Por Caio César | 16/05/2017 | 5 min.
Índice
Introdução
Não, não tem problema reclamar ou elogiar a maneira como uma concessionária decide se comunicar, a questão a ser levantada é outra: numa linha que tem apenas seis estações funcionando e não tem nem 15 km de extensão, é de se imaginar que uma boa parcela dos usuários não residam nos arredores de estações como Fradique Coutinho ou Butantã, é de imaginar que uma boa parte dos passageiros tenham saído da periferia da capital ou então de outros municípios da Região Metropolitana, utilizando pra isso outro meio de transporte, como a Linha 7-Rubi (Luz-Francisco Morato-Jundiaí) da CPTM até a Estação Luz ou então a Linha 3-Vermelha (Itaquera-Barra Funda) da Companhia do Metropolitano até a Estação República.
Será que não tem nada mais importante para ser discutido quando o assunto é o transporte coletivo de uma metrópole tão complicada como São Paulo?
A nova musiquinha do metrô de SP está dividindo opiniões https://t.co/g1YlC0V3nb pic.twitter.com/ZenIAiMr76
— BuzzFeed Brasil (@BuzzFeedBrasil) May 8, 2017
Concessões
Mais importante do que um saxofone, são os os chamamentos para que a iniciativa privada possa manifestar interesse na concessão das seguintes linhas:
- Linha 15-Prata (atualmente Vila Prudente-Oratório);
- Linha 5-Lilás (atualmente Capão Redondo-Adolfo Pinheiro) e Linha 17-Ouro (ainda não opera);
- Linha 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e Linha 9-Esmeralda (atualmente Osasco-Grajaú).
Em todos os três casos percebemos que o governo coloca a necessidade fazer caixa acima da vida dos milhões de passageiros que dependem das linhas acima para sua mobilidade diária. Só no par 8-Diamante e 9-Esmeralda são aproximadamente 1.1 milhão de pessoas todos os dias, pessoas estas que, futuramente, poderão se deparar com uma operação privada por parte de empresas como a Triunfo ou mesmo a CCR, sem exigência contratual de contrapartidas, num horizonte de longos 30 anos.
Se em cidades como São Bernardo do Campo, os corredores de ônibus não andam, na capital pelo menos dois corredores de ônibus estão entre as 31 obras paralisadas na atual gestão, contrastando com a promessa de uma concessão milagrosa, cujo desdobramento até o momento foi prometer flexibilizar a concessão dos terminais de ônibus para que o espaço aéreo possa ser edificado, similarmente ao que o Metrô está tentando fazer. Claro, tudo com pouquíssima discussão com a sociedade civil, que parece mais preocupada com saxofones num arremedo de linha de metrô.
Atrasos
Mais impactante do que um jingle, são os inúmeros atrasos nas obras, que milagrosamente não parecem manchar a figura do governador. E os atrasos não estão restritos à Linha 4-Amarela, cujo consórcio originalmente responsável pelas obras precisou ser trocado por outro, mas a todos os sistemas de responsabilidade da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos. Para se ter uma pequena ideia, enquanto o texto é produzido, os mais de 30 mil passageiros que utilizam a Estação Suzano podem observar e desfrutar do acesso recém-inaugurado, embora ainda não tenham a tão sonhada nova estação operando plenamente (as demolições começaram em 2012). Mais de cinco anos se passaram e os habitantes de uma das principais cidades do Alto Tietê não podem colocar a cabeça no travesseiro sabendo que não precisarão encarar uma transferência torturante na Estação Guaianazes, no extremo leste da capital paulista.
Estações como Francisco Morato continuam no imaginário coletivo. Depois de uma trapalhada licitatória (questionada pelo Tribunal de Contas), os passageiros se veem obrigados a embarcar numa estação provisória que já comemorou diversos aniversários. E o pior: como ter certeza de que a CPTM tem recursos para colocar outro edital na praça? Projetos para a reconstrução de estações como Manoel Feio e Estudantes já estão prontos, mas é impossível saber quando e se, de fato, sairão do papel tal qual os conhecemos hoje.
Custeio
O sistema de ônibus da capital está cada vez mais dispendioso, na Grande São Paulo, poucas são as cidades que possuem algum tipo de integração tarifária. Pessoas tiram do próprio bolso a diferença. Pessoas são preteridas em vagas de emprego. Mas o saxofone na Linha 4-Amarela… nossa, aí é já é demais, não é mesmo? Lembrar que na Grande São Paulo apenas Barueri, Jandira e Itapevi têm um esquema bem mais ou menos de integração com o sistema de trilhos, pelo visto, não anda chamando tanta atenção.
Inclusive, sobre o assunto, uma reportagem de 2015 (sim, 2015) do Diário de Suzano mencionava:
Os prefeitos do Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat) vão cobrar do secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni, a implantação da integração tarifária entre os trens da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM) e ônibus municipais. O pedido faz parte de uma lista de cobranças que serão feitas durante reunião que será realizada amanhã, às 10 horas, na Câmara de Itaquaquecetuba. Além dos prefeitos das dez cidades e de Guarulhos, os deputados da região também deverão estar presentes.
Fica a pergunta: será que o assunto ou a reportagem do Diário de Suzano foi capaz de chamar tanta atenção quanto um saxofone que é utilizado para anunciar incríveis seis estações? Óbvio que não.
Conclusão
Enquanto o povo não nutrir um maior interesse pelas questões que tratam do ambiente urbano e da mobilidade, estará se arriscando a prestar mais atenção em “perfumarias”, ignorando problemas sérios ou construindo julgamentos rasos e perigosos, que podem inclusive legitimar uma escalada sem precedentes na precarização de sua condição de vida.
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