Por Caio César | 01/04/2020 | 5 min.
Com o crescimento das medidas de restrição na circulação de pessoas, parte importante das estratégias de contenção do COVID-19, saberíamos que, mais cedo ou mais tarde, receberíamos relatos e informações envolvendo o transporte metropolitano. Após algumas semanas de crescente isolamento preventivo, o Sindicato da Sorocabana enviou ao COMMU um release de imprensa no qual apontava que “obteve na Justiça Regional do Trabalho importante vitória para a prevenção o dos funcionários da CPTM contra o novo coronavírus, especialmente para os trabalhadores das linhas 8 e 9 da CPTM, que em tempos normais são responsáveis pelo transporte de 1 milhão de pessoas diariamente”. De imediato, ficamos assustados, afinal, o líder do Executivo paulista e atual governador, João Doria (PSDB), tem sido firme nas últimas coletivas de imprensa, sempre acompanhado de nomes relevantes na atual conjuntura, como as equipes de saúde da capital e do próprio governo do estado. Quando um sindicato afirma que precisou intervir para garantir medidas de proteção mínimas, podemos concluir algumas coisas:
- Os trabalhadores da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) estão correndo sérios riscos e o discurso do Executivo não abrange as vidas destes;
- O clima organizacional dentro da CPTM provavelmente não é dos melhores e não ficaríamos surpresos se o número de atestados tiver crescido vertiginosamente, como forma de autopreservação por parte do funcionalismo;
- Se os trabalhadores correm risco e a Companhia está negligenciando a proteção destes, o serviço poderá sofrer interrupções ou outros problemas, como aumento no número de falhas ou maior dificuldade para normalização em casos de vandalismo (como furtos de cabos, que acontecem de meses em meses).
O Sindicato da Sorocabana divulgou que “além do grupo de risco, a decisão da Justiça garante proteção para os demais trabalhadores das estações”, uma vez que a liminar “diz que a CPTM deve fornecer equipamentos de proteção individual (álcool em gel e máscaras) para todos os trabalhadores, especialmente nos locais de maior exposição, como de contato com o público”, porém, apesar dos louváveis e necessários esforços sindicais, continuamos temendo pela integridade dos funcionários e a continuidade dos serviços, uma vez que soubemos que a CPTM tem distribuído, além de álcool em gel para abastecimento dos dispensadores espalhados pelas instalações, máscaras descartáveis de fibra sintética aos funcionários e um mísero par de luvas, com o agravante de que os funcionários estão sendo orientados a lavar e reaproveitar as máscaras.
Como se não bastasse tamanho absurdo, também ficamos sabendo que algumas áreas da empresa não estão recebendo equipamentos de proteção, mesmo quando ficam expostas a aglomerações, como é o caso das equipes de manutenção, que embarcam normalmente nos trens e que já estão trabalhando com quadro abaixo do ideal, não só pelo afastamento dos funcionários integrantes dos grupos de risco, mas também de outros funcionários. Se a CPTM não garante o bem-estar das equipes de manutenção, como poderá assegurar a continuidade dos serviços ao longo de seus mais de 270 km de rede?
É importante que o Sindicato continue monitorando o comportamento da estatal, como de fato se comprometeu na nota, uma vez que o descumprimento das determinações resultará em multa de R$ 50 mil por dia à CPTM.
Infelizmente a empresa nunca foi um exemplo quando se trata de insumos e equipamentos de proteção. Reclamações com os uniformes, por exemplo, ocorrem há muitos anos, com a empresa fornecendo apenas um par de calças e par um sapatos, ficando os funcionários obrigados a buscar os serviços de costureiras por conta própria ao longo dos anos. Também são recorrentes reclamações com falta de material para o trabalho diário, o que acaba obrigando o sucateamento de equipamentos antigos, peregrinação entre diferentes áreas e, em alguns extremos, a usinagem de peças nas oficinas de Presidente Altino por conta própria.
Alertamos que, apesar dos esforços de integração da malha, crescentemente ameaçados pelo risco de concessões fragmentadas e lesivas, existe uma lógica de funcionamento das linhas em pares ou trios, que dificulta o remanejamento emergencial de maquinistas, por exemplo. Você sabia que, se um maquinista é afastado por suspeita de infecção com o COVID-19, toda a escala é afastada preventivamente? Apesar dos riscos, a CPTM segue conduzindo os treinamentos para condução dos novíssimos trens chineses da série 2500, que apesar de terem sido comprados para a Linha 13-Jade (Eng. Goulart-Aeroporto·Guarulhos) também estão abrigados em Presidente Altino, fazendo com que maquinistas que vivem em regiões com pouca ou nenhuma articulação com o oeste da metrópole façam longos deslocamentos até o município de Osasco. Segundo soubemos, só haverá a decisão de interromper o processo se a CRRC Qingdao Sifang, fabricante do material rodante, decidir que há risco para seus funcionários, que são chineses. A CPTM deve urgentemente fortalecer as medidas contra o COVID-19 e garantir o fornecimento constante de material de proteção, além de rever o cronograma dos trens da série 2500. Material descartável deve ser descartado e jamais reaproveitado. Com a atitude de reaproveitar máscaras, o passageiro passa a conviver com uma imagem falsa da realidade, pois nem ele e nem o funcionário estão devidamente protegidos. Finalmente, o Sindicato da Sorocabana disse estar “à disposição dos ferroviários para receber denúncias e irregularidades que por ventura venham a acontecer”.
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