Cidades sem rumo

Por Caio César | 01/11/2019 | 3 min.

Legenda: Assentamento precário às margens da Linha 7-Rubi (Luz-Francisco Morato-Jundiaí), na região do Parque 120: acesso por meio da faixa de domínio é corriqueiro, com abertura no muro e presença de trilhas
A péssima atuação do legislativo estadual e municipal é inadmissível

Ainda que nem sempre possamos externar no Facebook nossa insatisfação, desempenhamos um esforço tentando acompanhar os mandatos de todo o legislativo dos municípios atendidos pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), ou seja, pelas câmaras municipais da capital e mais vinte e duas outras cidades distribuídas na Região Metropolitana de São Paulo e na Aglomeração Urbana de Jundiaí, além disso, tentamos acompanhar também as atividades da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, ligada à esfera estadual de governo.

O cenário é decepcionante. Nós, população de um dos maiores complexos urbanos do mundo, sustentamos uma massa de incompetentes. Os gabinetes não estão aptos, na maioria das vezes, para compreender os desafios das cidades e das regiões metropolitanas do estado de São Paulo. Pior ainda, o campo progressista, que deveria disputar uma narrativa emancipatória em prol de justiça social, patina como ninguém.

As próximas eleições, que renovarão (ou não) a arena política dos municípios, elegendo prefeitos e vereadores, vão ocorrer sem qualquer esforço para definir previamente uma plataforma relativamente comum e inteligente para o desenvolvimento socioeconômico. É flagrante a ausência de esforços para construir uma plataforma política disposta a modificar práticas e estruturas nefastas, como a especulação imobiliária, o subsídio indireto ao automóvel, o rodoviarismo, a proliferação de loteamentos clandestinos ou irregulares, entre tantas outras.

A Grande São Paulo vai continuar pagando um preço alto por isso. Vai continuar presenciando projetos que ampliam as desigualdades e promovem descontos no IPVA, vai continuar presenciando ataques a instrumentos de ordenamento territorial, vai ganhar mais pedágios que não apresentarão qualquer tipo de contrapartida para sistemas de transporte público, vai observar o enfraquecimento do planejamento em escala macroscópica, vai ficar refém de mais concessões duvidosas no transporte sobre trilhos e sobre pneus, vai ganhar um BRT ao invés de uma linha de metrô.

Legenda: Aviso no site da Emplasa: estatal de planejamento desmorona em meio a uma avalanche de incertezas, compartilhadas por uma minoria de acadêmicos e profissionais de planejamento urbano, enquanto deputados e deputadas estaduais ficam em silêncio

Quantas vezes você já tentou cobrar um gabinete, seja de uma câmara municipal, seja da Assembleia Legislativa? Ao que tudo indica, os gabinetes não são cobrados, ao que tudo indica, os gabinetes não conhecem as dificuldades de quem depende de transporte público, ao que tudo indica, os gabinetes são incapazes de entender as necessidades das cidades.

Fazemos um apelo especialmente para quem vota no campo progressista: cobre. Cobre imediatamente. Cobre todos os dias. Marque os políticos no Facebook. Envie artigos. Escreva artigos. Organize-se. Quanto mais cedo você começar, mais cedo vai quebrar a cara e, quebrando a cara mais cedo, o nível de exigência vai subir — assim esperamos.

Aos que não vivem fora do Centro Expandido, um adendo: a periferia não vive de Instagram, precisamos de moradia digna, transporte de ponta, ensino superior gratuito e emprego qualificado, tudo isso coexistindo numa cidade bem urbanizada e que respeita as pessoas. Precisamos para ontem. Precisamos de planejamento. Precisamos de prioridade orçamentária. É chegada a hora dos mandatos buscarem uma complexidade no formato de atuação, equipando seus gabinetes com pessoas e com tecnologia. Os mandatos precisam ser capazes de analisar dados e aproveitar as facilidades que estão disponíveis em 2019.

Por que não temos, por exemplo, um sistema compartilhado entre mandatos para submeter demandas e acompanhar os trabalhos das diferentes equipes, para além do que já existe oficialmente (sites das câmaras e da Assembleia Legislativa)? Viria bem a calhar, uma vez que os canais oficiais de comunicação costumam ser inócuos (e-mails não são respondidos e telefones não são atendidos). Por que não conseguimos ainda desenvolver uma plataforma que centraliza uma visão de longo prazo, articulando diferentes mandatos e partidos, com ampla participação da sociedade civil?




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