O serviço “expresso” da Linha 13 não é bom

Por Richard Melo | 10/04/2023 | 5 min.

Legenda: Trem partindo da Estação Aeroporto·Guarulhos
Tal como implantado, o “Expresso” Aeroporto não passa de uma falácia: interferindo em duas outras linhas da CPTM, na maioria das viagens as composições enfrentam congestionamento e precisam aguardar a liberação de sua passagem ou mudança de via

No último dia 07, o Plamurb publicou o artigo “Expresso Aeroporto da Linha 13-Jade: um serviço que continua muito bom”. Como usuário diário do serviço, tendo a discordar da opinião do colega.

Antes gostaria de contextualizar minha relação com a linha. Em 2020 eu morava no Parque Belém, em São Paulo, e trabalhava em Guarulhos, no bairro Novo Recreio. Por conta disso, era um usuário assíduo do serviço Connect, que ligava as estações Brás e Aeroporto·Guarulhos, passando pelas estações Tatuapé, Engenheiro Goulart e Guarulhos·CECAP. Antes disso, cheguei a usar o serviço como alternativa à lotada Linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana), indo até Engenheiro Goulart pelo serviço Connect e somente lá pegando a Linha 12 até a USP Leste, onde estudo. Hoje, 2023, eu moro no bairro Novo Recreio e trabalho no Itaim Bibi, na Zona Oeste da capital, sendo usuário assíduo do serviço existente entre as estações Aeroporto·Guarulhos e Luz.

Um ponto importante que deve ser esclarecido, é que o serviço intitulado Expresso Aeroporto não se trata do resultado de um estudo da rede e de eventuais impactos que o mesmo traria. Em janeiro de 2021, pouco tempo depois do início de operação do novo serviço, solicitei através do SIC o relatório técnico que embasou a decisão de extinguir o serviço Connect e alterar o serviço Expresso. Obtive como resposta o seguinte:

Esclarecemos não existir um estudo específico formalizado em relatório, tratando-se de uma decisão operacional, que passou a beneficiar os passageiros de Guarulhos com viagens diretas até o centro (Luz) a cada hora, com tarifa unificada com a do sistema metroferroviário.

Ou seja, não foi feito qualquer estudo consistente de avaliação dos impactos do serviço nas vias atingidas ou mesmo nas estações envolvidas, particularmente a Luz. Hoje, no horário de pico da tarde, percebe-se um gargalo tremendo no acesso às plataformas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) na Luz, com a situação agravada nos horários que antecedem as partidas da Linha 13-Jade. Por ser um serviço de hora em hora, as pessoas tendem a se programar para chegar próximo ao horário de partida dos trens, congestionando o acesso do Metrô (Companhia do Metropolitano de São Paulo) e da ViaQuatro à CPTM. Os conflitos no fluxo de pessoas são notáveis tanto no acesso quanto na plataforma 4, de onde partem os trens da Linha 11-Coral (Luz-Estudantes) e de onde pode-se acessar a plataforma 5, que nada mais é que um puxadinho da anterior e de onde partem os trens da Linha 13-Jade.

A Estação Luz não tem infraestrutura suficiente para manter esse serviço. A ausência de plataformas e o gargalo do fluxo de pessoas são os exemplos mais notáveis de problemas que ocorrem no local. Mas há também outro problema sério, o impacto do serviço na Linha 11-Coral, a mais carregada da CPTM. A Linha 11 hoje oferece intervalos de 4 minutos no horário de pico, um número extraordinário, que supera muitos sistemas metroviários de outros estados. Entretanto, o intervalo precisa ser aumentado nos momentos em que o trem da Linha 13 utiliza a mesma via, o que ocasiona desequilíbrio na oferta de viagens e consequentemente superlotação nas viagens afetadas. Outro problema é a necessidade de paradas das composições por conta da capacidade das vias. Já cheguei a ver quatro composições que seguiam sentido Luz paradas aguardando liberação de circulação, sendo que a primeira da fila encontrava-se na plataforma 3 aguardando a liberação de passagem. Três composições lotadas tiveram que ficar paradas por conta de um trem que seguia praticamente vazio no contrafluxo para Guarulhos.

O atual governo estadual tem falhado na tentativa de tentar tornar a Linha 13-Jade (Eng. Goulart-Aeroporto·Guarulhos) mais atrativa. Em que pese as limitações orçamentárias, os esforços envidados até o presente momento parecem ter sido apostas, no mínimo, duvidosas. A ligação entre a capital e o aeroporto internacional foi implantada no primeiro quadrimestre de 2018. Não há como o governo imprimir uma marca positiva diante das carências históricas de infraestrutura que tem falhado em sanar.

O serviço Connect afetava a Linha 12-Safira, mas de uma forma menos problemática, pois além de haver plataforma exclusiva no Brás para o serviço, não afetava mais de uma linha. O serviço Expresso Aeroporto, ao ter que acessar vias de duas linhas, provoca interferência em ambas, fazendo com que a Linha 11, indiretamente, acabe afetando o tráfego da Linha 12 e vice-versa. Ademais, a ideia de ser “expresso” é uma falácia, pois na maioria das viagens a composição precisa parar para aguardar liberação para mudança de via. É comum ocorrer situações bizarras nas quais o trem pára praticamente alinhado com as plataformas das estações Engenheiro Goulart e Tatuapé por conta de restrições na mudança de via, chegando a confundir alguns passageiros que se dirigem às portas na expectativa de desembarcarem. Para ser chamado de expresso, no mínimo deveria haver vias auxiliares de ultrapassagem que garantiriam o fluxo contínuo do serviço. Mas por uma visão provavelmente marqueteira, suprimiram-se as paradas intermediárias, prejudicando muitos passageiros que tinham como origem ou destino a região do Tatuapé, uma centralidade importante da Zona Leste e com conexões com as Linhas 3 e 11, além de onerar a operação, tendo em vista que um atendimento que poderia ser realizado por uma composição é feito por duas no trecho Engenheiro Goulart-Aeroporto·Guarulhos.

Por conta disso, não considero o serviço “Expresso” um serviço bom, e defendo que ele seja retirado da estação Luz. Defendo, como alternativa para os moradores de Guarulhos (uma variável sempre ignorada quando se debate a Linha 13) e também para os usuários do Aeroporto Internacional, a volta do serviço Connect, que operava com intervalos de 40 minutos no horário de pico. A expansão da operação do Connect para o dia todo, apesar de afetar a operação da Linha 12, teria um impacto no sistema menor do que o atual serviço “expresso”, além de propiciar mais conexões e também servir de alternativa para os próprios usuários da Linha 12 entre Engenheiro Goulart e Brás.




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