CPTM testa viagens diretas entre Luz e Estudantes: conferimos e aprovamos!

Por Caio César | 26/01/2019 | 4 min.

Legenda: Estação Mogi das Cruzes
Foi um alento poder transitar entre São Paulo e os municípios do Alto Tietê sem precisar realizar uma transferência na periferia expandida da capital paulista

Ontem, 25, fizemos uma visita na Linha 11-Coral para conferir de perto a operação direta entre as estações Luz e Estudantes, sem necessidade de transferência na Estação Guaianazes. Apesar de alardeado pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) nas redes sociais e também nas estações, o teste parece ter surpreendido passageiros, a julgar pelos comentários e olhares de alívio que pudemos perceber durante a viagem.

Legenda: Exemplo da divulgação realizada pela CPTM no Twitter

Em cerca de uma hora saímos da Estação Tatuapé e chegamos no Centro Histórico e Tradicional de Mogi das Cruzes, na volta, um acréscimo de uns 5 minutos, pois partimos da Estação Estudantes. Nos dois casos a lotação dos trens não foi exagerada, tanto que foi possível ir sentado (quem usa a Linha 11-Coral sabe que conseguir um lugar pode ser tarefa difícil, mesmo aos finais de semana e feriados).

Francamente, chegava a ser difícil de descrever quão alentador era não precisar se preocupar com a reação apressada de outros passageiros em Guaianazes. A opção de voltar por Calmon Viana, na Linha 12-Safira, nem mesmo foi cogitada: seria um desperdício desnecessário de tempo.

Legenda: Linhas da CPTM no contexto das Sub-regiões Leste e Sudeste da Região Metropolitana de São Paulo. Elaboração própria a partir de dados do GeoSampa

Suspeitamos ainda no começo da viagem de que a oferta estava acima daquela que geralmente é observada. Consultando a tabela oficial, podemos comparar mais facilmente:

Como podemos ver, numa situação correspondente à tabela, que vinha sendo aplicada até então, teríamos aguardado até 10 minutos no Tatuapé e depois até 10 minutos em Guaianazes. Na situação do teste realizado pela CPTM, o intervalo programado foi 2 minutos menor (8 minutos ante os 10 minutos usualmente praticados) e sem necessidade de transferência para percorrer um longo trecho com sinais de conurbação e indícios visuais de uma certa homogeneidade no comportamento da demanda de passageiros.

A importância dos novos trens da série 8500, fabricados na Região Metropolitana de Campinas pela Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles (CAF), de origem basca, se fez sentir. Sem precisar arrastar trens obsoletos e com menor taxa de aceleração, como acontecia até dezembro de 2018, quando a série 4400 ainda não tinha sido aposentada, o carrossel passou a fluir melhor. Soma-se então os trens novos com as estações readequadas, como Suzano (reconstruída), Ferraz de Vasconcelos (reconstruída) e Poá (modernizada) e o padrão de serviço antes restrito ao Expresso Leste passa a chegar no Alto Tietê, finalmente.

Nem tudo são flores, entretanto. Existem alguns desafios que ainda não foram superados:

  • A Estação Suzano ainda não recebe os trens da Linha 12, significando que a Estação Calmon Viana, modernizada em 2010, continua sendo o único ponto de transferência entre as linhas no Alto Tietê, ainda que sua infraestrutura não seja adequada e esteja apresentando sinais de deterioração;
  • O município de Mogi das Cruzes continua tendo dificuldades de orientar o crescimento ao longo do eixo da Linha 11 e, apesar de ter empenhado mais de 100 milhões de reais num complexo viário, ainda não foi capaz de chegar a uma solução mais adequada para as passagens de nível nos dois centros;
  • A CPTM segue alegando que não há viabilidade técnica para expandir a Linha 11 até a Estação Palmeiras-Barra Funda, o que mantem sob forte pressão a Estação Luz, que claramente já está no limite de sua capacidade, mesmo tendo sido modernizada no início dos anos 2000;
  • Falta modernizar as estações Estudantes (esta já possui projeto e deverá ser reconstruída), Mogi das Cruzes, Braz Cubas, Jundiapeba e Antônio Gianetti Neto (esta última já possui um padrão relativamente mais atual, lembrando as estações dos metrôs de Belo Horizonte e Recife, pois foi inaugurada em 1998).

A questão de Mogi das Cruzes é, provavelmente, a mais interessante. É difícil imaginar que a cidade precise receber os trens a cada 4 minutos, o que significa que não é difícil de imaginar que a Linha 11-Coral poderá operar de forma análoga à Linha 12-Safira no futuro, ou seja, intercalando trens para Suzano e Estudantes, permitindo um intervalo de 4 minutos entre Luz e Suzano. Para atingir o cenário apontado, a CPTM precisa garantir o bom funcionamento dos sistemas de sinalização e de energia, bem como uma quantidade suficiente de trens. Infelizmente, a troca do sistema de sinalização atual para um de tecnologia CBTC (Communications-Based Train Control, Controle de Trens Baseado em Comunicação, em tradução livre), elemento crucial para dar mais um salto no padrão de serviço oferecido no Alto Tietê, teve sua implantação paralisada. Intercalando os trens (e, assumindo que será possível atender Guaianazes adequadamente), as passagens de nível mogianas podem seguir no status quo.


Colaborações: Eduardo Ganança, que também esteve presente na visita



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