Novo aeroporto em Caieiras: a CPTM está preparada?

Por Caio César | 14/02/2016 | 4 min.

Legenda: Trem da Linha 7-Rubi na região da Lapa, Zona Oeste de São Paulo
Em 05/02/2016 o portal EXAME.com disparou a notícia “CCR fecha compra em Caieiras e Cajamar para aeroporto”. Caieiras, na Sub-região Norte da Grande São Paulo, é um dos municípios atendidos pela Linha 7-Rubi da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), mas… será que a população que vive na cidade e utiliza os trens será beneficiada?

Índice


Introdução

Caieiras é um pequeno e jovem município, com 57 anos de existência, possuindo menos de 100 mil habitantes e uma área de aproximadamente 97 mil km² .

Com a notícia acima, como ficará Caieiras? Sendo a CCR a adquirente e vencedora para explorar o direito de operar um aeroporto, como fica a CPTM, sendo que a mesma empresa detém a concessão das rodovias Anhanguera e Bandeirantes?


Caieiras e a Linha 7-Rubi

A estação da cidade, inaugurada em 01/07/1883, marcou a história não só de Caieiras, mas também de Franco da Rocha, hoje outra cidade, mas naquela época apenas um distrito, sendo também parte da história dos primeiros anos da ferrovia que deu origem ao que hoje é a Linha 7-Rubi (São Paulo Railway), para se ter uma ideia do valor histórico percebido pelos órgãos de proteção do poder público, de acordo com a Secretaria de Estado da Cultura, todo o conjunto ferroviário de Caieiras é tombado.

Apesar de toda a história e até mesmo da intenção preservacionista contida no tombamento, é flagrante a necessidade de uma estação adequada ao atual papel da ferrovia, que hoje faz papel de metrô, numa ligação que, entre outras particularidades, é a única de toda a malha da CPTM a chegar no interior de São Paulo, cortando parte da Aglomeração Urbana de Jundiaí.

Legenda: Estação Caieiras (foto por Mauricio Malcher)

Mais do que uma nova estação, a chegada do aeroporto reforça a fragilidade da Linha 7-Rubi, não só no atendimento insatisfatório à atual demanda de passageiros, mas também ao pouco contribuir para racionalizá-la, além de estar quase desconectada do desenvolvimento das cidades da região.


A ferrovia não pode ser ignorada

Diante do contexto apontado e do potencial de geração de empregos e indução de desenvolvimento proporcionado por um terminal aeroportuário, passa a ser oportuno refletir sobre a importância de incluir a CPTM como uma das formas de acesso ao aeroporto, mesmo que seja preciso construir um ramal ferroviário ou ainda, um sistema de transporte dedicado para encurtar a distância entre a estação e o aeroporto, chamado de automated people mover (APM), encontrado em várias cidades do mundo, sendo comumente empregado para interligar aeroportos a estações com um ou mais serviços metroferroviários.

Legenda: Orlyval, people mover do Aeroporto de Paris-Orly (foto por Cyril Lescot)

É claro que a concessão rodoviária tem algum peso na escolha do terreno para a CCR, mas a empresa não atua num ambiente de isolamento político-legal.

Legenda: Estação Francisco Morato provisória, retrato dos tropeços na modernização da Linha 7

A CCR está sujeita às forças estatais que devem, para o bem-estar de todos nós, coordenar o planejamento urbano e regional, bem como a mobilidade urbana em em toda a Macrometrópole Paulista, cujo território foi descrito em informativo da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa) da seguinte maneira:

O território macrometropolitano abrange as quatro regiões metropolitanas institucionalizadas do Estado — São Paulo, Campinas, Baixada Santista e Vale do Paraíba e Litoral Norte –, as aglomerações urbanas de Sorocaba, Jundiaí e Piracicaba, além das microrregiões de Bragantina e São Roque. São 173 municípios que concentravam, em 2010, 73,3% do total da população paulista, 83,4% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual e 27,6% do PIB brasileiro –, além de abrigarem cerca de 50% da área urbanizada do Estado.

Consequentemente, é mandatório e indispensável que tão logo anunciada a localização do terreno, o Governo do Estado de São Paulo inicie um processo de diálogo para viabilizar a utilização da Linha 7-Rubi como uma forma de acesso ao aeroporto, mesmo que seja preciso estruturar um plano de investimentos, de forma a garantir as adequações necessárias.


Conclusão

A dinâmica imposta por elementos externos à CPTM continua apresentando novos desafios e reforçando que a malha da estatal tem importância e deve fazer parte indissociável de quaisquer esforços que venham a ser envidados pelo poder público no sentido de traçar planos e metas no âmbito do planejamento metropolitano, ao negligenciá-la, a má condução do programa de modernização, que afeta e penaliza milhões de usuários todos os meses, se fará sentir também na escala regional, prejudicando o desenvolvimento das regiões atendidas pelo Trem Metropolitano.

É nosso dever, enquanto moradores da Região Metropolitana de São Paulo e da Macrometrópole Paulista, bem como passageiros do transporte sobre trilhos, nos mobilizarmos e discutirmos com seriedade o assunto. Precisamos de união (e pra ontem)!




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