Região Sudoeste: a mais esquecida da metrópole

Por Ivo Suares | 16/06/2020 | 4 min.

Legenda: Ônibus da linha 420TRO no Terminal Km 21
De todas as sub-regiões da RMSP, a Sudoeste possui a peculiaridade de não possuir um único quilômetro de trens metropolitanos ou corredores de ônibus. Algumas cidades, como Taboão da Serra, sequer possuem terminais de ônibus. Entenda

Índice


Panorama geral

Segundo definição da Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano, atualmente em processo de liquidação), a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é formada por seis sub-regiões.

Legenda: Mapa da Região Metropolitana de São Paulo. Fonte: Emplasa (sem data)

Esclarecido isso, vamos falar da sub-região Sudoeste. De todas as sub-regiões da RMSP, a Sudoeste possui a peculiaridade de não possui um único quilômetro de trens metropolitanos ou corredores de ônibus. Algumas cidades, como Taboão da Serra, sequer possuem terminais de ônibus. Dessa forma, podemos colocar a sub-região Sudoeste como a mais atrasada da RMSP em matéria de mobilidade urbana.

E qual é a importância da mobilidade urbana para uma cidade? Considerando os dados da Emplasa sobre o Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo, das 39 cidades da RMSP as de maior PIB são as que possuem mais equipamentos de mobilidade (trem metropolitano, corredor de ônibus, terminais, etc). A melhor cidade da sub-região Sudoeste, Cotia, está na 13ª colocação e possui apenas terminais de ônibus. Isso demonstra que a mobilidade urbana ajuda a atrair desenvolvimento para uma cidade. Os custos de seus projetos devem ser encarados como investimentos em melhor qualidade de vida para a sociedade. Mas isso não ocorre na sub-região Sudoeste. E não faltaram projetos para essa região:

Legenda: Relação de projetos que dialogam com a sub-região Sudoeste. Confira imagens e links na seção “Projetos” abaixo

Como podemos observar, o governo do estado investiu em vários projetos de melhoria da mobilidade urbana na sub-região Sudoeste mas (exceto por parte do Programa de Abrigos Metropolitanos da EMTU) nenhum saiu do papel.

A implantação desses projetos não foi feita por quais motivos? Vejamos:

  • Financeiro: os projetos da EMTU eram bem mais baratos e de fácil implantação do que outros de mobilidade. Isso, porém não impediu a EMTU de ter seus orçamentos engolidos por grandes projetos da CPTM e da Cia. do Metrô;
  • Político: não existiu mobilização real dos políticos da região Sudoeste em torno dos projetos, exceto por posicionamentos pontuais fracos de alguns deputados estaduais;
  • Desconhecimento: os projetos foram mal divulgados, ficando praticamente disponíveis a uma pequena parcela da sociedade (especialistas e ou interessados em mobilidade urbana). Sem que a sociedade conheça os projetos, fica impossível batalhar por eles;
  • Desprezo por projetos da EMTU: parte da sociedade classifica os projetos da EMTU como meras faixas de ônibus, quando o que é realmente proposto é um novo modelo de transporte via BRT (Bus Rapid Transit, Transporte Rápido por Ônibus, aplicação de paradigmas metroferroviários ao transporte por ônibus (com novos terminais, estações e paradas acessíveis, veículos de tecnologia limpa, menor tempo de viagem, melhor integração urbanística às cidades, etc.);
  • Defesa excessiva de projetos caros como o do metrô em Taboão, que é muito necessário, mas acaba monopolizando a atenção da sociedade para um único projeto enquanto o resto da região fica esquecido.

Um projeto tão importante para Taboão quanto o metrô seria o da construção de terminais de ônibus na cidade. Um equipamento simples, mas que melhora a vida dos passageiros por permitir embarque/desembarque mais confortáveis, viagens mais rápidas (por linhas troncalizadas), proteção (por funcionarem 24 horas), praticidade (por ficarem localizados ao lado de centros comerciais) e até mesmo como ponto de referência. Mas a cidade se divide entre o projeto do metrô em Taboão ou a municipalização do trecho urbano da Rodovia Régis Bittencourt.

No programa Pró-Polos, da EMTU, pontos de ônibus em subcentros regionais são transformados em estações de transferência de ônibus, lazer e serviços para a população.

É preciso inverter a lógica de investimentos.

Ao invés de um projeto caro de metrô em Taboão, deve-se investir primeiro em projetos menores, como os de corredores de BRT e/ou VLT (Veículo Leve sobre Trilhos, um tipo moderno de bonde) atendendo a Embu, Cotia, Itapecerica e Taboão, por exemplo. Daí depois se leva o metrô até Taboão para se conectar com os corredores, entretanto, além de não promover melhorias (mesmo as menores), o governo estadual assiste ao corte abrupto de linhas de ônibus metropolitanas forçado pela cidade de São Paulo (que cansou de esperar a EMTU investir em suas linhas e reorganizá-las para funcionarem em harmonia com as da SPTrans).

Até quando a sub-região Sudoeste continuará esquecida pelo estado?


Projetos

CMSP - Taboão da Serra (2005)

Legenda: Perspectiva para implantação de estação intermodal no Largo do Taboão. Fonte: Taboão em Foco (2014)

EMTU - Programa de Abrigos Metropolitanos (2005)

Legenda: Cortes, maquetes e exemplo de abrigo edificado. Fonte: Portfólio de Priscila Ribeiro Jabur (sem data)

EMTU - Programa de Corredores Metropolitanos (2010)

Legenda: Maquete tridimensional de estação de embarque no canteiro central para corredor BRT com área de ultrapassagem. Fonte: EMTU (2013, slide 22)
Legenda: Mapa de corredores previstos. Fonte: Governo do Estado de São Paulo (2016, slide 23)

EMTU - Pró-Polos (2012)

Pró-Polo de Itapecerica da Serra (EMTU, 2012), projeto para a Avenida Nove de Julho, Parque Paraíso em Itapecerica da Serra.

Legenda: Exemplo de Pró-Polo por meio de maquete computadorizada e planta baixa. Fonte: EMTU (2013, p. 31–32)

CPTM - Expansão (2012)

Legenda: Mapa da rede metroferroviária futura para 2030. Fonte: Governo do Estado de São Paulo (2016, slide 22)



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