Moradia e infraestrutura não podem virar pretexto contra verticalização

Por Caio César | 04/06/2023 | 3 min.

Legenda: O maravilhoso entorno do eixo do corredor de ônibus da Chucri Zaidan, a uma distância caminhável do MorumbiShopping e da Estação Morumbi
Poucas horas depois de publicar um artigo a respeito do discurso hipócrita de alguns nomes da academia, recebi mais críticas de gente que, aparentemente, não entendeu o que está em jogo. Vou tentar explicar, pela milésima vez

A necessidade de moradia popular é inegável, no entanto, não é possível acreditar que o discurso contrário à verticalização, que transformou intelectuais progressistas em aliados de associações reacionárias de bairro, virtualmente criando uma linha auxiliar à direita de Ricardo Nunes (MDB), possui em seu bojo a exclusão porque encampa uma noção favorável à moradia popular.

“Todo mundo quer poder morar numa casa, ou num bairro que tenha uma verticalização não tão grande”, assim começa a fala de Paula Santoro, uma das representantes da intelectualidade da Universidade de São Paulo (USP). A construção de prédios em vez de casas vai desconfigurar bairros, destruir quadras e, por consequência, modos de vida. O alerta é da coordenadora do LabCidade, @paulafsantoro. Em entrevista na @CBNoficial , Paula detalhou os efeitos nefastos do PL da revisão do Plano Diretor.

É preciso parar de defender reacionários erguendo escudos (ou muletas) criados a partir de pautas legítimas. Trata-se de uma tática desonesta e que aumenta o nível de hipocrisia das discussões em torno da revisão do Plano Diretor Estratégico (PDE) da capital.

Sejamos francos: os níveis de desonestidade e hipocrisia já estão suficientemente altos. A maior parte da população segue alijada. Vozes qualificadas, mas dissonantes, continuam asfixiadas e correndo por fora, o que reforça uma disputa bastante desigual por espaço e protagonismo.

No momento, minhas posições dentro do Coletivo se limitam à redução de danos. Organizações com maior capitalização, inclusive com recursos oriundos de fontes internacionais, possuíam capacidade inegavelmente maior do que o COMMU, no entanto, pouco ou nada fizeram para disputar habitações de interesse social (HIS), habitações de mercado popular (HMP) e infraestrutura de mobilidade coletiva (como ônibus e bondes) e ativa (como calçadas com mobiliário e sinalização e ciclovias devidamente segregadas).

Não vou me estender mais uma vez. Enquanto ciclistas e cicloativistas morrem pedalando em “ciclosarjetas”, um pequeno grupo de proprietários do Centro Expandido captura as bicicletas para barrar a verticalização. A mesma coisa acontece com as habitações, enquanto mal digerimos os falecidos da última temporada de chuvas, alguns deles expulsos para municípios da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), que está repleto de prefeituras com baixa capacidade técnica, institucional e orçamentária.

Aos proprietários privilegiados, o bônus, aos excluídos, o ônus. Às pautas legítimas, a captura.

Na hora de modificar a paisagem romantizada por uma minoria, qualquer coisa se torna pretexto para discussões sem pé nem cabeça a respeito do mercado, como se uma minoria elitista não fosse, ela mesma, artífice de processos mercadológicos baseados na manutenção da escassez, aumento do valor do m² e reforço à exclusividade.




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