Apenas gente estúpida defende privatização durante uma greve

Por Caio César | 23/03/2023 | 3 min.

Legenda: Estação Brooklin
Como de praxe, a curta greve metroviária foi recebida nas redes sociais com paus e pedras. Comentários exigindo a privatização da Companhia do Metropolitano (Metrô, como normalmente é grafada) afloraram a partir dos esgotos cibernéticos

A postura revela, além de ausência de consciência de classe e do ruído provocado por reacionários de fora do estado, uma imensa dose de estupidez, que ainda não sabemos ser fruto de maucaratismo ou ingenuidade.

Considerando a arquitetura problemática da Câmara de Compensação, que tem sido questionada devido ao descolamento entre a “tarifa de balcão” (aquela que o passageiro efetivamente paga) e a “tarifa real”, aquela que a concessionária efetivamente recebe, sugando recursos das operadoras estatais, bem como os problemas acintosos da concessão das linhas 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e 9-Esmeralda (Osasco-Mendes·Vila Natal), é lamentável a insistência de alguns em pautar a privatização de forma revanchista e desqualificada.

Ao longo dos últimos anos, que marcam mais de uma década de privatização crescente, geralmente por meio de concessões patrocinadas, podemos observar indícios de fragmentação e enfraquecimento de todo o sistema metroferroviário. A preocupação com arte e cultura, marcante na “tríade clássica” de linhas do Metrô (1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha), por exemplo, desaparece nas linhas arquitetadas para concessão (4-Amarela, 5-Lilás e 15-Prata). A escassez de materiais e funcionários, que antes afetava principalmente a CPTM, agora pode ser observada no Metrô.

A privatização, tal como é defendida, de forma vazia e perigosa, não passa de um cheque em branco. As discussões são marcadas por cegueira ideológica e negacionismo, ignorando cinicamente as experiências negativas acumuladas. Tal como tem sido colocada e defendida, a privatização não oferece uma boa relação custo × benefício.

Aproveitamos este artigo para manifestar apoio ao Sindicato dos Metroviários, pois a greve é um direito garantido por lei. A vida na cidade é permeada por uma complexa teia de serviços públicos e privados, sendo razoável que parte deles apresentem algum nível de interrupção ao longo do ano, entretanto, acreditamos que as greves envolvendo empresas estatais e funcionários públicos, mesmo aqueles em regime celetista (caso do Metrô e da CPTM), acirram tensões com a classe operária da maior parte das empresas privadas, uma vez que, na prática, a maior parte da população não goza de capacidade grevista, sendo representada por sindicatos enfraquecidos ou alinhados com os setores patronais.

Dado o atual estado das coisas, nos é inevitável a admissão de que paira uma nuvem sombria e assustadora sobre o futuro do sistema metroferroviário. O pior da tormenta ainda está por vir e, enquanto isso, há pouca margem para barrar os planos de uma gestão que demonstra ser amadora e pequena demais para enfrentar os desafios paulistas.

Com contratos longos e garantistas, que não estimulam um volume adequado de investimentos, a população da maior metrópole da América do Sul poderá estar diante de um retrocesso dramático e duradouro. Na melhor das hipóteses, a qualidade vai cair e a malha vai estagnar, na pior das hipóteses, a incapacidade da iniciativa privada, resultando em acidentes e inviabilidade econômica, poderá resultar em passageiros mortos ou mutilados e intermitência na prestação de serviços.

Mesmo com o avanço dos planos, resultando em desmonte e precarização, o COMMU seguirá defendendo a expansão e qualificação de todo o sistema metroferroviário. Nenhum contrato terá a capacidade de eximir o poder público de suas responsabilidades.

Que tenhamos piedade de nós mesmos.




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