Por Caio César | 10/03/2020 | 4 min.
Com a realização de uma audiência pouco divulgada no final de fevereiro, o Executivo paulista, liderado pelo governador João Doria (PSDB), revelou que o vencedor da concessão das linhas 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) deverá construir uma Estação Lapa unificada, responsável pela integração entre a Linha 8-Diamante e a Linha 7-Rubi (Luz-Francisco Morato-Jundiaí).
O que muitos não sabem e alguns poucos estão descobrindo agora, é que a estação unificada, recém-incluída no escopo da concessão, não considera a presença da Linha 9-Esmeralda, como podemos observar na maquete digital acima, consequentemente, a chance de otimizar os deslocamentos mais longos entre o oeste metropolitano e o oeste paulistano, representados pela operação de um trem expresso entre as estações Barueri, Carapicuíba, Osasco e Pinheiros, está sendo colocada numa profunda e escura gaveta, que deverá fichar trancada por pelo menos 30 anos — prazo da concessão convencional proposta pelo governo estadual.
O Expresso Oeste-Sul poderia, caso o governo assim desejasse, ser integrado a um serviço de trens regionais (também chamados de intercidades) entre a capital paulista e Sorocaba. Dependendo do arranjo proposto, seria possível manter a premissa de um serviço expresso sem diferenciação tarifária, como se previa anteriormente, além de um regional confortável, no qual só se viajaria sentado. A unificação da Estação Lapa, apesar de muito necessária e louvável, não deveria ser conduzida sem considerar antigos planos da CPTM. O governo, mais uma vez, insiste em rejeitar a máquina pública e desenvolver soluções amesquinhadas e de última hora. O futuro da passagem inferior entre a r. Doze de Outubro e a r. William Speers, que poderia fazer parte de um projeto mais elaborado de integração com umas das principais áreas de comércio popular da metrópole, também permanece incerto. Para melhor sistematizar a proposta de funcionamento que consideramos minimamente razoável diante de um prazo de 30 anos (que poderá ser renovado), desenvolvemos a tabela abaixo:
Observação: a tarifa de R$ 35,20 corresponde à média praticada pelo mercado de ônibus rodoviários regulado pela Artesp. Gostaríamos que a tarifa fosse sensivelmente menor, uma vez que o transporte ferroviário costuma ser mais econômico. O serviço VLT (Veículo Leve sobre Trilhos, um tipo de bonde moderno) suburbano seria operado por trens mais leves, buscando estimular o turismo entre as metrópoles de São Paulo e Sorocaba, sendo recomendável a elaboração de um plano de desenvolvimento local para Amador Bueno e outros tecidos periurbanos que separam as duas manchas urbanas. A manutenção da paisagem periurbana, estabelecendo tanto relações urbanas quanto rurais, poderia ser desejável para manter determinados padrões de densidade e de uso e ocupação do solo, com vistas ao estímulo de produção agrícola de pequeno porte, atividades de recreação e atividades de hotelaria.
Cabe apontar que o serviço regional foi explorado de forma sucinta, uma vez que o município de Sorocaba, como sede da Região Metropolitana de Sorocaba, apresenta maior complexidade e que o objeto deste artigo não é elaborar uma proposta de serviço regional.
Para encerrar, informamos que estamos nos planejando para a elaboração de considerações envolvendo o material rodante da possível concessão, formada por trens novos, a serem adquiridos pela concessionária e trens usados, já adquiridos pela CPTM e que deverão ser mantidos em perfeitas condições pela iniciativa privada.
Como parte das ações contra a concessão, uma audiência pública foi marcada para 16/02/2020. Clique aqui para saber mais.
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