Por Caio César | 12/02/2024 | 6 min.
Retomando a provocação envolvendo o mercado imobiliário, como seria um futuro arrasado pela privatização de todo o sistema metroferroviário?
Mais pessoas precisariam madrugar ou postergar o expediente, tentando driblar horários de pico ainda mais caóticos?
O êxodo rumo ao interior paulista, parcela do estado sabidamente indutora do uso indiscriminado do automóvel, ganharia ainda mais força?
Imóveis nas localizações com maior e melhor oferta de trabalho disparariam de preço, pois seriam enxergados como uma das poucas alternativas à precarização da Companhia do Metropolitano de São Paulo (METRÔ) e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM)?
Finais de semana e feriados ganhariam uma nova dimensão, com enxames de automóveis buscando o Rodoanel em direção a núcleos de comércio e serviços que, hoje, ainda são menos disputados em comparação com seus primos paulistanos?
Independente do que aconteceria, parece que a situação vergonhosa das linhas 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e 9-Esmeralda (Osasco-Mendes·Vila Natal) não incomoda o suficiente.
Aparentemente, moradores de Francisco Morato, Franco da Rocha e Caieiras vivem uma vida tão fácil, que podem se dar ao luxo de passarem perrengue diariamente ou começarem a serem preteridos em entrevistas de empregos em empresas de São Paulo e Jundiaí.
Não, 2024 não começou e não terminará bem. Centenas de milhares de periféricos, independente do que pensam ou de como votam, terão seu futuro acorrentado a um contrato longo e traiçoeiro entre governo do estado e iniciativa privada. Imaginamos que não seja segredo para ninguém: não haverá oposição contundente. O governo federal investirá recursos da controversa nova versão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), excessivamente focada em obras com baixa relevância para estabelecer uma trajetória positiva para nossos principais tecidos urbanos.
O que mais precisa ser dito?
Por que a ficha ainda não caiu?
Vivemos o resultado de um processo de encolhimento da máquina pública paulista. Nitidamente, os esforços de planejamento estão perdendo qualidade e coesão. A admissão pouco crítica de que o Plano Integrado de Transportes Urbanos (PITU) para o horizonte 2040, na esteira de um plano logístico já concluído, crê piamente na possibilidade de compartilhar faixa de domínio (e, pasme, trilhos) entre serviços metropolitanos e regionais, é um grande atestado de estupidez burocrática.
O governo de São Paulo está desaprendendo como expandir seus sistemas sobre trilhos e a intransigência do atual governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), só contribui para agravar o quadro. O estado do Rio de Janeiro, um de nossos vizinhos, viveu um processo similar nos anos 1990 e o resultado é muito bem conhecido: uma cidade com trens urbanos sucateados e uma única linha de metrô, que se prolonga em direção à Barra da Tijuca e se ramifica em direção à Pavuna.
Alguém, por acaso, acredita que a CPTM coloca trens demais para circular e está ociosa durante os horários de pico? Ora, se sabemos que nossos trens metropolitanos (nome que mascara a existência de uma segunda malha de metrô) circulam superlotados, como aceitamos abrir mão do estoque de terras que permitiria futuras ampliações na capacidade e serviços ofertados?
Desde os anos 1970, sabemos que corredores ferroviários centenários, como o da antiga São Paulo Railway (SPR), que posteriormente seria denominada como Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (EFSJ), e hoje tem trechos operados pela CPTM na forma das linhas 7-Rubi (Brás-Francisco Morato-Jundiaí) e 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra), deveriam estar operando com intervalos de até 3 minutos nos horários de pico.
Repetindo: de até 3 minutos!
E a mesma condição, obviamente, se alastra para outras parcelas da malha, como a Linha 11-Coral (Luz-Estudantes), que já deveria estar operando com 3 minutos de intervalo entre Barra Funda e Suzano, embora algumas figuras do Executivo bolsonarista cogitem, talvez por ingenuidade ou ignorância profundas, criar interferências inserindo trens regionais até São José dos Campos.
Aliás, sobre a promessa envolvendo a Linha 11, contra a epidemia de memória curta, que tal um refresco fabricado em junho de 2004?
O Expresso Leste da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) completou quatro anos de operação no mês passado. Durante esse tempo, transportou 213,5 milhões de passageiros entre as estações Guaianases e Brás, sendo que desde outubro do ano passado se estende até a Estação Luz. É a Linha E da companhia, que serve também as estações José Bonifácio, Dom Bosco, Itaquera e Tatuapé (estas duas ao lado do metrô). Quando o projeto Integração Centro da CPTM estiver concluído, no segundo semestre, o trem irá até a Barra Funda. Existe ainda projeto da companhia de levar o expresso ao município de Suzano, futuramente.
O esgotamento da faixa de domínio da CPTM com projetos de privatização a pretexto da implantação de novos trens regionais, sempre desenhados na lógica do garantismo e da redução de custos, ameaça a integridade da vida na maior metrópole brasileira e compromete a capacidade de expansão dos serviços em direção à Macrometrópole Paulista (MMP; uma proto-megalópole que combina múltiplas regiões metropolitanas do estado).
Prólogo Entre as sugestões das pouco mais de 15 empresas que participaram das sondagens realizadas pelo governo estadual em setembro, comentadas pelo site Metrô CPTM em 18 de novembro de 2021, há elementos preocupantes e que, mais uma vez, reforçam que o TIC (Trem Intercidades) Eixo Norte é um projeto limitado e controverso. Contextualização Parece existir muito pouca preocupação com o bem-estar do passageiro atual da Linha 7-Rubi (atualmente Jundiaí-Brás, como parte do Serviço 710) da CPTM (Companha Paulista de Trens Metropolitanos), fora o pouco dinamismo (ausência de estações e estratégias de desenvolvimento urbano e imobiliário) para as estações do serviço parador que deverá operar entre Francisco Morato e Campinas (chamado de TIM, sigla para Trem Intrametropolitano), compartilhando seus trens com a Linha 7-Rubi e suas vias com o único serviço regional, que deverá ser completamente expresso entre as estações Campinas e Palmeiras·Barra Funda (que é o TIC de facto).
Em outras palavras, o barato está saindo e sairá ainda mais caro!
Aqueles que não possuem alguns milhões de reais de patrimônio e não gozam de elevada mobilidade social, ao contrário do que vem sendo demonstrado nas últimas décadas, deveriam estar mais preocupados com o futuro.
Se você não pode mudar de cidade ou de país como se trocasse de roupa, é melhor começar a pensar no que vai acontecer caso as linhas do Metrô e da CPTM se tornem impraticáveis, independente de utilizá-las ou não.
Mesmo moradores do interior carrista deveriam se preocupar, pois as rodovias, que já congestionam em virtude da nossa sociedade viciada em volante, vão ser um dos primeiros termômetros da catástrofe que parece nos aguardar em um futuro bastante breve.
Que ninguém diga que não avisamos. A porrada vai ser forte.
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