Populismo eleitoral: Márcio França tenta prometer táxis pagos pela CPTM em caso de falhas

Por Caio César | 26/08/2018 | 3 min.

Legenda: Multidão prejudicada por falha na Linha 7-Rubi em 16/09/2016 se aglomera na plataforma. Gritos de alguns passageiros chamam a atenção de funcionários, que aparecem numa janela para observar o que acontecia
Mais uma proposta estapafúrdia ganha espaço com o período eleitoral. Precisamos rejeitá-la e pedir soluções sérias e definitivas

“Nós vamos estabelecer o seguinte, se o trem parou, você vai no guichê do trem da CPTM e vai pegar o valor para você ir de táxi. Azar da CPTM, porque a pessoa contratou o serviço”, disse o candidato, conforme reportagem do jornal Folha de S.Paulo. A mesma reportagem conta com falas de parlamentares que parecem ter maior razoabilidade, pois focam em causas-raízes ao invés de enxugamento de gelo aos trancos e barrancos e, pra variar, a palavra-chave é manutenção.

Se a CPTM tem dificuldades para realizar a manutenção das linhas, que geralmente é feita pela iniciativa privada por meio de licitações, como é que pagar táxi vai mudar o cenário? E mais: se um trem com quase 3 mil pessoas quebrar, a bilheteria vai ter uma fila de 3 mil pessoas? Vamos enfileirar mil, 2 mil, 3 mil táxis? E o mesmo para o próximo trem? E depois para o outro? Não vai ter táxi, não vai ter bilheteria, não vai ter sistema viário que dê conta. Será que não é óbvio?

Para se ter uma ideia dos custos do absurdo, mesmo com o projeto de lei do atual governador e candidato restringindo a indenização a 5 bilhetes (R$ 20), estima-se um custo de R$ 4,5 milhões por ocorrência. As informações também são do jornal Folha de S.Paulo. Ora, com 10 ocorrências constrói-se uma estação nova, inclusive nós temos várias delas pendentes: Bom Retiro, União de Vila Nova, Barcelona… para não falar da reconstrução de estações obsoletas, como Mooca, Utinga, Itaquaquecetuba, Estudantes, entre outras, a lista é grande. Além da indenização a CPTM teria de fornecer alternativas, o que, pelo visto, vai continuar sendo ônibus pelo PAESE (Plano de Atendimento entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência).

É preciso que os candidatos ao governo do estado entendam que a CPTM não é uma concessionária, mas sim uma empresa estatal que opera as linhas mais complicadas de toda a Região Metropolitana de São Paulo, tendo o desafio de modernizar o sistema para que ele seja refuncionalizado como uma espécie de metrô, enquanto a demanda segue subindo, já estando na patamar dos 3 milhões de passageiros em média por dia útil, logo, é preciso que o governo estruture uma série de ações com vistas a aumentar a resiliência da Companhia, como por exemplo:

  • Utilizar ao máximo a faixa de domínio, implantando vias auxiliares, pátios e estacionamentos, para facilitar a manobra, guarda, injeção de trens e oferta de serviços adicionais, além de reduzir o potencial de interrupção ou interferência devido à necessidade de manutenção;
  • Utilizar o espaço sobre os trilhos para explorar empreendimentos imobiliários e aumentar a receita da CPTM, reduzindo seu déficit por bilhete;
  • Utilizar o espaço sobre os trilhos para construir bairros compactos com uso misto, abrigando trabalhadores e fornecendo opções de comércio a poucos passos de distância de seus apartamentos;
  • Desenvolver um programa de manutenção mais transparente, com cronogramas públicos e maior detalhamento do tipo de serviço, podendo se inspirar no calendário de intervenções planejadas da Transport for London;
  • Alocar mais recursos para a manutenção, buscando reduzir a quantidade de intervenções aos finais de semana;
  • Ser mais transparente sobre a quantidade de falhas, sejam elas notáveis ou não, inclusive contando com um sistema pera recuperação e tratamento dos dados, que permita a consulta de planilhas e plotagem de gráficos (o sistema poderia ser inspirado em ferramentas do IBGE e do US Census Bureau.

Não é tão simples quanto dizer: “a CPTM deve pagar táxi, o problema é dela” ou “vamos indenizar e garantir uma alternativa”. A indenização e a alternativa de que precisamos está calcada na seriedade e no desejo de conhecer os problemas com a profunidade necessária. Ampliação da infraestrutura, melhor manutenção e mais transparência já!




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