Por Caio César | 02/12/2017 | 8 min.
Índice
Prólogo
Numa linda tarde de sábado, 23 de setembro de 2017, passageiros se enfileiram num ponto mal sinalizado na região central de Itapevi. Esperam por um ônibus que conecta Itapevi a São Roque, passando pelo distrito de São João Novo. Trata-se de uma ligação que opera entre duas metrópoles: a de São Paulo e a de Sorocaba. Estamos numa espécie de “limbo institucional” e a EMTU não tem poder de atuação; a Artesp, responsável por fiscalizar o transporte rodoviário, é quem regula — de forma bastante frouxa, diga-se de passagem — o serviço.
Informações? Quase não há
Não podemos dizer o número da linha, pois não há nenhum. Não podemos listar aqui o itinerário, pois ele não foi divulgado oficialmente. Quanto aos horários, dispostos numa luxuosa folha de papel sulfite na rodoviária de São Roque, estes pelo menos podem ser consultados online no site Itapevi Notícias. Finalmente, podemos dizer qual é a empresa responsável pela linha: desde 2012 é Viação Piracicabana, enquanto no passado ela chegou a ser operada pela Expresso Regional.
Infraestrutura de conexão em Itapevi
O terminal de ônibus do município de Itapevi está reservado às linhas municipais, enquanto as linhas da EMTU utilizam um abrigo comum e outro estendido, localizados na Estrada da Roselândia. A linha da Artesp usa o abrigo estendido no retorno e que, felizmente, está localizado convenientemente próximo da Estação Itapevi. Na ida, um ponto de ônibus mal sinalizado no Centro de Itapevi é a única infraestrutura disponível.
Aqui precisamos de um parênteses, traçando um breve panorama da situação dos intermunicipais da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). A situação da EMTU pode ser considerada provisória, pois o Corredor Metropolitano Itapevi-São Paulo prevê a implantação de um terminal metropolitano, no entanto, como a própria estatal sublinha, a situação não é das melhores:
As obras no trecho de 5km entre as cidades de Itapevi e Jandira foram iniciadas em 2011, mas precisaram ser paralisadas por duas vezes devido a descumprimento contratual e falência das empresas contratadas. As obras foram retomadas no segundo semestre de 2015.
O trecho traz interligação com as estações da CPTM Itapevi, Engenheiro Cardoso, Sagrado Coração e Jandira, além da construção do terminal Itapevi.
Com a modernização da Estação Itapevi, entregue em 2010, a passarela original foi desativada e até hoje não houve solução. A travessia se dá em nível e sem prioridade semafórica, competindo com uma estrada de interesse macrometropolitano, que é utilizada por veículos (incluindo a linha de ônibus para São Roque) de Itapevi e cidades vizinhas da Sub-região Oeste, além de veículos da Sub-região Sudoeste (Cotia, Vargem Grande Paulista e outras cidades) e da Região Metropolitana de Sorocabana (RMS). A escada é de metal, transparece provisoriedade e também precariedade.
Se fôssemos resumir a intermodalidade Trem Metropolitano-ônibus, bem como a conexão do Trem Metropolitano com o centro da cidade, poderíamos dizer que ela é fragmentada, desconfortável e pouco eficiente.
O ônibus e algumas impressões sobre a viagem
Com acabamento ligeiramente mais pobre do que aquele exigido pela EMTU às suas concessionárias, o ônibus difere pouco: três portas, bancos duros (estofamento mais simples do que aquele comumente adotado pelas concessionárias da EMTU), sem ar condicionado. E diferentemente do que acontece com a Viação Jacareí e a Breda em Mogi das Cruzes, a Piracibana acabou passando uma imagem, digamos, mais institucional, com uma pintura inspirada naquela da EMTU que (pasme!) inclui até o logotipo da atual administração do Governo do Estado de São Paulo. Mas a tentativa para por aí, aparentemente. Uma fonte revelou que os ônibus usados naquela linha vieram da Baixada Santista, daí a identidade visual mais próxima da EMTU. Pura economia, portanto.
E caso você já esteja se perguntando sobre o valor da tarifa, ele é de surpreendentes R$ 4,40. Sim, surpreendentes, pois em Itapevi, Barueri, Mogi das Cruzes e tantos outros municípios, a tarifa dos ônibus municipais, que é única (ou seja, não varia), está em R$ 4,20. Aqui falamos de uma linha que é verdadeiramente suburbana, rompendo a fronteira do urbano e passando por áreas com ocupação esparsa e características mais rurais, o que exige aproximadamente 60–70 minutos em condições ideais. Em comparação com serviços intermunicipais da RMSP, parece até barato.
Sentado, a viagem é razoável, mas é preciso salientar que o ônibus encara a estrada com muito vigor, ainda que permita o transporte de passageiros em pé. Com a linha correndo paralela ao leito ferroviário, em alguns momentos correndo paralela e adjacente, fica claro que o uso do transporte sobre trilhos traria muito mais segurança e intuitividade, no entanto, ele foi sepultado com a incorporação da Fepasa pela hoje extinta e inventariada RFFSA, que por sua vez foi retaliada em concessões à iniciativa privada com foco no transporte de cargas.
Ao viajante, o olhar atento vai permitir a identificação de estações como: Santa Rita (em operação na extensão operacional da Linha 8-Diamante); Cimenrita (demolida durante a modernização da extensão operacional da Linha 8-Diamante) e; Maylasky (inoperante e ainda conservando as plataformas com degraus, usadas pelos antigos trens Toshiba em bitola métrica). A seção seguinte trata da extensão operacional da Linha 8-Diamante.
Por fim, o Cartão BOM é aceito como forma de pagamento. Pode ser considerado uma particularidade da operação da Viação Piracicabana, pois não há obrigatoriedade legal.
Infraestrutura em São Roque
Logo de cara há uma pegadinha por lá: os ônibus deixam os passageiros na rodoviária, mas partem de uma plataforma a poucos metros de distância. Usar o termo plataforma é quase um elogio, mas a prefeitura vai além, ela chama o conjunto das três plataformas de terminal intermunicipal e ainda o batiza homenageando alguma figura local. A rodoviária foi inaugurada nos tempos do governo Quércia, mas conta com banheiros públicos gratuitos, bancos e dois estabelecimentos comerciais, além disso, nas proximidades há uma farmácia e um mercado.
Esta operação fora do comum é adotada pelos suburbanos Artesp e também pelos intermunicipais da Região Metropolitana de Sorocaba.
Aqui cabe outro parênteses sobre os ônibus intermunicipais da Região Metropolitana de Sorocaba: com a chegada da EMTU em 2014 (conforme Decreto nº 60.865/2014), era de se esperar que as empresas da região já estivessem operando dentro do padrão de comunicação visual da estatal, mas a pintura dos ônibus ainda está bagunçada, além disso, era de se esperar que a EMTU pelo menos disponibilizasse um nível maior de informações, mas por enquanto isso ainda não aconteceu.
Considerações sobre a extensão operacional da Linha 8-Diamante
A extensão operacional, apelidada carinhosamente de “ferrorama”, foi reativada em 2014, dizem as “más línguas”, a contra-gosto, por motivos políticos e não técnicos. Ainda que sua existência seja defensável do ponto de vista da justiça social, sua falta de articulação com o território, a ausência de uma política tarifária mais cuidadosa e o atendimento ainda mais reduzido (supressão de duas estações), definitivamente não o são. A modernização realizada pela CPTM manteve o caráter frugal do atendimento.
Itapevi e São Roque deveriam compreender que a Viação Piracicabana presta um serviço insatisfatório, partindo para o lobby junto ao Governo do Estado para reversão do cenário atual. Os passageiros deveriam ter a opção de contar com um serviço ferroviário de caráter metropolitano, pois mesmo que institucionalmente exista um “vácuo” institucional entre as duas regiões metropolitanas no que tange à EMTU, continua se tratando de uma parcela da macrometrópole. São Roque, que já é turística, poderia ser beneficiada pela maior facilidade de acesso, além disso, os moradores da cidade e do distrito de São João Novo teriam uma opção mais barata e confiável para acessar a Região Metropolitana de São Paulo, seja para lazer, estudos ou trabalho.
Por fim, é preciso que Itapevi elabore um plano de desenvolvimento para a região da extensão operacional, o que inclui bairros como Amador Bueno, Ambuitá e Jardim Santa Rita. Já há, inclusive, algum desenvolvimento industrial às margens da SP-280, logo, nada mais natural que realizar adequações viárias para articular um sistema de ônibus circulares conectados à Linha 8-Diamante a partir de sua extensão operacional. Seria o mínimo do mínimo.
Conclusão
É difícil de acreditar que a ligação por ônibus sobreviveria como tem sobrevivido se a CPTM operasse até São Roque, infelizmente falta visão e vontade política. Tanto São Roque quanto Itapevi poderiam beneficiar-se do fluxo de turistas e, no caso da segunda, promover necessárias políticas de desenvolvimento socioeconômico, podendo se apoiar numa infraestrutura mais funcional do que a atualmente existente.
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