Sobreposições da nova Linha 20-Rosa são preocupantes e evidenciam disputa entre atores estatais

Por Ivo Suares | 14/06/2020 | 4 min.

Legenda: Estação Brooklin
A Linha 20 é um projeto bem curioso e parece sofrer do mesmo fenômeno que atingiu a expansão da Linha 5 para o Jardim Ângela. Entenda

A Linha 20-Rosa atual (Santa Marina-Santo André, com projeto funcional sendo contratado) teve trechos na região da Faria Lima aparecendo no PITU (Plano Integrado de Transportes Urbanos) 2020 (1999) como propícios para demanda de VLP (Veículo Leve sobre Pneus) em superfície. Os demais sequer eram citados. Enquanto isso, a atual Linha 18-Bronze (Tamanduateí-Alvarenga) aparecia como metrô.

Já no PITU 2025 (2007), o trecho da Faria Lima da Linha 20 era citado como Corredor Urbanístico de média capacidade, propício para BRT ou VLT em superfície. Os demais trechos sequer eram citados. Enquanto isso, a atual Linha 18 aparecia como Corredor Urbanístico de média capacidade.

Somente em 2011 que a atual Linha 20 aparece no planejamento da Companhia do Metropolitano de São Paulo (METRÔ, usualmente grafada Metrô) divulgado para o público (sendo que o trecho no ABC não existia). Será que, em quatro anos, a demanda da região da Faria Lima cresceu tanto ao ponto de exigir metrô pesado subterrâneo? Ou estamos diante de mais um projeto surgido do nada para agradar ao mercado das concessões e da especulação imobiliária?

É no mínimo curioso que a Linha 20 proposta se sobrepõe a uma parte do trecho de maior carregamento da Linha 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que está em vias de ser concedido. Caso a Linha 20 seja implementada, a concessão da Linha 9 perderá passageiros pagantes da passagem inteira, recebendo passageiros de transferência (onde a futura concessionária da Linha 9 receberá uma compensação pelas transferências).

Será que o Metrô está projetando linhas com sobreposições propositais aos projetos da CPTM, EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e SPTrans?

Na Zona Leste ocorreu a mesma situação, onde a CPTM projetou a Linha 13-Jade (atualmente Eng. Goulart-Aeroporto·Guarulhos) com menos estações para evitar sobreposição com o projeto da Linha 6-Laranja (Brasilândia-São Joaquim, em hiato) do Metrô. Daí o Metrô, não satisfeito, projetou a Linha 5 sobrepondo-se ao projeto da Linha 13.

Desde a década de 1980 a EMTU tinha seu projeto de conexão com Guarulhos via Penha através de um corredor de trólebus. Mas veio o Metrô e sobrepôs a Linha 2-Verde sobre essa conexão da EMTU. A SPTrans projetou o monotrilho do Jardim Ângela. O projeto foi engavetado e uma extensão do Metrô para o Jardim Ângela magicamente surgiu no lugar (mesmo com o Metrô dizendo antes que não havia demanda para uma expansão metroviária para o Jardim Ângela).

O único caso em que ocorreu um recuo claro do Metrô foi com a Linha 18, onde pressões locais de empresários do ABC sepultaram o projeto já concedido em nome de um BRT que, passados dois anos e meio, sequer possui projeto ou estudo de viabilidade conhecidos. Mas o Metrô não fez esforço algum para proteger a concessão da Linha 18, ela praticamente foi proposta pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos e rechaçada pelo Metrô (que aceitou até ser chamado de incompetente pelo secretário Baldy, justificando a troca do projeto por ter menos demanda que o projetado inicialmente).

Sendo assim, a CPTM poderia reabrir suas estações na Zona Leste, fechadas por conta da sobreposição com o Metrô (que chegou depois, mas aí foi culpa da ferrovia que não aceitou ser gerida pelo Metrô). Será que essa decisão afetaria a rentabilidade da Linha 3-Vermelha (Palmeiras·Ḅarra Funda-Corinthians-Itaquera) da Cia. do Metrô? Afinal, a estatal parece não se importar com a rentabilidade das linhas da deficitária CPTM…

O espírito de rede única pensado no Programa PITU foi perdido em algum momento da década atual, com a Cia. do Metrô desenvolvendo sua rede atualmente para maximizá-la e torná-la atrativa para a mera concessão fragmentada, favorecendo a especulação imobiliária no entorno dela.

Isto atenderia aos interesses da sociedade? Entre construir uma linha de metrô pesado na Faria Lima e várias linhas de BRT/VLT em vários pontos da cidade (inclusive na Faria Lima), qual seria a melhor proposta para a sociedade?




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