O turismo na Grande São Paulo merece um olhar mais atento

Por Caio César | 17/11/2018 | 10 min.

Legenda: Casal de idosos observa as águas do rio Paraíba do Sul e parque do deck de madeira da Rua Coronel Ramalho, em Guararema
Passear não precisa ser sinônimo de automóveis e pedágios caros! Talvez existam boas opções não muito longe, basta ter disposição e explorá-las

Índice


Introdução

Em 27/09/2018, a Agência Mural publicou uma reportagem a respeito da busca por recursos adicionais, oriundos do título de MIP (Município de Interesse Turístico). Os municípios dotados do título recebem, a cada ano, R$ 550 mil do Governo do Estado de São Paulo para que invistam no setor turístico.

O tema é interessantíssimo, pois a RMSP (Região Metropolitana de São Paulo) abriga cerca de 20 milhões de habitantes e, considerando o uso do transporte coletivo, há um grande potencial turístico. Mesmo combinando vários meios de transporte, o custo do deslocamento ainda assim provavelmente é mais baixo do que passagens rodoviárias para destinos como a Estância Balneária de Praia Grande, que em determinados períodos do ano vê sua população ultrapassar a marca de 1 milhão de pessoas. Mais do que incentivo ao turismo por meio de repasses de recursos do erário estadual, trata-se de uma oportunidade para pensarmos a metrópole de São Paulo “fora da caixa”, fugindo de estereótipos e também de Ibirapueras e shopping centers lotados.

A reportagem da Agência Mural esclarece que 22 cidades da RMSP pleiteiam o título, entre elas, estão municípios como Santo André, São Bernardo do Campo, Santana de Parnaíba e a própria capital paulista. Oportunamente, vale dizer que Guararema, Mogi das Cruzes, Santa Isabel e Mairiporã já são MIPs, enquanto Embu das Artes, Poá, Ribeirão Pires e Salesópolis são estâncias turísticas, de forma análoga às estâncias balneárias (como Praia Grande, mencionada no parágrafo anterior).

Apesar das formalidades envolvidas e dos esforços notáveis de municípios como Guararema, que conta até com hotsite, confesso que devido à minha peregrinação ligada ao COMMU acabo falando sobre uma série de cidades com as quais tenho maior envolvimento e, infelizmente, costuma ser difícil motivar pessoas a visitá-las. Algumas das cidades que já são de interesse turístico, como Mogi das Cruzes, possuem atributos de sobra para uma visita, principalmente se o visitante morar na Zona Leste ou outro município do Alto Tietê.

Aproveitando o ensejo deixado pela reportagem da Agência Mural e pensando em unir o útil ao agradável, decidi destacar alguns municípios, fazer comentários e dar dicas visando “quebrar o gelo”. No passado já escrevemos artigos com intenção similar, como foi aquele da visita à orla do Riacho Grande, em São Bernardo do Campo.


Mogi das Cruzes

Cidade com pouco mais de 440 mil habitantes e estrategicamente localizada entre São Paulo e São José dos Campos, Mogi das Cruzes parece ter assumido a posição de “capital do Alto Tietê”. Concentra duas universidades privadas que motivaram a construção da Estação Estudantes ainda nos anos 1970 e tem como peculiaridade a existência de dois centros: o histórico e tradicional, no entorno da Estação Mogi das Cruzes e o cívico, no entorno da Estação Estudantes.

Legenda: Expresso Turístico partindo da Estação Estudantes

O centro histórico e tradicional abriga várias construções históricas preservadas, incluindo o Theatro Vasques, a Catedral de Santana, entre outros. Em 2015 a região recebeu obras de requalificação urbana e paisagística, tornando-a mais acolhedora para pedestres. A requalificação modificou também o mobiliário urbano: há floreiras, bancos para descanso, para-ciclos e totens informativos.

Legenda: Para-ciclo, totens e tratamento diferenciado valorizando o pedestre

O centro histórico e tradicional conta com uma série de lojas e lanchonetes, incluindo a tradicional lanchonete Estrela.

Legenda: Detalhe do comércio em um dia pacato

O centro cívico possui um conjunto arquitetônico mais recente e adota algumas soluções viárias modernistas, que felizmente não desfiguraram bairros vizinhos. O centro cívico é muito menos um bairro e muito mais uma espécie de referência. Sua localização remete a bairros como Parque Monte Líbano, Jardim Armênia e Vila Partênio. É na região do centro cívico que fica a prefeitura, a câmara municipal e outros edifícios de caráter político-institucional, além disso, a região do centro cívico abriga um dos principais shoppings de todo o Alto Tietê e outras amenidades, como as redes D’avó (hipermercados) e Alabarce (supermercados). O grande trunfo do centro cívico realmente está nos bairros, principalmente no bairro Parque Monte Líbano, que abriga um verdadeiro polo gastronômico e boêmio na região do CCMC (Clube de Campo de Mogi das Cruzes).

Legenda: Praça Norival Gonçalves Tavares, Rua Capitão Manoel Rudge e Câmara Municipal

Apesar de pouco conhecida, a região do Parque Monte Líbano revela boas surpresas para quem desembarca na Estação Estudantes e segue em direção a ela: tem praças agradáveis, sendo que a principal delas, a Norival Gonçalves Tavares, já concentra uma série de bares e restaurantes. Seguindo pelas ruas Duarte de Freitas e Carmela Dutra em direção ao Parque Monte Líbano, o turista já encontra nomes consagrados dos mogianos, como a hamburgueria Spock Burger ou ainda novatos, como o restaurante Hi Guys. Ficam recomendações aos seguintes estabelecimentos:

Mas Mogi das Cruzes vai além de comida boa. A serra do Itapeti, elemento marcante na paisagem para quem chega por meio da Linha 11-Coral (Luz-Guaianazes-Estudantes) da CPTM, abriga o Pico do Urubu, a 1.160 metros acima do nível do mar, que atrai amantes de trilhas e de mountain bikes.

Legenda: A serra do Itapeti é um elemento marcante na paisagem mogiana

Além da serra, o Parque Centenário da Imigração Japonesa, localizado após o novo vetor de expansão imobiliária da região do centro cívico, pode ser acessado com uma caminhada de pouco mais de 1 km a partir da Estação Estudantes (basta sair em direção à rodoviária e seguir sentido Guararema pela Av. Francisco Rodrigues Filho/Rodovia Henrique Eroles), reservando momentos de tranquilidade.

Legenda: Parque Centenário da Imigração Japonesa

Mogi das Cruzes é também caminho para Guararema, nossa próxima cidade. Em algumas ocasiões, o distrito de Sabaúna aproxima os dois municípios a partir do passado ferroviário comum entre eles, como foi o caso do último Festival do Cambuci, que contou com um trem especial.

Legenda: O distrito de Sabaúna durante o Festival do Cambuci em 19/08/2018

Sabaúna também já recebeu outros trens especiais em anos anteriores, como foi o caso do “Trem da Cerveja”, em 2015. O pacato distrito de Sabaúna pode ser acessado a partir do Terminal Central, sendo a linha C691 uma boa pedida (acesse o site da Secretaria de Transportes para saber mais).


Guararema

Com população de quase 30 mil habitantes, Guararema pode parecer pequena a princípio, mas não se engane, o cuidado com o turismo parece inversamente proporcional ao tamanho da população. Saindo de Mogi das Cruzes, a opção mais frequente e barata são os ônibus da Viação Jacareí, porém, por se tratar de um serviço regulado pela Artesp, a passagem só pode ser paga em dinheiro ou pelo cartão Valeviaj.

O turista deve embarcar na linha 8015 em direção a Jacareí e informar ao cobrador que tem Guararema como destino. A melhor pedida é desembarcar na Rua Coronel Ramalho, no ponto perto da Rua Capitão Alberto Weissohn, antes do Pau D’alho. Se o dia estiver bonito, o turista será cumprimentado por uma agradável vista configurada pelo rio Paraíba do Sul (no dia da visita, em 03/03/2018, estava um pouco nublado e com pancadas de chuva, mas mesmo assim foi possível aproveitar). Basta então seguir pela mesma Coronel Ramalho em direção à antiga estação ferroviária para desfrutar de uma série de atrações.

Legenda: O rio Paraíba do Sul, o deque em conjunto com um passeio bem mobiliado e uma placa indicando outras atrações turísticas e quão distantes estavam

A primeira atração provavelmente é o Parque Municipal Recanto do Américo. Ele é difícil de passar em branco, pois ao seguir em direção a ele, a calçada se alarga, ganha um deck junto ao Paraíba do Sul, bancos e cobertura. Ali, é possível atravessar uma ponte para ter um contato mais intimista com o rio e o parque propriamente dito. Nesta altura da Coronel Ramalho, o comércio da região central de Guararema começa aparecer: são sorveterias, bares e restaurantes.

Legenda: Parque Municipal Recanto do Américo

Seguindo pela rua Coronel Ramalho, é possível passar pela igreja matriz da cidade (Igreja de São Benedito), que concentra mais algumas opções comerciais ao redor da Praça 19 de Julho, além de uma rua pedestrianizada. Fica também perto da igreja o pátio com a Travessia Dona Victória, que dá acesso à Ilha Grande. Mais à frente estão o Cine Guararema, um raro cinema de rua, e a Estação Literária (biblioteca municipal).

Legenda: Cine Guararema

A estação ferroviária, localizada mais adiante junto a uma passagem de nível, quando a rua Coronel Ramalho passa a ser denominada 19 de Setembro, se encontra em bom estado, devidamente reformada e com algumas alterações nas edificações que estão juntas a uma espécie de calçadão, formando um pátio que tenta preservar a memória das antigas marias-fumaça. A ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) oferece trens entre a estação e o distrito de Luís Carlos, que também tem buscado se firmar como atração turística. Os passeios custam R$ 65,40 (valor promocional) e mais informações podem ser obtidas na página da associação.

Legenda: A antiga estação ferroviária

Uma opção para almoçar é o restaurante a la carte Roça & Poesia.

Existem ainda outras atrações em Guararema que podem ser acessadas a pé, como a charmosa Praça Coronel Brasílio de Fonseca, na qual está localizada a prefeitura e o coreto. A cidade costuma ficar enfeitada durante o período natalino (veja exemplos aqui e aqui).

Para voltar em direção à Mogi das Cruzes, ficam duas dicas de pontos: na lateral da igreja matriz, antes da rua Dr. Silva Pinto ou então na outra extremidade da Coronel Ramalho, antes do Pau D’alho. Infelizmente as linhas suburbanas reguladas pela Artesp não costumam aparecer no Google Maps. Informações sobre o itinerário da linha 8015 (e de outras linhas operadas pela Viação Jacareí) podem ser consultadas no site da empresa.

Legenda: Se você quer ter uma ideia das condições da rodovia entre Mogi e Guararema utilizada pela linha 8015, não deixe de assistir o vídeo

Santana de Parnaíba

Vamos agora do leste para o oeste da metrópole: vizinha de Barueri, Santana de Parnaíba não está restrita aos monótonos condomínios fechados construídos pela Alphaville Urbanismo e outras empresas. O município, que em 2018 completou 438 anos, possui um simpático centro histórico e comercial, comodamente acessível a partir de um terminal de ônibus, que conta com linhas intermunicipais e municipais.

Legenda: O Terminal Rodoviário Santana de Parnaíba

O turista observará a presença de adesivos com QR Codes em alguns edifícios, que, ao serem escaneados pelo smartphone, permitem acessar rapidamente endereços com maiores informações sobre os locais.

Legenda: Utilização de QR Codes em Santana de Parnaíba (saiba como tirar proveito deles no iOS e no Android

Bem cuidada, a área central do município possui bares, restaurantes e edifícios históricos (confira aqui a lista de quais deles são considerados turísticos pela municipalidade). O relevo acidentado pode exigir algum esforço, mas nada de outro mundo. A dica é procurar pela recém-reformada Praça 14 de Novembro.

Legenda: O charme do município está no conjunto arquitetônico da área central

Santana de Parnaíba pode ser uma opção para fugir da mesmice dos shoppings de Osasco e de Barueri, por exemplo. Durante a visita em 25/11/2017, foram utilizadas as seguintes linhas da EMTU:

  • Ida: linha 082, embarcando no Terminal Km 21 da EMTU (divisa de Osasco com Carapicuíba), vizinho da Estação General Miguel Costa da Linha 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) da CPTM, e desembarcando no Terminal Rodoviário Santana de Parnaíba;
  • Volta: linha 246, embarcando no Terminal Rodoviário Santana de Parnaíba e desembarcando na Estação Barueri da Linha 8-Diamante.

Legenda: Praça 14 de Novembro, que além de bonita, é rodeada por restaurantes

Uma opção para almoçar é o restaurante Bartolomeu. As porções são bem servidas. Assim como Guararema, a cidade já organizou decorações natalinas, como foi o caso de um grande presépio em 2017 ou da decoração da Praça 14 de Novembro com 5 km de lâmpadas led em 2016.




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