CPTM espreme seus últimos limões ao estender Linha 7 até a Estação Brás

Por Caio César | 10/11/2019 | 7 min.

Legenda: Passageiros das linhas 7-Rubi (à direita) e 10-Turquesa (à esquerda) na Estação Brás
Leia nossas considerações a respeito das mudanças na operação de duas importantes linhas da região metropolitana e por quais motivos achamos que a infraestrutura atual está chegando no limite

Índice


Introdução

A mudança na estratégia de operação das linhas 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) e 7-Rubi (que passou a ser Brás-Francisco Morato-Jundiaí durante os dias úteis) foi efetivada pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) em 30 de outubro de 2019.

Desde o primeiro da operação em novo formato, temos observado o comportamento das duas linhas, tanto na plataforma, como dentro dos trens, afinal, o COMMU não é um site de notícias, mas sim um coletivo de pessoas que deseja um transporte metropolitano melhor, até porque vivemos aqui e dependemos do transporte coletivo. A seguir, você confere nossas considerações a respeito daquela que é, na nossa opinião, uma das últimas mudanças que a CPTM será capaz de fazer sem obras de infraestrutura, que continuam sendo necessárias. Na página oficial da Companhia no Facebook, a notícia é dada em meio a relatos positivos


Faltam trens nas duas linhas, mas problema é mais perceptível na Linha 7-Rubi

Desde que a Linha 7 passou a operar até a Estação Brás, passamos a observar algumas irregularidades nos intervalos, que suspeitamos decorrer da falta de material rodante, além disso, não eram só os atrasos na plataforma da Estação Brás que incomodam, nas redes sociais, passageiros reclamavam da eliminação dos trens que partiam vazios da Estação Caieiras no pico da manhã. De imediato, a CPTM confirmou a permanência do loop operacional, mas acabou admitindo sua extinção poucos dias depois.

Legenda: CPTM confirma no Twitter que as viagens parciais a partir de Caieiras foram eliminadas

Nos horários de pico, o intervalo médio entre trens é de 6 minutos, conforme informações da própria CPTM, que alegou que “a mudança permitirá padronizar em 6 minutos o intervalo de Francisco Morato a Brás, nos horários de pico”, antes, a tabela de intervalos informava que 6 minutos eram praticados apenas entre Caieiras e Luz no horário de pico da manhã, denotando a presença do loop operacional Caieiras-Luz.

Legenda: Tabela de horários extraída de arquivo PDF da CPTM que até a data de publicação deste artigo, se encontrava desatualizado

Infelizmente, a despeito da informação otimista de intervalos de 6 minutos entre Brás e Francisco Morato, temos observado atrasos. No dia 6 de novembro, nos perguntávamos se fazia sentido manter a novíssima série 9500 circulando entre Jundiaí e Francisco Morato, uma vez que a demanda é reconhecidamente maior após Francisco Morato e as reclamações envolvendo Caieiras se multiplicaram pelo Facebook. Gostaríamos que a CPTM avaliasse as seguintes possibilidades:

  1. Adiar a aposentadoria da série 2100, colocando trens para circular entre Jundiaí e Francisco Morato com 6 ou 3 carros;
  2. Adiar a aposentadoria da série 2100, implantando um expresso unidirecional similar ao que opera entre Santo André e Tamanduateí da Linha 10, como aliás já havia sido aventado, operando entre Pirituba e Palmeiras·Barra Funda;
  3. Realizar a troca entre os trens da série 9500 e alguma outra série que pode operar com trens de 4 carros (2000, 2070 ou 7000, por exemplo).

Estamos na expectativa de que a chegada da série 2500, exclusiva para a Linha 13-Jade (Eng. Goulart-Aeroporto·Guarulhos), possa contribuir para aliviar um pouco a situação, já que trens da série 9000 poderão ser movimentados para outras linhas. Atualmente três das oito composições encomendadas da China estão em solo paulista, com o primeiro trem em testes e outros dois recém-chegados (vide notícia oficial de 08/11/2019).

Observação: o caso da Linha 10 é menos crítico, porque a princípio, ela ainda conta com a série 2100 como reserva para casos mais extremos e, considerando a utilização da linha por membros do Coletivo, os intervalos têm sido cumpridos com relativa facilidade. Outros problemas sérios, entretanto, comprometem o futuro da linha.


A organização precisa melhorar

Sabemos que a CPTM tem poucos funcionários, mas sentimos falta de uma maior organização na Estação Brás. Repetir insistentemente o anúncio “aguarde a saída dos usuários para embarcar com segurança” não basta. Se não é possível disponibilizar agentes para acompanhar e organizar o embarque, então algumas medidas paliativas deveriam ser consideradas, tais como a instalação de direcionadores de fluxo e a adoção de sinalização horizontal.

Legenda: Embarque e desembarque na mesma plataforma: longe de ser ideal, mas se torna pior pela falta de estratégias

Outro problema é a comunicação em geral. Todos os serviços adicionais são comunicados de forma improvisada. O problema afeta desde o Expresso Linha 10+ (serviço unidirecional que conecta as estações Santo André e Luz aos finais de semana) até a operação da Linha 7-Rubi, que foi estendida até o Brás no Mapa do Transporte Metropolitano. Por que os expressos da Linha 10 não constam no mapa, mas os da Linha 13 constam, embora sejam tão restritos quanto? Faz sentido desenhar a linha até o Brás, sendo que ela continua operando até a Luz fora dos dias úteis?


Impressões e considerações finais

No geral, as nossas impressões foram positivas. A situação da Linha 11-Coral (Luz-Estudantes) é muito crítica e a sua utilização para percorrer apenas uma estação era realmente desestimulante e competia em inconveniência com a Linha 3-Vermelha (Corinthians·Itaquera-Palmeiras·Barra Funda), com as mudanças feitas pela CPTM, a “calha central” ganhou uma alternativa mais tranquila para circular entre a parcela sul da Zona Leste da capital, o Centro Histórico e a Zona Oeste.

Acreditamos que ajustes na frota e nas plataformas, além de mais esmero na comunicação visual e na organização do mapa, poderão mitigar alguns dos problemas apontados. Uma experiência substancialmente melhor, no entanto, depende de obras e investimentos de vulto, como a construção da Estação Bom Retiro, que fundamentalmente depende de um olhar social apurado, de forma a não expulsar os moradores da Favela do Moinho, que poderiam morar num complexo de apartamentos integrado à estação e, de preferência, com uma mescla maior de rendas (ou seja, uma parte das moradias abrigaria a população vulnerável que se encontra assentada precariamente, enquanto outra poderia ser comercializada no mercado), o estado, por meio da CPTM e da CDHU, já deveria ter se articulado para desatar o nó existente entre as estações Brás e Palmeiras·Barra Funda.

Sobre a Estação Palmeiras·Barra Funda, apesar das intenções de remodelagem fruto de uma PPP (parceria público-privada), discutidas em primeira mão por nós, ainda precisa de mais obras para melhor acomodar as operações do Trem Metropolitano, incluindo a chegada da Linha 11-Coral por lá; a expansão da Linha 11-Coral até a Barra Funda é uma antiga promessa, que reaparece de tempos em tempos. Acreditamos que as seguintes pendências precisam ser solucionadas antes de pensar num rearranjo das linhas e, principalmente, na tão necessária mudança do terminal paulistano da Linha 11:

  • Implantar sinalização nas vias das plataformas 8, 9 e 10
  • Há AMVs (aparelhos de mudança de via) que precisam ser recapacitados para entrar em operação (hoje há equipamentos sem jacaré e máquina de chave)
  • As plataformas de Barra Funda precisam de readequação e também de mais escadas rolantes
  • O mezanino de Barra Funda precisa ser readequado, com a retirada dos vãos que separam o mezanino da Linha 7-Rubi do da Linha 8-Diamante e que estrangulam o fluxo, aumentar a linha de bloqueios
  • Provavelmente, o Abrigo Luz teria que parar de atender às linhas 7 e 10 e passar para a 11, do contrário, toda vez que colocarem ou retirarem um trem da Linha 7 ou da Linha 10, vai acabar congestionamento a Linha 11

Como podemos concluir, os desafios são imensos. Há quem sugira que, a despeito das mudanças na lógica de origem e destino dos passageiros das linhas 7 e 10, seria melhor voltar à operação de linha única, com alguns loops para atender os trechos de maior demanda. Uma das sugestões que recebemos na nossa fanpage propunha uma operação com três loops numa única linha a partir da chegada dos 34 novos trens: (i) Caieiras-Santo André; (ii) Mauá-Francisco Morato; e (iii) Jundiaí-Rio Grande da Serra. O grande porém, na nossa visão, é a concessão da Linha 7-Rubi. O futuro permanece incerto, mas uma coisa tem ficado cada vez mais clara: a CPTM está chegando no limite das alterações possíveis. As plataformas da Estação Brás estão comportando um volume de serviços que não se imaginava há dez ou quinze anos atrás, passam por lá passageiros de cinco linhas da CPTM, além dos trens de passagem do serviço expresso para o aeroporto internacional. Não há muito mais o que espremer.




Se você ainda não acompanha o COMMU, curta agora mesmo nossa página no Facebook e siga nossa conta no Instagram. Veja também como ajudar o Coletivo voluntariamente.



comments powered by Disqus