COMMU assina carta pela mobilidade ativa na COP28

Por Lucian De Paula | 09/12/2023 | 4 min.

Legenda: Logotipo da COP28
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) tem histórico de focar em carros elétricos em detrimento da caminhada e bicicletas

Nós do COMMU (Coletivo Metropolitano de Mobilidade Urbana) lemos, endossamos e assinamos a carta produzida pela Partnership for Active Travel and Health (PATH ou Parceria pela mobilidade ativa e saúde, em tradução livre). A iniciativa reforça a necessidade de inclusão da mobilidade ativa nas políticas nacionais e no documento final de compromissos a ser publicado ao fim da COP28.

A carta está disponível na íntegra aqui.

Os signatários da carta buscam aumentar a atenção e o investimento no transporte ativo, visando não apenas a mitigação das mudanças climáticas, mas também benefícios para a saúde pública, redução da poluição do ar, melhoria do tráfego urbano e promoção de sociedades mais equitativas.

Os esforços pela descarbonização e combate às mudanças climáticas têm enorme peso sobre o setor da mobilidade, já que este é um dos maiores responsáveis pelas emissões de carbono no planeta. A carta pede que os países incluam a caminhabilidade e a bicicleta em seus programas nacionais de mobilidade sustentável. Segundo a carta, “possibilitar que mais pessoas caminhem e pedalem com segurança é uma maneira rápida, acessível e confiável de ajudar a reduzir as emissões de transporte em até 50%” e são destacados 5 eixos de ação para que os países incorporem às suas políticas nacionais:

  • Infraestrutura: tornar caminhadas e ciclismo seguros, acessíveis e fáceis;
  • Campanhas: incentivar mudança nos hábitos de mobilidade das pessoas;
  • Planejamento do uso do solo: garantir proximidade e qualidade de acesso a serviços cotidianos a pé e de bicicleta;
  • Integração com transporte público: para articular a mobilidade sustentável viabilizando viagens mais longas.
  • Criação de capacidade: viabilizar a entrega de estratégias eficazes de caminhada e ciclismo que tenham impacto mensurável.
Legenda: Mobilidade ativa, a caminhada e a bicicleta, à frente de uma gama de fontes energéticas renováveis. Fonte: PATH

A mobilidade ativa tem pouca visibilidade nas discussões de cidade, como sabemos por experiência própria. Nos congressos, summits, eventos do setor, não é nenhuma novidade que quem paga a banda escolhe a música. Há muito mais espaço para deslumbre tecnológico como carros autônomos, veículos voadores, picapes elétricas, do que para a boa e velha manutenção de calçada. Os patrocinadores possuem espaço nos painéis, nos seminários, nos displays, nas exibições. Afinal, existe ali alguém vendendo um produto, com a perspectiva de lucrar milhões ou bilhões vendendo uma solução ou se tornando padrão da indústria - algo que não necessariamente tem qualquer relação com a funcionalidade dessa solução ou a eficiência do padrão. Podemos citar aqui o transporte por aplicativo, por exemplo, que prometia livrar as cidades do peso dos automóveis e atender os buracos da “última milha” e acabou aumentando os congestionamentos e a quantidade de quilômetros que as pessoas circulam de automóvel. Ou como o Ministério do Trabalho está pedindo a suspensão de Uber e 99 Moto devido às quedas e mortes provocadas. Ou como a corrida armamentista automobilística, com a tendência dos carros, principalmente os americanos, ficarem cada vez maiores, mais pesados, e com motores mais potentes, está relacionado ao aumento de mortes de pedestres e ciclistas. De qualquer forma, é prudente relembrar como a COP26 sequer mencionava a mobilidade ativa e propunha a transição dos carros elétricos como solução para a descarbonização da mobilidade, ao invés do transporte coletivo. Isso gerou a primeira carta da PATH exigindo a inclusão da mobilidade ativa na COP27, mas o assunto ainda ficou de fora dos palcos centrais.

Não existe um lobby organizado e endinheirado defendendo o feijão com arroz da mobilidade, tarefa que recai sobre uma sociedade civil sobrecarregada e de alcance limitado. Muitas vezes são pessoas defendendo seu próprio direito de não morrer, ou de existir com um mínimo de dignidade. Infelizmente, em geral, há muito menos força nessas causas do que numa munida de acionistas. A carta da PATH, assim como outras iniciativas que já apoiamos, é uma gota no oceano, mas faz parte do trabalho que fazemos na tentativa de organizar e ampliar os esforços na construção de uma mobilidade sustentável e cidades para pessoas. Espera-se que a união de diversas organizações possa pressionar os governos a incluírem as políticas que sabemos serem exitosas, mas que carecem de apoio direto para implementação.

O estudo mais detalhado do PATH pode ser encontrado aqui.

Outras organizações de mobilidade de São Paulo, como o Vá de Bike, o Bike Zona Oeste e o Bike Zona Sul, ou do Brasil, como a UCB e a Transporte Ativo, também assinaram a carta.




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