Por Ana Carolina Nunes | 25/07/2015 | 4 min.
A Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo e o Coletivo Metropolitano de Mobilidade Urbana manifestam aqui sua posição favorável à redução da velocidade nas Marginais Pinheiros e Tietê na cidade de São Paulo. Antes de tudo, somos a favor da vida. Se reduzir a velocidade dos carros é uma maneira de garantir que vidas sejam poupadas, e, com isso, famílias inteiras deixem de sofrer, não podemos ter outra posição senão apoiar tal medida.
Nós, que propomos uma cidade pensada para a integridade das pessoas e mais humana, apoiamos totalmente a redução da velocidade nas marginais, tendo em vista que estas vias são campeãs de colisões e atropelamentos na cidade. Nossa posição vai contra aquela sustentada por argumentos falaciosos que serviram historicamente para a política rodoviarista implantada na cidade.
Em 2014 foram perdidas 1.200 vidas no trânsito de São Paulo. Trata-se de um quadro inaceitável, agravado por um desenho da cidade que prioriza a fluidez dos automóveis em detrimento da integridade das pessoas. É por isso que medidas que diminuam a letalidade do trânsito são urgentes.
A redução da velocidade vem sendo adotada por cidades do mundo inteiro visando a maior segurança. Segundo estudo da organização WRI Brasil-EMBARQ Brasil, um pedestre que é atropelado a 60 km/h tem 20% de chances de sobreviver. Se o atropelamento acontece a 50 km/h, a chance de sobrevivência sobe para mais de 50%.
Sob o olhar do motorista do automóvel pode parecer que as marginais se tratam de vias totalmente segregadas, sem contato direto com a cidade. Entretanto, elas não são mais “rodovias”, iguais a quando foram concebidas no passado. Nas pistas locais, existem lotes lindeiros, entrada e saída de construções, pontos de ônibus e inúmeros locais de conversão e travessia. Além disso, as alças de acesso às pontes e viadutos, com a chegada de automóveis a partir de uma via em alta velocidade, oferecem perigo às pessoas que tentam atravessar os rios Tietê e Pinheiros a pé ou de bicicleta. Logo, a redução a 50km/h das pistas locais as torna mais compatível com as condições em que elas estão inseridas.
Vale lembrar também que os próprios condutores de veículos motorizados são vítimas das velocidades excessivas. É por isso que a questão de segurança viária tem que ser tratada como um problema de Estado. Não se trata de uma competição entre motorizados e não motorizados, mas de uma medida para preservar a vida de todos.
Apesar da estratégia de medo espalhada por alguns veículos de comunicação, estudos técnicos comprovam que a redução da velocidade contribui para a melhor fluidez do trânsito.
Estudos apresentados pela CET mostram que, com a redução da velocidade, a distância necessária a ser mantida entre veículos diminui, fazendo com que um veículo ocupe menos espaço e consequentemente aumentando a capacidade de veículos trafegando ao mesmo tempo na via.
De qualquer maneira, a velocidade média de tráfego nas marginais não ultrapassa 15km/h nos horários de pico, atestando que o modelo de deslocamento centrado no transporte motorizado individual já está falido. É por isso que a fluidez dos carros não pode ser nossa baliza para determinar ações de mobilidade.
Outro argumento falacioso é o que acusa a existência de uma “indústria da multa”. Na realidade, o número de multas ainda é muito ínfimo diante da quantidade de infrações impetradas por condutores de veículos motorizados. Nós, que andamos a pé e de transporte público pela cidade, conhecemos bem os perigos aos quais as pessoas estão expostas devido à imprudência dos condutores. Muitos desses maus comportamentos são perpetuados justamente porque impera a impunidade entre os condutores. Deixamos aqui, portanto, nosso apelo para que aumente a fiscalização no trânsito.
Portanto, nós da Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo e do Coletivo Metropolitano de Mobilidade Urbana, prestamos nosso apoio às medidas de redução de velocidade aplicadas às marginais. Essa e quaisquer outras medidas que privilegiem a vida de todos em relação à pressa de alguns, garantindo a segurança nos deslocamentos urbanos, devem ser estimuladas para caminharmos rumo a uma cidade mais humana e justa.
COMMU - Coletivo Metropolitano de Mobilidade
Urbana
Cidadeapé - Associação pela Mobilidade a Pé em São
Paulo
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