Por Caio César | 10/07/2016 | 3 min.
Tenho ficado assustado com o apreço pela estética que tem sido defendido. Parece-me ser um tipo de apreço classista, que não dialoga com as desigualdades e surge de impressões ainda muito preliminares e, portanto, pouco maduras. Ao invés de buscar entender a proposta das linhas e qual o público que se pretende atender, a discussão não avança além da polarização entre feio e bonito, que se mistura com o desejo de romper com o rodoviarismo que ainda recorta e molda cidades pouco humanas. Ora, se a questão não tem um mínimo de aprofundamento, como podemos esperar que sirva para romper com o rodoviarismo? No máximo teremos o velho conservadorismo de sempre, atentando contra qualquer tentativa de promover uma expansão mais veloz e mais barata da rede de transporte de massa. Atente-se: no passado já vimos ataques de conservadores à infraestrutura cicloviária, excelente ponte para transformações e mudanças de hábito, principalmente na escala local ou dentro de uma perspectiva intermodal, integrada a outros meios de transporte, e o monotrilho, ainda mais diante dos atrasos e problemas, todos dissociados da escolha (ou seja, de optar por uma linha de metrô baseada em monotrilhos, ao invés de trens maiores e mais pesados numa ferrovia convencional), não deixa de ser alvo.
Seria natural que o Centro do Rio e a região portuária fossem comparados de alguma maneira com, digamos, a região da Vila Cordeiro e adjacências (para o caso da Linha 17-Ouro) e todo o eixo da Anhaia Melo e Sapopemba (para o caso da Linha 15-Prata), até para pensarmos [nós, interessados e afetados pelo tema], de forma lúdica e ilustrada, nos erros e acertos, nas convergências desejáveis, mas não é o que tem aparecido por aí. Diga-se de passagem, não seria uma comparação das mais fáceis.
Estamos perdendo excelentes oportunidades de diálogo e de reflexão e, com isso, perdemos também força na luta por cidades mais humanas e, como também pouco tem sido dito, mais inclusivas. Cidades humanas não são meramente compostas por boas e belas calçadas, nem mobiliário urbano de primeira, muito menos metrô subterrâneo com mármore nas paredes, é claro que coisas assim podem ser belas, mas não têm sentido quando as pessoas e o território ficam em segundo plano.
Que fique claro: os monotrilhos em implantação pelo Governo do Estado de São Paulo são sim, problemáticos, mas precisam ser discutidos visando colocar um pouco mais de luz sobre questões como:
- O tipo de território em que estão inseridos; e
- Para qual deslocamento poderão ser empregados.
Mesmo o VLT da Região Metropolitana da Baixada Santista, em implantação pela EMTU*, acaba sendo esquecido nas comparações, o que só reforça a necessidade do apelo que você acaba de ler.
* A Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), é uma estatal bem conhecida daqueles que utilizam os ônibus intermunicipais presentes nas várias regiões metropolitanas que formam a Macrometrópole Paulista (MMP).
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