Por Caio César | 29/10/2021 | 8 min.
Atualização (30/10/2021, 13h35): alguns críticos alegaram que o texto pede empatia, mas não é empático. Sim, o texto não é empático com o ciclista, porque reage a publicações que não foram empáticas com o usuário do transporte público. Princípio da reciprocidade.
Atualização (30/10/2021, 14h07): alguns críticos alegaram que o texto fere os princípios do jornalismo porque supostamente apresenta falsas informações. A menos que os críticos entrem em contato citando quais são as falsas informações, fica o apontamento de que este texto não é jornalístico, apresenta informações apuradas em 25/10/2021 e que o trabalho do COMMU não é obrigatoriamente jornalístico, assim o teor e o tipo textual apresentam variações de artigo para artigo.
Atualização (31/10/2021, 16h36): após a publicação do texto, foram muitos os diálogos produtivos, com pessoas como Anthony Ling (Caos Planejado), Felipe Claros (Bike Zona Leste, com acesso ao grupo do COMMU no Telegram), Lucian De Paula (COMMU), Roberson Miguel (CicloZN), Thomas Wang (Bike Zona Sul) e também a manifestação de pessoas como o Paulo Alves (Bike Zona Sul), no entanto, da parte do autor e/ou do COMMU, não há retratação a fazer. A informação foi divulgada de uma forma no dia 25 e apurações e contatos, inclusive com a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos, foram realizados em seguida, quando este texto já havia começado a ser produzido. Assim, não é preciso nos enviar gravações de ligações para o 0800 da Companhia do Metropolitano ou qualquer outro material com intenção comprobatória, até porque, o ponto do texto é outro: ele trata da reação exacerbada à possível proibição ou aumento das restrições dos horários. No lugar de priorizar apenas quem pedala, o texto prioriza os milhões que usam os trens. Quanto mais se arrastar o tema, mais tempo será gasto a esmo, o que só vai reforçar a crítica de que o usuário do transporte público é uma figura invisível, marginalizada e obrigada a aceitar todo tipo de ônus, já que não tem poder de lobby e muito menos encontra amparo em múltiplas organizações sociais. É uma pena que nossos artigos a respeito da privatização de linhas, extinção de estatais de planejamento e tantos outros problemas, não tenham despertado tanta atenção quanto este.
Os mesmos trens do METRÔ (Companhia do Metropolitano de São Paulo) e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) circulam lotados durante os horários de pico.
Os mesmos trens do METRÔ e da CPTM possuem, a critério de suas companhias, restrições para utilização que visam viabilizar uma operação que não é conhecida por proporcionar conforto, mas rapidez (e nem sempre tanta rapidez assim, infelizmente).
Acreditamos que a maioria dos usuários entendem as limitações acima e que muitos, ainda que não possam se manifestar, estão ávidos por formas de aumentar o conforto, reduzir a superlotação e, até mesmo, encurtar as distâncias das viagens, que geralmente são feitas a contragosto (ninguém sai para trabalhar viajando dezenas de quilômetros por dia por prazer, mas por necessidade).
Mas há um tipo de usuário que parece não entender qual é a utilidade de um trem e quais tipos de problemas enfrentam a maioria dos passageiros.
Um tipo de usuário que, não raramente, quando incorpora a figura de militante, se importa apenas com seu veículo de transporte individual.
Não, não estamos falando de motoristas que, se pudessem, retirariam os trilhos e colocariam asfalto no lugar — ou será que… melhor deixar pra lá.
Estamos falando de você, ciclista, que, num rompante de desespero, achou que seria um absurdo caso a CPTM e/ou o METRÔ precisassem reintroduzir limitações para o transporte de bicicletas nos trens. Tudo porque saiu compartilhando um comunicado (que não será reproduzido aqui) sem apurar previamente as informações e, assim, aproveitou para demonstrar desprezo pelo restante da população.
Mas… e se as companhias precisassem restringir dias e horários para embarque com bicicletas, alguém, em sã consciência, diria que nossos trens estão circulando vazios? Não vamos entrar no mérito dos dias e horários, vamos entrar no mérito das objeções. Não encontramos ninguém defendendo quem usa transporte público nas páginas de cicloativismo que reproduziram o comunicado na última segunda-feira, 25.
Então, antes que seja tarde, vamos pactuar algumas coisas ao tipo de objeção que estava presente em resposta ao comunicado, já que o ativismo paulistano não raramente é composto por indivíduos com muito mais tempo de aeroporto do que de periferia.
Introdução Tudo bem, São Paulo é gigante, tudo bem, envolver toda a Grande São Paulo torna tudo mais gigante ainda, mas por qual motivo a gente, que discute e luta por cidades melhores, precisa repetir os mesmos erros da imprensa e mais uma porção de pessoas, que só olham para meia dúzia de bairros e esquecem de todo o resto? Pior, por qual motivo a população que vive na parte esquecida só se torna importante quando realmente é conveniente para ser lembrada, como para ser utilizada como escudo ou munição em discussões, disputas políticas etc?
Porque a demanda chegou a cair pela metade!
Um trem da CPTM, que possui oito carros e apenas cerca de 300 assentos, transporta, quando lotado, cerca de 3 mil pessoas. O número de assentos é intuitivo: a imensa maioria vai em pé. A população disputa o lugar sentado com correria e empurra-empurra. Agressões são muito comuns, mesmo que a maioria delas sejam leves ou verbais.
Se o cicloativista não sabe disso, é porque não conhece o sistema. Se não conhece o sistema, deve buscar dialogar com quem conhece antes de publicar comunicados que não refletem a realidade. Deve buscar conhecer por conta própria. A ignorância com relação às desigualdades da Região Metropolitana de São Paulo é um problema único e exclusivo do cicloativista, que não pode ser transferido para quem embarca diariamente nos trens e espera encontrar o mínimo de obstáculos possíveis.
Não, descabido é confundir trem de passageiros, ainda mais um trem metropolitano de passageiros, com um trem regional europeu, num contexto bastante distinto de uso e ocupação do solo, para não falar da renda e da complexidade econômica.
Descabido é encontrar comentários defendendo que carros inteiros do trem sejam utilizados para transporte de bicicletas. Claro, vamos deixar de transportar cerca de 300 pessoas para levar um punhado de bicicletas e seus proprietários. A população da periferia vai aplaudir a medida, temos certeza!
Por que o cicloativismo não envida esforços para tornar a malha da CPTM mais próxima de um metrô regional aos moldes da RER (Rede Expressa Regional) da Ilha de França (a região metropolitana de Paris)?
Por que o cicloativismo não envida esforços em prol da implantação de trens regionais verdadeiramente competitivos e capazes de transportar bagagens e bicicletas?
Porque ninguém usa o transporte público pra valer.
Porque falta interesse.
Porque falta vergonha na cara.
Porque ninguém compreendeu ainda que ciclistas continuarão morrendo enquanto a mobilidade ativa não caminhar lado a lado com as questões da infraestrutura (geralmente de alto impacto) de transporte público.
Doa a quem doer.
Não resolveremos um problema abrindo margem para o surgimento de outro.
A reclamação é autoexplicativa. Faz-se necessário ampliar a política de park and ride orientada para as bicicletas, não forçar utilizações incompatíveis com a realidade territorial da principal metrópole paulista.
Durante os anos pandêmicos, que ainda não terminaram, poucos foram os esforços tornados públicos para a ampliação de bicicletários na malha de trilhos. E, ironicamente, a maioria dos bicicletários estão na parcela da malha mais marginalizada e que, definitivamente, não dialoga com o recorte do cicloativismo paulistano.
Não, porque a prioridade é transportar pessoas. Sempre foi transportar pessoas. E, caso não seja suficientemente óbvio, bicicletas obstruem a escada rolante por completo e impedem que outros possam subir com maior rapidez pelo lado esquerdo.
Como é hoje (2021)
- Horário para embarque com a bicicleta: segunda a sexta, das 10h-16h e a partir das 21h, e aos sábados, domingos e feriados durante todo o dia;
- Bicicletários sob responsabilidade da CPTM: das 4h-0h;
- Bicicletários sob responsabilidade da CCR ViaQuatro: das 4h40-0h (Estações Fradique Coutinho e Pinheiros) e das 6h-22h (Estações Butantã e São Paulo-Morumbi);
- Bicicletários sob responsabilidade da CCR ViaMobilidade: das 6h-22h;
- Bicicletários sob responsabilidade do METRÔ: das 7h-20h.
Como era antes (2019)
- Horário para embarque com a bicicleta: segunda a sexta, a partir das 20h30, aos sábados a partir das 14h e aos domingos e feriados durante todo o dia;
- Bicicletários sob responsabilidade da CPTM: das 4h-0h;
- Bicicletários sob responsabilidade da CCR ViaQuatro: das 4h40-0h (Estações Fradique Coutinho e Pinheiros) e 6h-22h (Estações Butantã e São Paulo-Morumbi);
- Bicicletários sob responsabilidade da CCR ViaMobilidade: das 6h-22h;
- Bicicletários sob responsabilidade do METRÔ: das 7h-20h.
Outras observações
Utilizando como exemplo o regulamento “Ciclista Cidadão” da CPTM, os funcionários possuem discricionalidade a respeito da liberação das bikes, vide regra 15: “os funcionários poderão impedir o acesso de ciclista em casos de anormalidade no sistema ou situações de grande fluxo nas estações e trens”; tanto que devem ser acionados para liberação da passagem, vide regra 5: “informe a um funcionário que você está portando a bicicleta antes de validar seu bilhete, para ter sua passagem autorizada através da cancela / portão”. Regras similares estão presentes em páginas dos sites da ViaQuatro, ViaMobilidade e do METRÔ.
Se você ainda não acompanha o COMMU, curta agora mesmo nossa página no Facebook e siga nossa conta no Instagram. Veja também como ajudar o Coletivo voluntariamente.
comments powered by Disqus