Precisamos falar sobre o Expresso Leste

Por Caio César | 31/01/2016 | 8 min.

Legenda: Trem do Expresso Leste na Estação Dom Bosco
Única ligação expressa da Zona Leste e com quase 16 anos de existência, Expresso Leste segue repleto de limitações e descumprindo antigas promessas e anseios

Índice


Introdução

Com a inauguração da Estação Suzano sendo adiada pela nona vez — a promessa agora é entregá-la em fevereiro/2016, embora o contrato, que deveria durar 15 meses, tenha sido assinado em outubro/2010 — , é chegada a hora de cutucar um pouco a ferida do Expresso Leste, parte da Linha 11-Coral (Luz-Guaianazes-Estudantes) da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, a CPTM.

O Expresso Leste hoje é um trecho com 24 km na Linha 11, no qual o passageiro desfruta integralmente de trens com ar condicionado, baixos intervalos (nos picos, um trem a cada quatro minutos em média) e estações mais modernas, numa ligação paralela à Linha 3-Vermelha (Barra Funda-Itaquera) da Companhia do Metropolitano, sendo o único serviço expresso sobre trilhos da Zona Leste e também de toda a malha de trilhos da Região Metropolitana de São Paulo.

Legenda: Diagrama do Expresso Leste; Tatuapé e Itaquera contam com integração para a Linha 3-Vermelha liberada apenas em alguns horários

A diferença com relação à Linha 3 é imediata: a partir de Itaquera, o trens do Expresso Leste fazem parada apenas nas estações Tatuapé, Brás e Luz, sendo que esta última atualmente funciona como terminal, embora não seja uma estação adequada para tal finalidade (falaremos um pouco mais sobre isso na seção “São Paulo: poucas palavras sobre a Barra Funda”).


Alto Tietê: novas estações, velhas questões

Atualmente as estações do trecho outrora chamado de Banda B pela CPTM estão em reconstrução, algumas delas sendo reconstruídas do zero, caso da Estação Suzano, mencionada no início do artigo. A Banda B é a extensão da Linha 11-Coral, ou seja, o trecho que vem depois da Estação Guaianazes no sentido da Estação Estudantes

Legenda: Diagrama da extensão da Linha 11-Coral

O trecho Guaianazes-Estudantes, que conta com um serviço inferior ao oferecido no Expresso Leste, responde por 27 km dos 51 km da Linha 11. São oportunos os seguintes comentários a respeito de quatro de suas dez estações:

  • Guaianazes: inaugurada em 2000, foi construída pelo Metrô e não previa integração tarifária com os ônibus, se encontrando totalmente saturada e não contando com escadas rolantes e elevadores, apenas rampas;
  • Ferraz de Vasconcelos: foi a primeira estação reconstruída a ser inaugurada, após ficar anos em obras, assim como no caso de Suzano e as outras estações, os atrasos chegaram a três anos;
  • Calmon Viana: foi a primeira estação modernizada a ser inaugurada, em outubro de 2010, muito mais no contexto de transformação que a Linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana) vinha sofrendo do que numa ação realmente ligada à Linha 11-Coral;

Legenda: Estação Calmon Viana, única maneira de se transferir entre as linhas 11-Coral e 12-Safira no Alto Tietê
  • Suzano: será a maior estação da CPTM no Alto Tietê, sendo prevista a expansão da Linha 12-Safira até ela, de forma a reduzir a saturação da Estação Calmon Viana, que apesar de ter sido modernizada, permanece não tendo grande capacidade, inclusive, o projeto da nova Estação Suzano foi um dos vencedores do Prêmio AsBEA 2012, o que com certeza mostra que não estamos falando de uma estação qualquer.

A mudança no caráter das estações reduz o contraste entre o serviço prestado na capital pelo Expresso Leste e pela extensão da Linha 11 no Alto Tietê, por isso, é natural esperar mudanças nas viagens entre o Alto Tietê e a capital. Conforme divulgado pelo Via Trolebus em 29/01/2016, o presidente da CPTM já ventila a possibilidade de aumentar as viagens diretas:

“Foram adquiridos 65 novos trens, em dois lotes. Do primeiro lote, já recebemos nove trens, que estão em fase de testes. Dependendo da entrega dessas composições, vamos começar a incrementar a frota e avaliar a questão da ampliação do Expresso Leste. De imediato, estamos estudando um incremento de 10% a 20%. Mas está em processo de estudo”, disse o presidente da CPTM. Hoje o Expresso Leste opera com 24 viagens diárias em dias úteis, sendo 12 em cada sentido.

Contudo, é preciso ter serenidade antes de se animar com a possibilidade de não precisar baldear em Guaianazes, pois existem duas coisas que precisam ser pensadas hoje, além dos atrasos costumeiros e inaceitáveis:

  1. A CPTM pode enfrentar dificuldades em ampliar as viagens no município de Mogi das Cruzes, visto que a existência de múltiplas passagens de nível dificulta a operação de uma linha que já está com intervalos de metrô e tem previsão de intervalos ainda menores no longo prazo (e do antigo projeto “Novo Centro”, está em obras apenas o túnel na Praça Sacadura Cabral, na frente da Estação Mogi das Cruzes);
  2. As dificuldades em Mogi das Cruzes reforçam que a Estação Suzano nasce para ser terminal tanto da Linha 11-Coral, quanto da Linha 12-Safira, de forma que o serviço para Mogi das Cruzes operaria na forma de uma extensão operacional com apenas quatro estações (vale lembrar que no passado a CPTM chegou a propor a construção de uma linha de metrô leve, com o uso de bondes modernos, os chamados VLTs ou Veículos Leves sobre Trilhos, a qual não foi adiante).

Legenda: Trem originalmente fabricado na década de 1960 passa pelo local da passagem de nível da Estação Mogi das Cruzes; obras na Praça Sacadura Cabral para construção de um túnel que eliminará a mesma passagem de nível

Observação: a questão de Mogi das Cruzes é tão polêmica que chegamos a publicar um artigo apenas para rebater um tipo de perfil de morador: aquele que rejeita totalmente a presença dos trens na cidade, principalmente na área central.


São Paulo: poucas palavras sobre a Barra Funda

Nossas primeiras críticas à Estação Luz, realizadas no artigo “Março e a Estação Luz, mês de um aniversário inglório”, merecem novos reforços, pois há anos a levada do Expresso Leste para a Estação Barra Funda é ventilada, sem qualquer previsão de quando vai acontecer, ao passo que a Estação Luz segue como retrato do descaso, com uma infraestrutura essencialmente centenária, incapaz de ser terminal de qualquer linha de metrô (a estação foi concebida para ser de passagem e de trens de longa distância, não terminal serviços metropolitanos com milhares de passageiros desembarcando a cada 5 minutos).

Uma rápida pesquisa revela que o assunto não é novo:

Admito que no passado realmente faltavam vias entre a Luz e a Barra Funda para permitir uma utilização exclusiva (necessária para manter bons níveis de confiabilidade, além de viabilizar intervalos na casa dos 3 minutos) pelos trens da Linha 11-Coral, porém, obras foram realizadas e com a implantação de mais vias, que seguem subutilizadas desde então, as desculpas têm se voltado aos subsistemas de energia e sinalização, sem qualquer postura clara de quando deixarão de existir impeditivos.

A Estação Barra Funda, ainda que tenha uma infraestrutura que não envelheceu bem, é muito mais versátil do que a centenária Estação Luz, uma comparação seria simplesmente covardia; intervenções para melhorar a infraestrutura atual são muito mais fáceis e baratas, visto que não se trata de um imóvel tombado e ainda existem vãos no mezanino, espaços abertos sobre as plataformas que podem receber novas rampas de acesso, entre outras modificações visando melhorar o conforto e a capacidade da estação. Terminar a Linha 11 na Barra Funda pode significar, em conjunto com mais trens e uma redução nos intervalos, em um maior equilíbrio para a Linha 3-Vermelha, atualmente palco de humilhações diárias na Estação Brás, uma das transferências mais críticas entre os trens do Metrô e da CPTM.

Caso o Governo do Estado decida viabilizar o enterramento dos trilhos, também não seria exagero projetar uma expansão do Expresso Leste até a Estação Água Branca, futuro hub ferroviário de trens intercidades que ligarão a capital ao interior do estado, porém, dada a estagnação da questão, algo precisa ser feito ainda no médio prazo para garantir a segurança e o conforto dos passageiros, cujas vidas não são estáticas e não podem ser comprometidas pela ingerência do poder público.


Conclusão

É lamentável que o único serviço expresso existente tenha um horizonte de pouco otimismo pela frente. A participação social permanece aquém do ideal na CPTM, bem como a transparência. Com obras demoradas e injustificavelmente atrasadas (um atraso de três anos para inaugurar uma estação em superfície, com baixa complexidade em comparação com uma obra em subterrâneo, como no caso de Ferraz de Vasconcelos, simplesmente é inaceitável e inconcebível), o passageiro do Expresso Leste não tem qualquer garantia de um futuro melhor.

Reduzir intervalos, melhorar a atratividade da linha para reduzir as viagens que hoje estão sobrecarregando a baldeação na Estação Brás, oferecer mais serviços diretos para equilibrar a baldeação na Estação Guaianazes, expandir a linha até a Zona Oeste da capital de forma a melhorar sua conectividade e funcionalidade, tudo isso é básico e já deveria ter sido feito ou, no mínimo, estar em andamento com um cronograma público e rigorosamente cumprido.




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