Por Caio César | 25/01/2016 | 4 min.
Introdução
Quando falamos de mobilidade urbana, a palavra “descentralização” surge com grande facilidade, é muito comum desejar e encontrar pessoas desejando maneiras de reduzir seus deslocamentos e depender menos do transporte coletivo para o dia-a-dia, algo assim, teoricamente, aumenta o tempo livre e aumenta a liberdade para viver a cidade e ter uma vida mais saudável.
Eu tenho notado que existe, porém, um comportamento muito interessante: um morador do Centro Expandido, com bom nível de consciência política e não raramente já desfrutando de maior tempo livre devido à dinâmica da região, que concentra não só muitos postos diversos (ou seja, com diferentes níveis de qualificação) de trabalho, mas uma imensidão de equipamentos públicos e privados, defendendo a tal “descentralização”, porém, se o mesmo morador não sai do Centro Expandido e pré-concebe uma imagem do restante do município de São Paulo e também dos outros municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo (também chamada de Grande São Paulo), passa a existir, portanto, uma incoerência.
Multi-centralidade
Que o Centro Expandido tem um forte papel para a capital e a região metropolitana, não há dúvidas, mas é preciso dizer que mesmo São Paulo já possui, em alguma medida, um caráter policêntrico, marcado pela existência de mais de uma centralidade, cujo peso varia — Pinheiros, por exemplo, tem maior peso do que o Tatuapé na geração de empregos, além de apresentar uma maior diversidade de comércio popular.
Assim sendo, antes de falarmos em “descentralização”, é preciso pensar em qual significado queremos dar à palavra. Propõe-se difundir os empregos de maior qualificação, que geralmente estão abrigados em uma infraestrutura mais tecnológica (edifícios corporativos modernos) e acabam gerando um ecossistema ao redor (pequenos fornecedores, além de restaurantes, agências bancárias etc)? Se sim, talvez até faça sentido, entretanto e também do contrário, geralmente é melhor pensar no fortalecimento de uma São Paulo e Grande São Paulo policêntricas.
- As contrariedades na discussão de uma São Paulo policêntrica;
- Por que devemos lutar pela transformação dos subúrbios?;
- Uma melhor mobilidade urbana se faz com união;
- Os tropeços na reconstrução da Estação Antônio João;
- Estação General Miguel Costa e as múltiplas facetas da falta de infraestrutura.
É claro que, para um morador do Centro Expandido explorar a região metropolitana, ele precisará estar disposto a enfrentar tempos de deslocamento maiores, mas… não maiores do que aqueles que são observados por quem utiliza o transporte coletivo de massa (Metrô e CPTM) embarcando fora do Centro Expandido, ou seja, para ter uma experiência in loco, será preciso investir tempo e encarar entre 1h30 e 2h na ida e na volta; tenho certeza que para a maioria de nós que moramos fora do Centro Expandido, não é nada surpreendente gastar pelo menos 1h30 para chegar na maioria dos lugares badalados ou famosos da capital, como as avenidas Paulista, Faria Lima e Berrini.
Em 15/12/2014 o Diário de S.Paulo o Diário de S.Paulo publicou notícia intitulada “Passageiros passam 2h/dia no transporte público”, da qual extraio o seguinte fragmento:
Uma pesquisa apontou que passageiros de São Paulo e do Rio de Janeiro gastam em média duas horas por dia ao se deslocarem com uso de ônibus, metrô, trem, trólebus ou barcas. Foram entrevistadas 12.525 pessoas entre os dias 3 e 14 de novembro pelo aplicativo Moovit.
Dica: procure lugares equivalentes para estimular os deslocamentos, veja alguns exemplos: o comércio popular da 25 de Março é trocado pelo do calçadão no Centro de Osasco ou do calçadão em São Miguel Paulista; a gastronomia e boemia de Pinheiros dá lugar à do Tatuapé; o verde encontrado parque do Ibirapuera passa a ser buscado no Parque Ecológico do Tietê; o conjunto de centralidades de negócios ao longo da Marginal Pinheiros é trocado pela região empresarial de Alphaville Barueri.
Conclusão
A ideia foi fazer um convite para que antes de qualquer discurso sobre mudanças na dinâmica da Grande São Paulo, não deixe de buscar explorá-la, seja para desfrutar de lugares diferentes e sair da “bolha” do Centro do Expandido da capital paulista, seja para vivenciar partes importantes do sistema de transporte, que de outra maneira, não seriam conhecidas e permaneceriam como traços e pontos nos mapas.
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