exigirá que o passageiro utilize a Linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana), que por sua vez, termina nas proximidades do Largo da Concórdia, não chegando nem mesmo no Centro Velho.
Pensando conexões
- Acesso ao Centro Velho:
- Terminal 1 → Terminal 4 (13) → Eng. Goulart (12) → Tatuapé (11) → Luz (1) → São Bento (1);
- Terminal 2→ Terminal 4 (13) → Eng. Goulart (12) → Tatuapé (11) → Luz (4) -> República (4);
- Acesso ao Centro Novo:
- Terminal 2 → Terminal 4 (13) → Eng. Goulart (12) → Brás (10) → Tamanduateí (2) → Brigadeiro (2);
- Terminal 1 → Terminal 4 (13) → Eng. Goulart (12) → Tatuapé (11) → Luz (4) → Paulista (4);
- Acesso a outras centralidades:
- Terminal 4 (13) → Eng. Goulart (12) → Tatuapé (11) → Luz (1) → Paraíso;
- Terminal 1 → Terminal 4 (13) → Eng. Goulart (12) → Tatuapé (11) → Luz (4) → Faria Lima (4);
- Terminal 2→ Terminal 4 (13) → Eng. Goulart (12) → Tatuapé (11) → Luz (4) → Pinheiros (9) → Berrini (9);
Problemas imediatos
- Infraestrutura hoteleira deficiente, pois o Tatuapé permanece incipiente como centralidade de negócios (o hotel mais próximo da estação homônima não ficou pronto ainda e o segundo mais próximo não tem acesso cômodo);]
- Saturação elevada de todo o tronco ferroviário pesado da Zona Leste devido à pendularidade (muito lotado no sentido centro pela manhã, muito lotado no sentido bairro pela tarde);
- Falta de confiabilidade e previsibilidade nos acessos rodoviários existentes para a parcela que precisa utilizar vias como a Marginal Tietê, uma vez que a última obra realizada nela não considerou qualquer meio coletivo de transporte, sobre trilhos e/ou sobre pneus;
- Falta de operações especiais na Linha 12-Safira, o que significa que os trens superlotam em estações ainda mais periféricas e o embarque em estações como USP Leste e Engenheiro Goulart já é difícil hoje.
Repercussão
A Linha 13-Jade já foi mencionada em algumas notícias, como podemos observar nos seguintes exemplos: “Estação da CPTM em Guarulhos fica pronta no fim de 2014, diz governo”; “Trem da CPTM não atenderá passageiros do aeroporto, diz secretário”; “Trem da CPTM poderá atender passageiros do aeroporto, diz secretário”; “Viagem de trem da Paulista até Cumbica levará 1 hora e meia”. Além das notícias, uma propaganda oficial do Governo do Estado foi carregada no YouTube em 26/12/2013:
Planos e projetos
Inicialmente a CPTM previu originalmente duas ligações para o aeroporto, uma delas tinha caráter suburbano e outra tinha um caráter mais regional e perfil executivo. A Linha 13-Jade é a ligação suburbana, uma linha simples da malha de metrô da Região Metropolitana de São Paulo, enquanto a outra linha, chamada no passado de Linha 14-Ônix, seria a ligação expressa que partiria da Estação Luz mas que nunca saiu do papel, pois faltaram parceiros privados interessados e o governo, aparentemente mais preso a ideologias do que ao pragmatismo, deixou a linha, prometida há mais de dez anos, morrer numa gaveta qualquer após o fracasso do projeto Nova Luz.
Os planos para expansão da Linha 13-Jade já existem, mas os ânimos devem ser contidos até 2016, pelo menos. Num olhar otimista, poderemos ver algum progresso em relação ao tema por volta de 2020. Em setembro de 2013 o Governo do Estado anunciava intenções de expandir o atendimento na cidade de Guarulhos, conforme trecho da notícia “Governo diz que Linha 13 da CPTM irá além do aeroporto de Guarulhos”:
O projeto do novo trecho está sendo estudado. Ainda não há definição, por exemplo, do número de estações e do traçado. “A extensão é para o futuro. Porque o trem não vai entrar no aeroporto. O trem vai abraçar o aeroporto, ele vai dar a volta por fora em direção à Vila São João”, informou o secretário, que participou nesta manhã de um evento em Guarulhos. “Se a gente fizer essa linha uma concessão ou uma PPP [parceria público-privada], vai estar contida nesta PPP a extensão para a Vila São João”, afirmou.
Para se ter uma ideia de quão limitada a linha nascerá, a CPTM só prevê um incremento considerável na demanda de passageiros no quinto ano de operação, conforme podemos verificar no slide 18 de uma audiência pública:
E com relação às intenções de expansão da Linha 13-Jade dentro da capital paulista, a obscuridade do Governo do Estado exige um olhar atento a praticamente qualquer tipo de publicação que é lançada. Encontramos um mapa da rede futura para 2025 no Relatório de Sustentabilidade 2013 do Metrô de São Paulo, o qual expõe as intenções da CPTM para a Linha 13:
Mapas com previsões para o futuro da rede costumam sofrer mudanças regulares, ainda assim, são importantes para dar alguns indícios dos planos do poder público. Para a Linha 13-Jade, o otimismo em relação à expansão pode ser justificado pelo fato de existir espaço na faixa de domínio da Linha 12-Safira, ou seja, a implantação de estações em superfície, como a futura Tiquatira, importante pela conexão também futura com a Linha 2-Verde, não deverá impor grandes desafios à CPTM.
Em informações obtidas com base na Lei Federal nº 12.527/2011, o investimento total será de R$ 1,8 bilhão. O intervalo médio inicialmente previsto será de 8 minutos e poderá diminuir para até 3 minutos conforme a evolução da demanda, que está projetada para as estações da seguinte forma:
- Aeroporto-Guarulhos: 40 mil passageiros por dia;
- Guarulhos-CECAP: 36 mil passageiros por dia;
- Engenheiro Goulart: 76 mil passageiros por dia.
A CPTM também alegou que apenas ao fim do ano de 2015 será possível dar maiores detalhes das expansões. Com relação à intermodalidade Trem Metropolitano-ônibus em Guarulhos, a CPTM informou o seguinte:
A CPTM trata com a prefeitura local para a questão da integração. Esta só ocorre se houver interesse do município. Os estudos de remanejamentos de linhas municipais, obviamente, é de responsabilidade dos municípios.
A ligação expressa precisa sair da gaveta
Mesmo que a Linha 13-Jade já estivesse sendo construída até São Carlos, a antiga ideia do “Expresso Aeroporto” continuaria sendo necessária e, para piorar, precisaria ter o projeto refeito ou atualizado, não só pela própria expansão da rede, mas também pelas mudanças na dinâmica territorial da capital: não faz sentido, mesmo no caso de uma operação urbana drástica e “arrasa-quarteirão” na Luz ser bem sucedida, manter o expresso terminando no Centro Velho, é preciso que ele atinja alguma área do Centro Novo (preferencialmente na Avenida Paulista), bem como tenha estações no “cluster” de centralidades ao longo da Marginal Pinheiros (Faria Lima, Chucri Zaidan, Berrini e Vila Olímpia).
Como nossa malha é exígua e assim continuará por décadas, é melhor conceber um serviço mais complexo desde a modelagem, com duas classes e trens maiores, talvez emprestando alguns conceitos da RER (rede francesa de metrô regional, que também tem conexões com aeroportos e estações de trens-bala) e dos chamados “green cars” da Japan Railways.
Para auxiliar a Linha 13-Jade, uma ligação expressa com trens de 12 ou 10 carros, sendo 4 ou 6 carros de dois andares para a primeira classe com tarifa maior, parece ser uma opção interessante. É importante lembrar que a opção executiva atual da EMTU tem tarifa de exorbitantes R$ 42, além de ser totalmente refém de congestionamentos; uma linha classe única nos moldes da Linha 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú) também poderia existir na Marginal Tietê, conectando as cidades de Guarulhos e Osasco e servindo como mais uma ligação no sentido leste-oeste (em alternativa às linhas 3-Vermelha, 11-Coral e 12-Safira, além dos ônibus na Radial Leste e Celso Garcia), conectando pontos de interesse como Parque Anhembi, Parque do Piqueri — aqui talvez seja possível um serviço do tipo Ponte ORCA entre a estação do parque e a Estação Tatuapé, principalmente dependendo do ritmo de expansão e da demanda da rede — , Rodoviária do Tietê (com conexão à Linha 1-Azul) e Estádio da Portuguesa. O assunto de uma linha na Marginal Tietê foi abordado por nós em 06/04/2014.
Trens com ou sem bagageiro?
Outro detalhe é que alguns detalhes sobre o tipo de trem que vai operar na Linha 13 não foram esclarecidos, por exemplo, não é possível dizer se terá ou não algum tipo de bagageiro. Quando questionada em 2013, a CPTM ainda não dava informações precisas:
@CPTM_oficial o @Caio_Ortega quis dizer se vocês dispõe da info do tipo de trem que deverá ser utilizado na L13 de Guarulhos. Sabem dizer?
— Italo Silva (@italofalaeouve) June 3, 2013
@Caio_Ortega A CPTM está na fase final de análise dos recursos adm. apresentados para prosseguir com o processo licitatório da #L13.
— CPTM (@CPTM_oficial) June 3, 2013
@Caio_Ortega Após esta fase, oportunamente a CPTM divulgará novas informações sobre as obras e modelos de trem que atenderão a #L13. Grato.
— CPTM (@CPTM_oficial) June 3, 2013
Uma apresentação sobre a compra de oito trens de oito carros para a Linha 13 também não menciona qualquer local para bagagens. A apresentação permanece sendo listada no site da CPTM e pode ser baixada aqui. Apesar de não estar datada no site, a apresentação provavelmente foi usada na audiência pública anunciada no início de 2014 (vide Diário Oficial do Estado de São Paulo, 01/02/2014, caderno Empresarial, pág. 23):
A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos — CPTM, nos termos da Lei Federal nº 8.666 de 21 de junho de 1.993, COMUNICA a todos os interessados que estará realizando AUDIÊNCIA PÚBLICA para prestar esclarecimentos, colher sugestões e contribuições com vistas à AQUISIÇÃO DE 8 (OITO) TRENS FORMADOS POR 8 (OITO) CARROS CADA, que será realizada às 09h30 do dia 18/02/2014 no Auditório do Edifício Cidade I — Mezanino, localizado na Rua Boa Vista , nº 170 — Centro — São Paulo/SP.
Não foram encontrados registros da publicação de qualquer edital relacionado com a compra dos novos trens. A única notícia a respeito, para agravar a indefinição sobre a questão, é de 2012, nela Caio do Valle afirma que os trens terão bagageiro. A CPTM foi questionada novamente pelo Twitter, mas até o momento nada informou.
@Commu_Oficial Olá, estamos verificando a informação.
— CPTM (@CPTM_oficial) April 6, 2015
Falta de transparência, marca registrada da CPTM
Outro aspecto que merece menção é que, apesar da resposta dada no Twitter, a CPTM não criou nem mesmo uma área no site para a linha, também ao contrário do que o Metrô e a EMTU têm feito, a CPTM não disponibilizou qualquer vídeo das obras até hoje. Se você contribuinte desejar acompanhar o progresso, precisará fiscalizar as obras pessoalmente ou, se tiver a sorte, contar com a boa vontade de outras pessoas, como podemos ver no vídeo abaixo:
Atualização: na altura da publicação do artigo, de fato não havia uma área do site dedicada à linha. Com o novo site da CPTM, alterações foram feitas. Consulte aqui a página dedicada à Linha 13.
Conclusão
Infelizmente a Linha 13-Jade nasce com sérias limitações, dependendo excessivamente da Linha 12-Safira, o que lhe atribui pouca versatilidade em termos de conexões com a rede de trilhos, além disso, tem horizonte de expansão nebuloso, que se agrava pela também nebulosa conectividade com os terminais 1, 2 e 3 do GRU Airport.
É lamentável que o maior aeroporto brasileiro possua a rodovia como único elo entre ele e a metrópole, mas é ainda mais lamentável que se desenhe uma linha tão tacanha para conectá-lo com a malha metroferroviária. A Linha 13-Jade nasce aquém das necessidades não só da capital paulista, mas também de Guarulhos e de outras cidades da Região Metropolitana de São Paulo.
O Governo do Estado demonstrou, mais uma vez, ser pouco visionário e ter um compromisso questionável com a busca por uma rede de alta e média capacidade de excelência.
Não temos dúvidas de que, para a imensa maioria, o impacto da Linha 13-Jade será muito pequeno, apesar dos quase R$ 2 bilhões que serão gastos para tirá-la do papel.
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