Por Caio César | 19/06/2016 | 3 min.
Minhas relações com a mobilidade a pé, ao menos nos últimos anos, têm se baseado numa perspectiva intermodal, que funciona basicamente da seguinte forma: caminhada + transporte coletivo (preferencialmente de alta capacidade) + caminhada, ou seja, eu saio da minha casa, caminho um pouco até um ponto de ônibus, embarco, sigo até uma estação da malha metroferroviária, embarco mais uma vez e depois volto a ser caminhante quando desembarco no meu destino, que pode estar a 10, 20 ou até 50 km de distância.
A relação que exemplifiquei acima me levou a uma reflexão sobre como temos disseminado ideias sobre caminhada num contexto metropolitano, ou ao menos, suficientemente multi-facetado para incluir múltiplas localidades, que são conectadas pelo transporte coletivo, elemento conferidor de dinamismo, ao funcionar como um meio de inserir pessoas dos mais diversos tipos e origens num determinado lugar. Quando pensamos nos lugares capazes de concentrar um público diverso a partir do transporte coletivo, com certeza os centros urbanos estarão no topo da nossa lista, seja pelo maior número de conexões existentes, seja por uma ocupação mais compacta do solo urbano, concentrando um grande número de equipamentos públicos e privados numa área, o que facilita os deslocamentos a pé.
Como temos feito ao longo dos últimos meses, voltamos aqui a reforçar a importância de que se desenvolva um olhar para as subcentralidades de maior relevância na Região Metropolitana de São Paulo, e que, acredito fortemente, acabam sendo esquecidas pelos grandes jornais baseados na capital paulista, ficando então restritas ao noticiário local, com recursos e alcance mais limitado. Tenho certeza que, ao se descobrir cada vez mais a importância de subcentralidades como Osasco, Tatuapé, entre outras, passará a existir um maior cuidado no momento de olhar para os centros dos bairros de nossas cidades, algo essencial para construir uma cidade verdadeiramente democrática e caminhável, embora as escalas de deslocamento existentes, sustentadas pelo tamanho e complexidade do território urbanizado, bem como a característica de longo prazo que é inerente a qualquer grande transformação nestes ambientes, continuarão justificando a necessidade do uso do transporte coletivo, que não só precisa melhorar, mas também ser fortemente lembrado e considerado quando da discussão da mobilidade a pé ao longo de toda a Região Metropolitana de São Paulo.
A Prefeitura de São Paulo, com seu projeto de implantação de uma área em São Miguel Paulista com limite de velocidade máxima de 40 km/h e urbanismo voltado à priorização do pedestre, sinaliza não só para a importância de São Miguel Paulista como subcentralidade na periferia expandida e extremo leste da capital, mas também sinaliza para a importância que o poder público ainda tem, principalmente na estruturação de políticas e discussões para regiões periféricas, o que exibe uma faceta bastante triste e preocupante, que pode revelar e/ou reforçar questões de classe, inclusive.
A construção de cidades mais democráticas, principalmente em ambientes complexos, como o existente na Região Metropolitana de São Paulo, passa, obrigatoriamente, por um intenso diálogo entre múltiplos atores, além de uma perspectiva bastante intermodal, que busca considerar as escalas de deslocamento existentes, de forma a evitar radicalismos e utopias que paralisam esforços, ameaçam a existência de regiões, dificultam a redução da desigualdade social etc.
O COMMU espera, mais uma vez, ter proporcionado uma reflexão oportuna. Não deixe de acompanhar nossas duas maiores publicações no Medium: Trens Metropolitanos e Metropolização em Debate.
Se você ainda não acompanha o COMMU, curta agora mesmo nossa página no Facebook e siga nossa conta no Instagram. Veja também como ajudar o Coletivo voluntariamente.
comments powered by Disqus