Setembro é marcado por denúncias contra vigilantes da CPTM

Por Caio César | 20/09/2018 | 4 min.

Legenda: Para-brisa danificado em um trem da CPTM. Fotografia simboliza mais um episódio que atira a imagem da Companhia na lama
A precaridade da categoria não é novidade. Em menos de uma semana, dois casos ganham espaço nos jornais e suscitam uma reflexão. Entenda

Na última terça-feira, 18, fomos surpreendidos pelo seguinte relato, que nos foi enviado por meio de uma mensagem à nossa página no Facebook:

MASSACRE NA LINHA 10 TURQUESA DA CPTM

Hoje, por volta das 7:30h, um grupo de seguranças da CPTM que atuam na Estação Prefeito Celso Daniel — Santo André, agrediram brutalmente um rapaz que aparentava 16 anos e trajava camiseta e crachá de uma famosa loja de departamentos.

Tudo começou após menino ter chutado um lixo em direção aos trilhos do trem.

Os seguranças, ao invés de fazerem os procedimentos de abordagem já foram empurrando e batendo o menino.

Um segurança de, aproximadamente 1,80m entrou em luta corporal com o menino, derrubando-o para os trilhos. Os passageiros que estavam perto se revoltaram com a cena e todos foram unânimes em condenar a atitude dos seguranças. Aliás, eles só pararam de bater por que a comoção foi muito grande e por que o menino começou a reclamar da coluna.

Depois disso, os próprios segurança, debaixo de muita revolta popular, deram início — não sem muitos bate bocas- aos procedimentos de maca.

Um popular que questionou a ação dos seguranças chegou a ser intimidado depois. Ele e outras três pessoas acompanharam o garoto (que estava atado a uma maca) para um outro setor da estação, de onde a equipe de segurança, junto a um corpo exageradamente grande policiais, fez os procedimentos (sempre sob acompanhamento de populares) para encaminhar o menino ao hospital.

Não tardou para que a situação ganhasse as páginas da imprensa regional, como o Diário do Grande ABC (leia a reportagem), no entanto, a postura do Diário do Grande ABC se limitou, basicamente, a relatar o ocorrido de forma breve e fornecer uma justificativa ainda mais breve por parte da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que alegou que apurará o caso.

Legenda: Registro em vídeo da ocorrência, compartilhado publicamente no Twitter

Apenas cinco dias antes (!), um jovem passageiro foi chamado de “lixo” por vigilantes contratados que atuam na Linha 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e o caso ganhou destaque no portal G1 e no telejornal SP1 da Rede Globo (leia a reportagem). A CPTM foi um pouco melhor na resposta e alegou que afastará os vigilantes e repudia o comportamento por eles apresentado.

Não basta. Infelizmente não basta. As causas-raízes seguem ignoradas. A atuação dos vigilantes contratados é controversa há anos e denúncias de precaridade não são novidade (vide uma denúncia de 2014). É absolutamente evidente que a remuneração é baixa e as condições de trabalho são inadequadas. Em 2017, uma reportagem do SBT reforçou que a situação não mudou ou mudou muito pouco desde 2014.

Nós passageiros não podemos permitir que a CPTM continue contratando empresas de competência duvidosa. Não é aceitável que um passageiro seja jogado nos trilhos simplesmente por não ter dado a destinação correta para um pedaço de papel. Quando algo assim acontece, quem passa a ter a condição de descartável, somos nós, cada um de nós.

Nossas vidas estão sendo colocadas em risco para que a Companhia possa economizar alguns trocados contratando serviços terceirizados. Vidas e dignidade não podem ser precificadas.

É preciso divulgar o relato, este texto, os vídeos… o que for possível, até que uma resposta contundente seja dada não só sobre o caso do passageiro, mas sobre a situação delicada a que estamos expostos. As empresas contratadas realmente estão preparadas? Não é o que parece. Quem usa a CPTM já deve ter visto vigilantes que improvisam abrigos e cadeiras ao longo das vias, em alguns casos em locais que ficam a quilômetros de distância de uma estação. Como é que alguém que precisa se sujeitar a ficar numa cadeira de plástico e se abrigar do Sol usando sucata pode estar bem preparado? Quais garantias temos? Quais garantias temos de que a possível frustração não poderá ser descontada em nós?

E para terminar, antes que alguém fale sobre educação e dificuldade de conscientizar, fica o recado: ah, campanhas educativas não funcionam? Que tal se a estatal e o governo experimentassem articular estratégias de desenvolvimento das cercanias mais complicadas? Indicadores como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) são mais do que números, refletem condições concretas de vida. Se a presidência e a diretoria da CPTM não estão à altura dos desafios impostos por nossas periferias, que façam como fazem políticos e funcionários de alto escalão na Europa: peçam demissão.


Colaborações: agradecimentos ao leitor Francisco Chicão



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