Terminal Vila Carrão × greve no Metrô: alternativas

Por Caio César | 28/03/2023 | 7 min.

Legenda: Ônibus da Linha 407R-10 na Vila Formosa
Seja qual for sua motivação, dependendo do destino e conhecendo determinadas linhas de ônibus e da CPTM, pode ser possível driblar greves

Índice


Introdução

Com o gigantismo de São Paulo e um jornalismo cada vez mais precarizado, não raramente, fiquei com a percepção de que a cobertura da imprensa deixou a desejar durante as greves em diferentes linhas do sistema metroferroviário. Neste artigo, gostaria de compartilhar algumas estratégias para a região que eu estou chamando de “bacia do Terminal Vila Carrão”.

Inserção do Terminal Vila Carrão

Conforme o mapa a seguir, o referido terminal está localizado à Avenida Dezenove de Janeiro, 884, mais ou menos no meio dos troncos viários que articulam tanto as antigas cercanias da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) em direção ao leito da ferrovia, notadamente na porção paralela e adjacente à Radial Leste, quanto os novos vetores de expansão ao longo do rio Aricanduva.

Legenda: Bacia do Terminal Vila Carrão. Clique para abrir a imagem

Com base nos dados disponibilizados por meio dos recursos para pessoas desenvolvedoras da São Paulo Transporte (SPTrans), coletamos dados em formato GTFS (General Transit Feed Specification ou Especificação Geral de feed de Transporte Público), a partir dos quais elaboramos, entre outros produtos, a seguinte relação de linhas de ônibus.

Legenda: Relação de linhas de ônibus que atendem o Terminal Vila Carrão

Linhas de ônibus que mencionam explicitamente o Terminal Vila Carrão no letreiro (seja na ida, seja na volta) foram classificadas como linhas internas, do contrário, foram classificadas como linhas externas, independente de adentrarem ou não nas dependências do terminal.

Como podemos observar, o Terminal Vila Carrão contribui na alimentação dos terminais urbanos erguidos com as estações da Linha 3-Vermelha (Corinthians·Itaquera-Palmeiras·Barra Funda) em meados dos anos 1980, dada a presença das linhas como 407R-10, 3763-10 e 351F-10. Indiretamente, dada a presença da linha 574J-10, o terminal contribui para a alimentação das estações Vila Prudente, Sacomã e Ipiranga; e, dada a presença da linha 2100-10, para a alimentação da Estação Mooca.

Estratégias

Num cenário de indisponibilidade da tríade da Companhia do Metropolitano de São Paulo (normalmente, grafada como Metrô), nomeadamente 1-Azul (Jabaquara-Tucuruvi), 2-Verde (Vila Prudente-Vila Madalena) e 3-Vermelha, os trajetos dos ônibus alimentadores associados ao terminal, ainda assim, permitem a formulação de algumas estratégias envolvendo a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a saber:

  • Utilização do Serviço 710 (Rio Grande da Serra-Jundiaí) para acesso à região central (estações Brás, Luz, Palmeiras·Barra Funda e Lapa);
  • Utilização da Linha 11-Coral (Luz-Estudantes) para acesso à região central (estações Brás e Luz) e ao polo institucional de Itaquera;
  • Utilização da Linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana) para acesso à região central (Estação Brás).

Observação: embora o Terminal Vila Carrão possua linhas em direção à Praça da Sé e ao Terminal Parque Dom Pedro II, em momentos de estresse do sistema de ônibus devido à redução na oferta do transporte sobre trilhos, estas podem se mostrar uma alternativa inadequada. O entorno do Terminal Parque Dom Pedro II pode ficar especialmente complicado e, considerando a escassez de alternativas de alta capacidade por ali em dias de greve das linhas 1-Azul e 3-Vermelha, eu aconselho evitar, a menos que existam boas informações sendo noticiadas ou disseminadas por pessoas de confiança.

Das três linhas da CPTM listadas anteriormente, o Serviço 710, que opera unificando as linhas 7-Rubi (Brás-Francisco Morato-Jundiaí) e 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) costuma apresentar menor saturação, porém, o acesso precisa ser feito a partir das estações Ipiranga (melhor trajeto, via 574J-10) ou Mooca (pior trajeto, via 2100-10). Evidentemente, para quem embarca diretamente no terminal, é possível viajar com relativo conforto, desde que não existam restrições de tempo para aguardar na fila até conseguir um assento.

O caso das linhas 11-Coral e 12-Safira é mais delicado. No caso da Linha 11, sempre existe a possibilidade de aumento na demanda devido à paralisação da Linha 3, resultando na degradação das condições de embarque e desembarque nas estações Corinthians·Itaquera e Tatuapé, porém, como a linha costuma ser preterida mesmo em dias de longas filas na Estação Tatuapé (como aconteceu na paralisação contra a reforma da previdência, em 2019), costuma existir uma boa chance de conseguir embarcar. A Linha 12-Safira sofre de forma parecida, uma vez que parte das cercanias deliberadamente a despreza – há até quem demande uma linha nova e redundante –, preferindo utilizar a Linha 3-Vermelha em dias normais.

Na minha experiência, parte da população ou não consegue estabelecer boas rotas alternativas ou aborta completamente a viagem, o que pode contribuir para reduzir a lotação em vários trechos ou linhas inteiras do sistema. Em situações de greve ou operação em regime de contingência da tríade de linhas de metrô, já tive sucesso utilizando tanto as linhas 11 e 12 a partir da Estação Tatuapé, quanto o Serviço 710 a partir da Estação Ipiranga.

Encarar as ruas paulistanas durante uma greve da Companhia do Metropolitano (normalmente, grafada como Metrô) e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), para muitas pessoas, não temos dúvidas, é sinônimo de incerteza e aborrecimento. Ontem, 24 de março, diante da intransigência dos dirigentes do Metrô e do governador recém-eleito, Tarcísio de Freitas (Republicanos), São Paulo amanheceu sem a operação das linhas 1-Azul (Jabaquara-Tucuruvi), 2-Verde (Vila Prudente-Vila Madalena), 3-Vermelha (Corinthians·Itaquera-Palmeiras·Barra Funda) e 15-Prata (Vila Prudente-Jardim Colonial).

Em linhas gerais, o acesso ao vetor leste-oeste costuma permanecer em condições razoáveis, o que significa não só acesso à Zona Central, mas também à Barra Funda, Lapa e toda a região da Marginal Pinheiros. Ademais, a Linha 4-Amarela (Luz-São Paulo·Morumbi), pelo seu caráter integrador, altamente dependente da movimentação oriunda de outras linhas, costuma operar com maior ociosidade (foi o caso em 2017 e em 2018), permitindo acesso à Avenida Paulista e oferecendo uma alternativa às linhas 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e 9-Esmeralda (Osasco-Mendes·Vila Natal) para acesso à região da Marginal Pinheiros.

Ao longo de quase uma década escrevendo no COMMU, perdi a conta de quantas vezes sugeri vivamente a exploração de toda a malha de transporte sobre trilhos, não só para quebrar tabus e preconceitos associados à CPTM ou determinadas parcelas da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), mas também para estimular aumentar a familiaridade e a capacidade de sobrevivência das pessoas em situações atípicas.

Utilizar a Estação Ipiranga possui um efeito pedagógico não só para romper com visões preconceituosas e distorcidas em relação ao Trem Metropolitano, mas também por exigir contato com realidades recorrentemente evitadas ou negadas pelas classes médias e altas. Falo precisamente da favela que existe no principal acesso. Em uma década de utilização, mesmo após 22h, nunca tive problemas. A versatilidade do Serviço 710 e da estação, vizinha a um supermercado e um shopping center – é possível observar funcionários dos dois estabelecimentos indo e vindo em diferentes horários –, por si só, justificam uma utilização mais constante da estação. O grande vilão não é a favela ou a CPTM, mas o anacronismo da 574J-10, que pode decepcionar bastante, principalmente fora dos horários de pico e aos finais de semana.

Já a Estação Tatuapé dispensa comentários. Dois shoppings centers, dois terminais e três linhas da CPTM, além da Linha 3-Vermelha do Metrô. Localizada a cerca de 40 minutos do Terminal Vila Carrão, sua alimentação através da Vila Formosa remonta aos tempos da Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC). Justamente pela presença de múltiplas linhas da CPTM, mesmo se a Linha 11 estiver ruim, é possível recorrer à Linha 12 para acessar o Serviço 710.

Finalmente, eu ainda recomendo que as pessoas busquem familiaridade com linhas como 5630-10 (Terminal Grajaú-Metrô Brás), 709M-10 (Terminal Santo Amaro-Terminal Pinheiros) e 6414-10 (Socorro-Terminal Bandeira). 5630-10, em conjunto com as linhas do Largo do Paiçandu, pode ser uma aliada para acesso à Barra Funda e à Lapa em dias de greve ou falha na CPTM, além de poder ser utilizada como uma alternativa para acesso ao Terminal Bandeira – cruzando todo o Vale do Anhangabaú a pé, adianto –, enquanto as duas últimas permitem caminhos alternativos quando as linhas 5-Lilás e 9-Esmeralda, por algum motivo, não são tão convenientes. Por exemplo, eu utilizei a 6414-10 num domingo de março, combinada com as linhas 3-Vermelha e 3763-10. A 6414-10 passa pelo Corredor 9 de Julho, logo, pode facilitar o acesso à Avenida Paulista na altura do MASP.




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