Por Caio César | 17/09/2023 | 5 min.
Índice
Olhar limitado
Embora a disputa da prefeitura de São Paulo acabe dominando o noticiário, muitos dos problemas e agonias ligados à capital paulista também são compartilhados pelos municípios da região metropolitana.
O debate ligado ao ordenamento urbanístico paulistano, ou seja, à revisão do Plano Diretor Estratégico e ao zoneamento (oficialmente denominado “Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo”), sugere que boa parte do território nem chega a ser debatido, ou, como Raul Juste Lores alfinetou em vídeo recente, citando as favelas de Paraisópolis e Heliópolis, não chega a “virar assunto”.
Infelizmente, a questão vai muito além das favelas. O debate urbanístico atual, além de extremamente seletivo, está distante até mesmo de boa parte das classes médias. “Virar assunto” é um baita desafio, porque significa comover um pequeno número de pessoas. A maioria de nós não cresceu ou convive com intelectuais que lecionam ou estudaram nas grandes universidades do estado, muito menos tem contatos com políticos proeminentes.
Somos uma multidão de descartáveis. Uma multidão na qual muitas das pessoas morrerão antes da aposentadoria — e extratos mais baixos da classe média não são menos descartáveis, ainda que possam consumir mais ao longo da vida e conquistarem aposentadorias.
Cada vez mais, estou convencido de que o cerne das péssimas discussões urbanísticas está no consumo. Uma parcela do campo progressista parece viver uma síndrome de impostor quando se trata das trocas que realiza em um ou mais mercados. O consumo se entrelaça com uma série de padrões demográficos, dando indícios sobre renda, deslocamentos, nível educacional, entre outros aspectos. É a partir do consumo que sedimentamos nossa relação com a cidade.
Em outras palavras, mesmo o domínio de São Paulo na eleição, está ligado, na prática, a um punhado de distritos (ou CEPs) do Centro Expandido. Tanto é que, mesmo quando pinçamos certas parcelas do território que concentram renda e empregos, abrigando também comércios e serviços mais sofisticados, o resultado é deprimente. O recado que recebemos é claro: Mogi das Cruzes não é assunto, Barueri não é assunto, aliás, nem o Tatuapé é assunto!
Para piorar, existe uma sutil disputa por hegemonia, e o reforço se dá pela rotulagem. Fica a impressão de que os “novos-ricos” são bregas ou, numa expressão mais sofisticada, de que qualquer riqueza produzida fora do Centro Expandido não passa de uma expressão vulgar do capitalismo à brasileira.
Parece absurdo, mas é exatamente o que comentários sobre o “brega” dão a entender. Brega é sempre o outro, mas curiosamente, o outro parece ser o sujeito que conseguiu ascender socialmente e enriqueceu o suficiente para morar no Tatuapé, mas não o suficiente para morar num imóvel de padrão similar às margens do rio Pinheiros, que custaria facilmente cinco vezes mais.
Apesar de estar repleto de coisas questionáveis, é o florescimento de um tecido empresarial no Tatuapé ou em Barueri (mais precisamente, Alphaville) que suscita a rotulagem como “brega”. Ironicamente, o mesmo tecido é, também, a cristalização da expressão “levar emprego para a periferia”.
Tamanha tacanhice é prejudicial para a política.
Longe dos olhares de reprovação dos reacionários urbanísticos dos “três pês do apocalipse” (Pinheiros, Pacaembu e Perdizes), a Porte Engenharia e Urbanismo anunciou seu mais novo empreendimento imobiliário, batizado de Urman São Paulo e posicionado entre o Sesc Belenzinho e a Estação Belém da Linha 3-Vermelha (Corinthians·Itaquera-Palmeiras·Barra Funda). De acordo com a Gazeta do Tatuapé, o lançamento ocorreu no último final de semana, durante os dias 18 e 19 de março.
Não podemos continuar a depender de comoção. Nós somos a maioria, um grupo diverso, colorido, multifacetado, mas que não desfruta de uma condição confortável. Exceto pela legitimidade do voto ou das contribuições financeiras, não somos bem-vindos no “baile de máscaras” da política, pagamos a conta e validamos o baile, mas somos barrados na entrada e não escolhemos a música ou o cardápio. Chega de disputar as sobras em meio à luta incessante pela sobrevivência.
Por que construir uma agenda?
A princípio, considerando a nossa trajetória, podemos apostar nos seguintes fatores:
- Organização dos discursos (principalmente futuros, em nossos canais de disseminação de conteúdos);
- Reaproveitamento de propostas (ideias do passado que continuam atuais e relevantes);
- Consumo facilitado (conteúdo mais uniforme, objetivo e sem a fragmentação dos artigos);
- Disseminação mais fácil (compartilhar uma agenda × compartilhar dezenas ou centenas de artigos);
- Pioneirismo em escala metropolitana e interdependente (a maioria das organizações atua de forma muito mais localizada);
- Serenidade (mitigar as pressões típicas de mandatos e organizações da sociedade civil, porque estamos cansados de demandas e pedidos de última hora).
A construção de uma agenda permite ao COMMU consolidar quase uma década de discussões e vivências, reforçando nossa capacidade técnica para diferentes segmentos da sociedade.
Próximos passos
A agenda será oferecida numa plataforma interativa e organização hierárquica, acessível por uma página de boas-vindas, que destacará aspectos-chave.
No momento, estamos avaliando formatos de colaboração e participação, além disso, iniciamos a construção da versão preliminar, que será utilizada para montagem do site.
São os passos previstos na primeira onda:
- Conclusão da versão preliminar;
- Revisão da versão preliminar, que passa a se tornar a primeira versão;
- Definição da estratégia de participação e coleta de percepções;
- Desenho e lançamento da página de boas-vindas;
- Desenho e lançamento da plataforma interativa;
- Definição da estratégia de publicização;
- Avaliação da experiência e definição da segunda onda de passos.
Se você ainda não acompanha o COMMU, curta agora mesmo nossa página no Facebook e siga nossa conta no Instagram. Veja também como ajudar o Coletivo voluntariamente.
comments powered by Disqus