Por Caio César | 25/06/2022 | 4 min.
Este artigo é o segundo de uma série especial de artigos sobre os 30 anos da CPTM.
Quem acompanha nossa produção de conteúdo há algum tempo, sabe que temos na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) um foco especial, fruto de uma visão de longo prazo para o desenvolvimento socioeconômico não só da RMSP (Região Metropolitana de São Paulo) e da RMJ (Região Metropolitana de Jundiaí, recém-criada), que abriga municípios de extrema importância para a economia paulista, como a capital, São Paulo, e cidades como as de Barueri, Mogi das Cruzes, Osasco, São Bernardo do Campo e Santo André. As sete linhas do Trem Metropolitano da CPTM se colocam como o principal sistema nervoso dessa mancha urbana, sendo seu único meio de transporte de alta capacidade verdadeiramente capilar na escala metropolitana, assumindo o desafio de transportar pessoas entre 23 municípios.
Ao completar 30 anos, a CPTM não só atingiu um importante marco enquanto parte do governo estadual, mas também enquanto agente transformador de um território diverso, permeado por profundas assimetrias, que não raramente refletem e se encontram refletidas nos serviços prestados pela Companhia. Historicamente, sua evolução no tempo e no espaço sempre foi marcada por incertezas políticas: desde sua criação no início da década de 1990 até os dias atuais, a sombra da privatização sempre pairou sobre os trilhos da estatal.
Apesar da constante participação de bancos de fomento internacionais, projetos como o antigo Integração Centro, responsável pelas obras de remodelaram as estações Brás e Luz na primeira década de 2000, não lograram êxito no fatiamento e concessão de linhas isoladas ou conjuntos de linhas. O status quo, entretanto, foi abalado em menos de duas décadas, ruindo após a ascensão de João Doria (PSDB) ao posto de governador do estado de São Paulo.
Com o então novo governador, a manifestação realizada pela Triunfo em torno da concessão das linhas 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e 9-Esmeralda (Osasco-Mendes·Vila Natal), originalmente enxergada por nós como um movimento estranho, dada a situação pouco competitiva da empresa, se transformou na antessala de um pesadelo e abriu espaço para a publicação de um edital que culminou na celebração de um contrato de 30 anos com o Grupo CCR (antiga Companhia de Concessões Rodoviárias), por meio da ViaMobilidade.
É irônico, em meio a acidentes e demonstrações de imperícia e amadorismo, observar que o contrato celebrado com a ViaMobilidade deve durar por um período que se iguala à idade da CPTM. Da nossa parte, não há um sentimento capaz de descrever a concessão que não se oscile entre uma mistura de angústia, tristeza e lamentação. Não só a estatal vive um momento de desidratação, perdendo funcionários (como aqueles que faleceram se expondo à COVID-19 e cuja reposição, a rigor, deveria se dar via concurso público) e, sobretudo, perdendo recursos do estado (que custeia insumos e empenha milhões em obras que expandem e melhoram o sistema), como já teve duas linhas “sequestradas” pela CCR e pode perder uma terceira, a Linha 7-Rubi (Brás-Francisco Morato-Jundiaí), potencialmente minando o Serviço 710, que unifica a operação da Linha 7 com a da Linha 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra).
É evidente que o Trem Metropolitano nunca foi perfeito, muito pelo contrário, seu estado atual, ainda que insatisfatório, é produto de uma complexa teia de decisões, diversas delas alvos de críticas ou questionamentos que partiram do Coletivo. Tememos, porém, que a concessão das linhas 8 e 9 seja o primeiro capítulo de uma desastrosa cadeia de eventos, causando prejuízos inestimáveis às vidas de centenas de milhares de pessoas.
Esperamos que a próxima década seja símbolo de investimentos vigorosos na CPTM, reduzindo ou eliminando o espaço para novas privatizações aventureiras, seja qual for o modelo escolhido. A população de uma das maiores metrópoles latino-americanas não pode ser feita de refém ou servir como cobaia em decorrência de escolhas ideológicas irresponsáveis, que negam a máquina pública em troca de uma aposta arriscada em torno de uma pretensa superioridade privada.
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