Metropolização em Debate

Gestão frouxa da EMTU transmite abandono e descaso

Introdução Contatar a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) pelos canais oficiais é garantia de respostas genéricas, enviadas na forma de e-mails sem assunto, que não raramente chegam em horários nada comerciais, incluindo domingos. O relacionamento entre a estatal e os passageiros, que dependem dos serviços de permissionários e concessionários, não demonstra ser capaz de entregar soluções e melhorias. Marasmo É lamentável observar que a empresa não possui nenhuma prioridade orçamentária, pois claramente não vai entregar nenhum dos corredores projetados nas gestões passadas.

Continuar lendo

É um equívoco supervalorizar a noção de “mobilidade como serviço”

Foi surpreendente observar que até o ex-Secretário dos Transportes Metropolitanos Jurandir Fernandes embarcou na ideia de que o futuro é a MaaS (Mobility as a Service, livremente traduzida como Mobilidade como Serviço), como revelou artigo recentemente publicado, no entanto, mesmo numa leitura rápida, fica evidente que serviços sob demanda não substituem os serviços convencionais, muito menos ganham caráter estruturador, ou seja, serviços como Uber e similares não serão capazes de moldar o território como ferrovias e corredores do tipo BRT (Bus Rapid Transit, termo que pode ser livremente traduzido como Transporte Rápido por Ônibus).

Continuar lendo

Câmara de São Paulo aprovou mais formas de prejudicar quem usa ônibus

Fazendo coro à nota pública denunciando a postura covarde da Câmara Municipal de São Paulo, gostaríamos de repudiar veementemente não só substitutivo do Executivo ao PL (Projeto de Lei) 513/2019, mas também a postura negligente, preguiçosa, inconsequente e absolutamente retrógrada do Legislativo, que permitiu a aprovação de mecanismos que atacam o já combalido transporte público paulistano. É inaceitável, por exemplo, que a única força progressista a ter se manifestado contra tenha sido José Police Neto (PSD), que se absteve.

Continuar lendo

Discussão sobre clandestinidade do UBus subestima a complexidade do território e da política

A prefeitura de São Paulo, ao interferir na operação dos ônibus executivos recém-lançados pela Metra, contribuiu para alimentar uma série de discursos supostamente favoráveis à inovação tecnológica, empreendedorismo e uma melhor mobilidade. Balela. Como falar de inovação num contexto de monopólios naturais, corporativismo faccional e captura do estado? Para tornar tudo pior, a comparação com a Uber em meio ao buzz que se formou, com sites de tecnologia publicando a respeito (vide aqui, aqui, aqui e aqui), foi uma espécie de tiro no pé da prefeitura da capital paulista, que mais uma vez assumiu o papel de vilão estatal.

Continuar lendo

Populismo ameaça implantação de trens regionais no Estado de São Paulo

Nos últimos meses tem sido constante a necessidade de explicar que não figura como boa prática compartilhar trilhos entre trens de carga, trens regionais e trens metropolitanos, mas a máquina governamental e a imprensa (incluindo veículos especializados) parecem pouco preocupados com a realidade e as possíveis consequências. A última eleição já tinha dado sinais. Atualização (20/06/2019, 21h44): publicamos um vídeo sobre o tema no Facebook e no YouTube, que complementa este e os outros artigos:

Continuar lendo

Tensões entre comerciantes e ciclistas reforçam por que São Paulo peca em qualidade de vida

Contextualização Como temos divulgado, os meses de maio e junho de 2019 são especialmente importantes para a mobilidade ativa na capital paulista, pois uma série de audiências do plano cicloviário estão ocorrendo em paralelo com a consulta online. Em 31/05/2019 foi a vez da audiência para a região Leste 1, que abrange as subprefeituras Penha, Mooca e Vila Prudente. Este texto tem como proposta ser um relato que rebate brevemente alguns dos absurdos proferidos durante a audiência, não se propondo a substituir um artigo anterior que rebate argumentos anti-ciclovia.

Continuar lendo

UFABC: identificando problemas e possíveis soluções de mobilidade

“ Critico os condomínios por não criarem uma vida pública regulada por princípios democráticos, responsabilidade pública e civilidade. (Teresa Pires do Rio Caldeira, Cidade de Muros, p. 277) Introduzindo e contextualizando o assunto Recentemente estive envolvido em discussões sobre a Universidade Federal do ABC (UFABC) e as ligações entre os campi e os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano. Até recentemente os alunos viajavam em pé utilizando um serviço de ônibus fretado que estava desrespeitando a legislação vigente, pois (i) permitia o transporte de passageiros em pé e; (ii) operava com veículos do tipo urbano de três portas.

Continuar lendo

Plano Cicloviário de São Paulo vai para aprovação em audiências públicas

Depois de organizados 10 workshops onde uma centena de ciclistas se reuniu com técnicos da CET, SMT, colaboradores da Iniciativa Bloomberg (BIGRS) e os membros da Câmara Temática de Bicicleta , encontra-se em fase de sistematização e aprovação a nova versão do Plano Cicloviário de São Paulo, acessório ao Plano Municipal de Mobilidade Urbana — PlanMob/2015 . A cidade de São Paulo, que teve a expansão da infraestrutura de segurança cicloviária completamente suspensa pelo ex-prefeito João Dória, apesar de protestos , acena intenções de finalmente retomar a instalação de ciclovias e ciclofaixas, e de levar a sério o compromisso da Visão Zero reconhecido pelo Plano de Segurança Viária e o objetivo presente no Plano de Metas da gestão de reduzir de 7,07 para 6 mortes/100 mil habitantes.

Continuar lendo

Minhocão já poderia ter sido demolido, mas seguimos insistindo em premissas duvidosas

Contextualização A ideia de que a demolição do Minhocão (oficialmente Elevado Presidente João Goulart) provocará uma hecatombe em São Paulo é repetida por algumas pessoas sempre temas envolvendo o patético elevado ressurgem. A justificativa geralmente gira em torno das seguintes premissas duvidosas: (i) é preciso investir no transporte público primeiro; e (ii) é preciso investir no transporte individual primeiro, fornecendo pelo menos uma nova alternativa viária. Nada mais equivocado, como veremos neste artigo.

Continuar lendo

BikeSP e o Cartão Ciclista

Quem nunca experimentou, provavelmente tem uma certa preguiça de ir para o trabalho de bicicleta. Muitas vezes por nunca ter pensado na possibilidade ou simplesmente acreditar que o trajeto seja inviável. Mas quem faz seus deslocamentos para o trabalho de bicicleta geralmente começou com o apoio de outros ciclistas. É uma transição bem intimidante de se fazer sem nenhum incentivo. Legenda: Bicicletário de funcionários na Reitoria da Universidade Federal de São Paulo Como forma de estimular o uso da bicicleta como meio de transporte, em setembro de 2016, a gestão Haddad aprovou a Lei Nº 16.

Continuar lendo

Ciclovias compartilhadas

Legenda: Largo São Bento. Fotografia: Nicolas Le Roux Só pra explicar uma coisa sobre “ciclovias sobre calçada” que quase ninguém parece saber, nem mesmo o novo prefeito eleito. Pensei nisso porque esta foto é particularmente explicativa e me lembrou do assunto. É extraordinário o descaso generalizado com as calçadas de São Paulo. Por quê? Porque apesar de ser passeio público, desde um decreto-lei da década de 50 as calçadas são responsabilidade dos proprietários do lote lindeiro.

Continuar lendo

Por que é tão difícil discutir a mobilidade na região do Grande ABC?

Introdução Nos últimos meses a Linha 18-Bronze (Tamanduateí-Djalma Dutra), que tem tudo para ser mais uma PPP (parceria público-privada) fracassada, tem sido envolvida em discussões sobre mobilidade urbana que adotam as premissas erradas e, como não poderia deixar de ser, chegam a conclusões equivocadas ou até mesmo desonestas. Considerando que já travamos uma série de discussões na página, que temos vários membros que moram e/ou estudam e/ou trabalham em municípios do Grande ABC (também chamado de ABC Paulista, ABC, ABCD e ABCDMMR, embora a denominação oficial seja Sub-região Sudeste da Região Metropolitana de São Paulo) e que não seria de bom tom ignorar o que vem acontecendo, estamos publicando um artigo a respeito.

Continuar lendo

Nova Política Estadual de Mobilidade Metropolitana é praticamente inócua

Introdução Saiu no Diário Oficial do Estado de São Paulo e também no site oficial do governo estadual: está promulgada a Lei Nº 16.956, de 21 de março de 2019, que institui em poucas linhas uma política de mobilidade inócua, que a partir daquele mesmo dia passou a afetar a vida de milhões de pessoas. Aparentemente feita sob encomenda, considerando o teor da lei e também as declarações do secretário de transportes metropolitanos, Alexandre Baldy, a Política Estadual de Mobilidade Metropolitana (a partir de agora abreviada como PEMM) falha em estabelecer um marco regulatório robusto, com vistas à promoção da intersetorialidade, da racionalidade, do fortalecimento da Emplasa (Empresa Metropolitana de Planejamento Sociedade Anônima, responsável pelo planejamento de toda a Macrometrópole Paulista), evidenciando que se trata apenas de um conjunto de dispositivos que visam favorecer parcerias público-privadas (as famigeradas PPPs).

Continuar lendo

Vale-transporte em São Paulo sob ataque

As recentes alterações na política tarifária da capital paulista soam como verdadeiros ataques a uma classe trabalhadora cada vez mais precarizada. Bruno Covas e sua trupe anunciaram um decreto que contempla uma mudança no regime de integração do vale-transporte: 3 horas para embarcar em até dois ônibus, enquanto os outros bilhetes continuam permitindo o uso de até quatro ônibus durante 2 horas. Opto aqui por me abster de comentar as perfumarias para obtenção de receita tarifária que também foram incluídas no decreto, como a possibilidade de inclusão de publicidade nos cartões.

Continuar lendo

Vila Operária da Rua João Migliari

“There are two strong conquerors of the forgetfulness of men, Poetry and Architecture” “Há dois fortes conquistadores do esquecimento do Homem (pessoa): a Poesia e a Arquitetura.” John Ruskin, Seven Lamps of Architecture — The Lamp of Memory, 1849, (Capítulo VI, § II) Na noite de 20/02/2019, o Urbanista e Arquiteto, Lucas Chiconi, decidiu compartilhar sua indignação com relação da parcela mais influente do campo progressista e a relação desta com a Zona Leste da capital e pautas de cunho mais local.

Continuar lendo

Trens-bala podem facilitar o acesso à moradia?

Prólogo Recentemente o CityLab abordou algumas questões interessantes envolvendo o trem de alta velocidade que está sendo implantado na Califórnia, costa oeste dos Estados Unidos e, particularmente, uma delas se destacou a meu ver: a possibilidade de reduzir os custos habitacionais ao colocar um trem-bala em funcionamento. Antes de tratar do casamento entre trens rápidos e moradia mais acessível, faz-se necessário contextualizar brevemente a atual situação dos trens regionais, comumemente chamados de trens intercidades pela STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos) e pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitano).

Continuar lendo

Sobre assentos preferenciais, individualismo e falta de empatia

Transformar todos os assentos dos ônibus da SPTrans em preferenciais, eis o projeto de lei do vereador Ricardo Teixeira (PROS) que foi apresentado perante o Legislativo paulistano. O que chamou a atenção, no entanto, não foi a proposta. Os comentários negativos não foram poucos, alguns em tom de chacota ou depreciando a velhice alheia. Mesmo se nos restringirmos ao tipo de manifestação que foi feita na nossa fanpage, teve de tudo: compartilhamento com sarcasmo, usando a frase “pau no c* de quem trabalha”; gente dizendo que é melhor ter ônibus separado para os idosos, “eles que esperem o deles”; além do ceticismo impessoal: “se todos os assentos forem preferenciais, então mais nenhum é”, “todos vão fingir que estão dormindo”, “era pra ser assim sempre, mas não dá certo, vai sair briga”.

Continuar lendo

Estadão defende reajuste e opta por escamotear discussão envolvendo fontes de financiamento

Prólogo Em um editorial pouco surpreendente, o jornal O Estado de S. Paulo defendeu a postura do prefeito Bruno Covas, argumentando que o aumento da tarifa é uma decisão que “corresponde aos interesses dos paulistanos” e que houve “sensatez e realismo”. Para nossa infelicidade, o editorial não passa de uma sucessão de erros que reproduzem uma opinião rasa e pouco comprometida com o bem-estar dos passageiros e passageiras do transporte público.

Continuar lendo

Não há uma resposta simples para a mobilidade na Zona Leste de São Paulo

No último domingo, 06/01/2019, um leitor fez uma intrigante pergunta numa publicação do COMMU no Facebook: Será que algum dia o problema de mobilidade da ZL será resolvido? Outras áreas da cidade precisam de transporte rápido sobre trilhos e não dão a mesma atenção! Como mencionado em uma reportagem do Portal G1, a Zona Leste da capital “reúne quase 4 milhões de habitantes, mais do que países como o Uruguai, com 3,5 milhões”.

Continuar lendo

Reajustes tarifários recém-anunciados não estimulam discussões sobre fontes de financiamento

Introdução Sem delongas, gostaria de recuperar argumentos que foram publicados no passado e podem nos ajudar em mais um momento de contagem moedas e aperto no orçamento. Sei que a população já está reclamando dos reajustes, contudo, o papel do COMMU é formar consciência crítica. Sem consciência crítica o nível do debate não sobe e as reclamações perdem força muito rapidamente. O primeiro artigo que quero recuperar foi publicado pela sucursal brasileira do think tank WRI, intitulado “Além das tarifas: fontes alternativas para financiar um transporte coletivo de qualidade”, o artigo sumariza pontos de um evento que contou com a presença de dezenas de pessoas do setor de mobilidade urbana.

Continuar lendo