Por Caio César | 08/02/2020 | 3 min.
A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), apesar das novas ações de transparência precariamente adotadas em 2019, como o fornecimento de uma planilha e uma apresentação de slides sobre obras (infelizmente ambas com aparência amadora) em estações, decidiu remar na direção oposta e deixou de informar quando e quais obras está realizando. Desde então, a partir das 21h de sábado, a CPTM informa que o intervalo é de pelo menos 30 minutos, tenha ou não alguma obra. Se tiver a obra, não sabemos nada sobre o impacto, a menos que seja alguma situação excepcional, como são as obras da Linha 17-Ouro (Morumbi-Congonhas/Jardim Aeroporto) que estão interferindo na Linha 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú). Em algumas linhas, como a 12-Safira (Brás-Calmon Viana), o intervalo médio entre os trens está programado para 35 minutos a partir das 21h de sábado.
Não é aceitável.
Sabendo que o passageiro percorre em média 19 km por viagem, geralmente em condições inadequadas, a postura da CPTM não parece razoável para nós do COMMU. Antes, era ruim, mas sabíamos quando e em quais trechos os intervalos seriam ampliados, agora não tem como saber, ou seja, mesmo que os trens operem com intervalos menores, não é possível, de antemão, saber se isso vai ou não acontecer. É verdade que a CPTM tem tradição em colocar placas nas proximidades das SSOs e também emitir anúncios pelo sistema de som, porém, ainda que as estações coloquem placas informando sobre obras, estas não são e nunca foram satisfatórias, porque a empresa possui 7 linhas e mais de 270 km de trilhos espalhados por boa parte da Região Metropolitana de São Paulo, ao mesmo tempo, também não dá pra contar com o sistema de som, porque nem sempre o anúncio é dado quando se está na estação ou simplesmente pode não ser audível por uma série de motivos (ruído externo, problemas nos auto-falantes, distração etc). As notícias no site e as informações no aplicativo oficial, que eram reproduzidas pelo Moovit e outras plataformas, podiam ser consultadas de virtualmente qualquer lugar, em qualquer momento.
Em outras palavras, antes das mudanças em outubro de 2019, era possível se programar ao assumir um compromisso, indo e voltando de determinadas cidades no período de menor intervalo, evitando tumultos e longas esperas.
Ao optar por uma obscuridade genérica, a CPTM parte do pior cenário e coloca a responsabilidade da probabilidade da não realização de obras nas costas do passageiro, agravando ainda mais o quadro da maioria dos municípios atendidos, pois estes, ao contrário da capital, frequentemente possuem sistemas de ônibus caros, ruins e de baixa frequência, com intervalos de 30 minutos em qualquer período de menor demanda. Desde outubro, demoramos no ônibus e não sabemos se vamos embarcar no trem em 10, 20 ou 30 minutos, porque a CPTM prefere não dizer.
Ao ser questionada, a empresa se limitou a agradecer e reiterar o pior cenário, conforme resposta fornecida em 03/02/2020 e reproduzida a seguir:
Agradecemos pelo envio de suas considerações, que são muito importantes para que possamos constantemente aprimorar os serviços prestados pela CPTM a seus passageiros.
Informamos que, aos sábados, a partir das 21h, e aos domingos, durante toda a operação comercial, os trens da CPTM circulam com intervalos médios programados de até 35 minutos para a realização de obras de melhoria e de manutenção.
Lamentável. É muita crueldade por parte da empresa que controla o principal sistema nervoso de transporte metropolitano de alta capacidade, principal estruturador do tecido urbano de mais de 20 municípios. A omissão de informações básicas por parte da CPTM significa que agora somos todos obrigados a fazer o percurso pensando no pior, o que significa mais estresse e mais cansaço. Seria mais uma consequência da exacerbação da iniciativa privada como remédio para todos os males? Talvez.
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