Por Caio César | 17/08/2015 | 7 min.
Índice
Prólogo
A estação tem passado por um processo de anacronismo, relacionado por transformações não só nos serviços da CPTM, como também na região em que está inserida (Aldeia de Barueri). Antônio João, cada vez mais, mostra ser uma estação que estagnou e cujas formas e ambiente refletem uma realidade que há muito deixou de existir.
Cronologia
Acompanhe a seguir uma série de acontecimentos relevantes, todos a partir do novo milênio:
- 2003/2004: Inaugurado viaduto sobre a estação Antonio João, eliminado a passagem de nível existente;
- 2005: CPTM contrata estudos sobre Antonio João;
- 2006: CPTM contrata o escritório Costa Lima Arquitetura e a empresa Concremat para realizar um projeto de reconstrução da estação;
- 2007: em audiência pública em junho, a CPTM anuncia que vai licitar a reconstrução da estação no triênio 2007–2010;
- 2009: com um custo de R$ 30 milhões, a prefeitura de Barueri assina um convênio para custear as obras de reconstrução;
- 2009: a empresa CSU, ligada ao ramo de processamento de transações eletrônicas e contact center, inaugura sua unidade ao lado da estação Antonio João, sendo considerado o maior call center da América Latina;
- 2010: o prefeito de Barueri cancela o convênio pois queria que a CPTM investisse 30 milhões na reconstrução da estação Barueri a oeste da atual. A CPTM investiu cerca de R$ 14 milhões na reforma das instalações atuais;
- 2011: em novembro, é inaugurado ao lado da estação o parque Shopping Barueri, com 37,4 mil m² de área bruta locável, segundo o G1;
- 2012: CPTM contrata Engevix para refazer projeto da estação. EMTU projeta um terminal metropolitano (ligado a um BRT que ligaria a região de Alphaville com Cajamar) ao lado de Antonio João;
2014: empresa administradora do shopping elabora projeto de nova estação.
Panorama
Em 10/08/2015 fomos até Antônio João com o intuito de fazer uma breve avaliação.
A estação
Logo de cara, percebemos que o vão entre o trem e a plataforma é simplesmente imenso, em seguida, percebemos que a cobertura das duas plataformas existentes é exígua, sendo incapaz de cobrir metade do trem, ou seja, quatro dos oito carros que compõem cada trem que circula no trecho Júlio Prestes-Itapevi, depois, vemos que a estação permite a entrada de poucas pessoas ao mesmo tempo, já que foi dimensionada para uma demanda baixíssima, por fim, notamos que sua inserção é deficiente e que não há transferência entre os sentidos.
O edifício da CSU pode ser visto da estação, causando um misto de impacto e contraste, a estação parece simplesmente fora do lugar, perdida em nossa época, além disso, o aspecto da via permanente contribui, transmitindo desleixo por parte do poder público estadual. Com poucos seguranças presentes (todos terceirizados), não tivemos problemas em registrar as imagens.
Não fosse pela chegada da CSU, talvez Antônio João continuasse exibindo um certo ar bucólico, mas não se engane, com a chegada do viaduto, cerca de dez anos atrás, aqueles que nele transitavam passaram a ter uma visão privilegiada de empreendimentos corporativos na região de Alphaville, ou seja, já havia, pelo menos, um potencial para que Antônio João atuasse como uma espécie de hub (concentrador), com destaque para a intermodalidade (integração entre diferentes modos de transporte).
**Observação: ** escrevemos um artigo sobre intermodalidade em Junho de 2015, portanto, não deixe de conferi-lo aqui.
O entorno
O entorno da estação infelizmente tem problemas. O acesso ao viaduto é feito por uma escada metálica, que não tem uma aparência das mais simpáticas. A CPTM disponibiliza uma passagem de nível na estação, intencionada principalmente para utilização por deficientes físicos, que permite passar de um lado para o outro, o que remedia a situação de forma bastante precária.
Atualização (21/04/2016): a maioria acaba utilizando a passagem de nível, o que fica bastante evidente nos horários da maior movimento da linha de ônibus T245VP1 (Estação Antônio João-18 do Forte) da Benfica BBTT.
Vale notar que apenas em 2006 a Prefeitura de Barueri concluiu a pavimentação nas imediações do acesso localizado na plataforma sentido Júlio Prestes da estação:
Na Aldeia de Barueri, o bairro está recebendo os últimos serviços de conclusão das vias do novo Centro Empresarial, em frente à estação Antônio João da CPTM. A avenida General de Divisão Pedro Rodrigues da Silva foi ampliada e ganhou uma rotatória.
Não significa, porém, que tenha estabelecido uma ligação rodoviária margeando os trilhos. Tapumes e cones estão presentes. A lama deu lugar a uma avenida incompleta.
Na mesma rua do viaduto (General de Divisão Pedro Rodrigues da Silva), existe um semáforo que permite acesso ao Parque Shopping e ao ponto de ônibus situado próximo do centro comercial. Seu tempo de abertura e fechamento claramente prioriza o automóvel.
Notoriamente essa região continua não sendo projetada com o pedestre em mente. O pedestre perde um bom tempo para atravessar de um lado ao outro se agir corretamente, esperando o semáforo, além disso registramos casos de pedestres que se arriscavam para chegar mais rápido ao outro lado em meio aos carros em movimento. Para finalizar, na larga avenida não encontramos uma faixa exclusiva de ônibus ou mesmo uma ciclovia, o que não causou surpresa alguma, uma vez que os pontos de ônibus existentes são pequenos para a demanda gerada pelo polo de comércio e serviços que hoje se encontra instalado.
Atualização (21/04/2016): considerando a utilização “torta” da passagem de nível devido às carências infraestruturais da Estação Antônio João, a maneira mais fácil de acessar o shopping para quem chega sentido Júlio Prestes é cruzar a passagem de nível e utilizar a calçada da face da estação sentido Itapevi, seguindo em frente, pois há um segundo acesso do Parque Shopping Barueri para pedestres, que inclusive é coberto e iluminado.
Conclusão
A Estação Antônio João retrata perfeitamente os descompassos da CPTM na modernização dos serviços de metropolitano que atendem diversas localidades na Região Metropolitana de São Paulo.
Uma grande oportunidade permanece sendo negligenciada: a estação poderia servir como um hub intermodal na região, algo que fica reforçado com o projeto da EMTU para um corredor de ônibus intermunicipais do tipo BRT (Bus Rapid Transit), para tanto, é preciso reconstruí-la por completo, garantir um projeto integrado, que contemple integração com outros modos de transporte (como ônibus municipais e intermunicipais, além de automóveis, que poderiam ser deixados no local) e preze pela boa inserção naquele tecido, qualificando um espaço que transmita níveis superiores de conforto e dignidade.
Não podemos esperar mais dez anos para, novamente, sermos desrespeitados com mau uso do dinheiro público e ausência de providências.
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