Praia na Região Metropolitana de São Paulo? Temos!

Por Caio César | 09/01/2018 | 7 min.

Legenda: Prainha do Riacho Grande, São Bernardo do Campo
São Bernardo do Campo, no Grande ABC, abriga mais do que montadoras automobilísticas, amplas avenidas e shoppings centers

Índice


Introdução

No Riacho Grande, moradores e visitantes podem desfrutar de um amplo deck de madeira junto ao passeio público, quiosques com mesas e cadeiras, restaurantes flutuantes e uma pequena faixa de areia, com algumas árvores complementando o conjunto. Trata-se da prainha, como é conhecido o local, cujo principal acesso não poderia ter recebido um nome mais apropriado: Avenida da Praia.

Assim como acontece com os bairros vizinhos da represa de Guarapiranga, o Riacho Grande também está situado numa área de proteção aos mananciais, sendo que a orla da prainha está às margens da represa Billings.


O caminho de ida

O acesso pelo sistema de ônibus municipais de São Bernardo do Campo é relativamente simples e os coletivos encaram a Rodovia Anchieta pouco depois de passar pela lateral do Terminal Metropolitano Ferrazópolis da EMTU, já que o acesso ao Riacho Grande se dá no km 29. São linhas como a 32A (Paço-Areião) e 30 (Rudge Ramos-Balsa) da SBCTrans.

Tornando o acesso ainda mais cômodo, o Riacho Grande conta com um pequeno terminal de ônibus, batizado de Tereza Suster, sendo possível caminhar tranquilamente entre ele e a prainha, já para chegar no Terminal Metropolitano Ferrazópolis, nada melhor do que os trólebus do Corredor Metropolitano ABD da EMTU. Clique aqui para conferir uma simulação do trajeto usando o Moovit (dica: considere apenas a indicação de linhas municipais, que possuem apenas dois dígitos e cujo itinerário pode ser consultado no sistema web do Partiu SBC).

Na visita realizada no sábado, 6 de Janeiro de 2018, o caminho adotado foi o seguinte: embarcar no ônibus elétrico da linha 286 que parte do Terminal Metropolitano Santo André Oeste da EMTU e desembarcar na Parada Djalma Dutra, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, a partir dali, bastou atravessar a avenida e acessar o ponto de ônibus do lado direito (lado par), localizado na frente da parada do corredor. Desembarcar antes do terminal Ferrazópolis vale a pena para encurtar o ponto de transferência e aumentar as chances de conseguir um lugar sentado.

Observações adicionais: a linha 286 tem tarifa de R$ 4,30, enquanto a tarifa da SBCTrans é de R$ 4,20. Moradores de São Mateus podem optar pela linha 285, também com tarifa de R$ 4,30. A parada Djalma Dutra é a próxima após a passagem pelo Terminal Metropolitano de São Bernardo do Campo.


Impressões

A Avenida da Praia é bastante agradável e sua pavimentação foi refeita como parte das obras de revitalização da orla, que contribuíram para disciplinar o estacionamento de veículos. A chegada na orla é acompanhada por uma praça, bem como um letreiro gigante com a frase “EU ❤ SBC”, um verdadeiro imã para fotos e selfies, com restaurantes flutuantes em embarcações ao fundo.

Legenda: Foto panorâmica da prainha, com três restaurantes flutuantes

A ocupação das mesas e cadeiras dos quiosques era considerável no dia da visita, mas a orla não estava superlotada, o que com certeza ajudou a tornar o passeio mais proveitoso. Em dias de shows, porém, o acesso ao Riacho Grande pode levar horas e o fluxo de pessoas aumenta consideravelmente. Veja a seguir um exemplo:

Em geral tanto o passeio quanto o deck estão em bom estado. A quantidade de placas informando sobre as condições impróprias de balneabilidade é grande, o que ainda assim não impede que alguns frequentadores entrem nas águas da represa. Há também passeios de lancha e pedalinho sendo oferecidos em alguns piers para quem tiver interesse.

Num primeiro olhar a orla pode parecer curtinha, mas ela se estende até uma espécie de palco (aparentemente ele estava parcialmente montado no dia da visita), localizado na frente de uma escadaria, na extremidade oposta à Avenida da Praia. Lá também há uma academia ao ar livre, um posto da Guarda Municipal e uma base da Polícia Militar.

Legenda: Fotos da prainha desde a Avenida da Praia

Foi possível sentar na escadaria e descansar por um bom tempo sem qualquer problema. Apenas um quiosque realizou abordagem oferecendo o cardápio e não havia muitos ambulantes. A quantidade de mesas e cadeiras parecia suficiente para o público daquele dia, sobravam lugares. Foram identificados salva-vidas e também uma viatura de resgate do Corpo de Bombeiros, além de placas da Prefeitura de São Bernardo do Campo, informando sobre o funcionamento da operação “Verão Seguro” entre 02/12/2017 e 18/03/2018.

A prainha do Riacho Grande é um complemento e tanto para os parques do Grande ABC, como o Celso Daniel, mencionado em reportagem recente da Folha de S.Paulo, além disso, ela pode ser incluída em roteiros que aproveitam a Vila do Doce em Ribeirão Pires, conforme veremos na próxima seção, “O caminho de volta”.


O caminho de volta

No dia da visita, optamos por realizar a volta a partir de Ribeirão Pires pouco antes do anoitecer, de forma a estender o passeio e chegar diretamente num município servido pelo sistema metroferroviário. Para tanto, bastou utilizar a linha 165 da EMTU, com tarifa de R$ 6,45.

A dica é se dirigir ao ponto de ônibus localizado na frente da UBS do Riacho Grande, na Avenida Antônio Caputo, pouco antes do Terminal Tereza Suster, mas atenção: o ponto, a UBS e o terminal são relativamente novos (2013 e 2014, respectivamente), o que significa que aplicativos como Moovit e Citymapper ainda não estão atualizados. Verifique aqui uma viagem simulada via Citymapper entre o ponto da UBS e Ribeirão Pires (ignore a primeira indicação de caminhada).

Chegando em Ribeirão Pires, é possível desembarcar no Centro Alto e acessar a estação da CPTM e o Centro Baixo via caminhada, como recomenda o Citymapper ou permanecer no ônibus e esperar até que ele faça uma bela volta pela cidade e termine a viagem no terminal rodoviário e turístico, que fica ao lado da estação, convenientemente integrado ao calçadão do Centro Baixo.

Por volta das 19h daquele sábado o Centro Baixo apresentava uma intensa movimentação de pessoas, sendo que a turística Vila do Doce, principal reduto gastronômico e boêmio do município, estava bem cheia.


Considerações finais

A maior parcela da população da capital paulista aparentemente nutre uma relação de distanciamento das áreas de proteção de mananciais, cuja pressão provocada pelo comportamento pouco racional do mercado com a industrialização às margens do rio Pinheiros se faz sentir até hoje, mesmo com a conversão do parque industrial, que deu lugar a uma série de edifícios corporativos. Conforme a tese “Manancial de contradições: o conflito entre o morar e as políticas de preservação” (página 14):

Quanto mais São Paulo cresce e se industrializa, mais a expansão periférica da cidade se intensifica. A expansão do urbano seguiu o padrão de relegar a população empobrecida as suas franjas. Esse processo tem uma particularidade importante em São Paulo, o urbano atinge áreas de mananciais. O urbano chega aos mananciais como um modo de vida, que se caracteriza nos loteamentos ou condomínios fechados, como uma lógica do viver segregado ou auto-segregado. A cidade não chega, necessariamente, em toda a área de mananciais, como expansão da área edificada, mas o urbano está lá, como modo de vida, como conteúdo.

(…)

O crescimento urbano desigual deixa as suas marcas e contradições nas paisagens. A represa que fornece água à cidade, é a mesma que recebe dejetos de conglomerados subnormais formados pelo processo de gentrificação.

O formato de ocupação predominante dos mananciais em território paulistano parece ter alienado seu papel ambiental e turístico. Aparentemente são identificados pela maior parte da população como bairros periféricos, sem atrativos, a capital, porém, inaugurou alguns parques nos últimos anos, como Guanhembu (2011) e o Shangrilá (2008), além de historicamente contar com o Parque Guarapiranga (1974).




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